O deputado estadual Frederico D'Avila (PSL) propôs um ato solene na Assembleia Legislativa de São Paulo em memória de Augusto Pinochet, ditador do Chile entre 1973 e 1990.
Após forte reação negativa diante da homenagem sugerida e que foi marcada para o próximo dia 10, o presidente da Assembleia paulista, Cauê Macris (PSDB), disse na noite desta quarta (20) que vai barrar a iniciativa dentro da Casa.
Procurado pela reportagem, D'Avila afirmou por meio de nota que “o presidente Augusto Pinochet foi sem dúvida, o maior estadista sul-americano do século 20, haja visto o respeito que figuras como Margareth Thatcher e Ronald Reagan tinham por ele".
Balela! Pinochet não foi um grande estadista, e sim um ditador assassino. Que tenha deixado um legado econômico positivo é fato, mas não apaga o restante. Que tenha chegado ao poder após abusos golpistas de Salvador Allende, que destruiu a economia chilena e rasgou a Constituição, também é fato, mas igualmente incapaz de compensar o restante. Que a maioria dos mortos pelo seu regime tenha se dado numa guerra civil contra comunistas nos primeiros meses é outro dado da realidade, mas novamente: não anula os seus abusos como ditador por duas décadas.
Pode-se compreender o que levou o general ao poder, pode-se celebrar a escolha dos economistas de Chicago para tocar uma agenda reformista liberal, e é possível admitir que Pinochet não praticou o mesmo tipo de culto à personalidade de outros ditadores, como nos casos dos comunistas. Também é viável reconhecer que ele transferiu o poder sem derramamento de sangue. Mas foi um tirano, e isso basta para que não seja enaltecido, homenageado.
O que acontece, creio, é que certa direita fica revoltada com a hipocrisia e o duplo padrão da esquerda e de boa parte da mídia, com toda razão, e tenta partir para uma reação com o fígado. É como se no combate aos comunistas safados tudo valesse. São, nesse sentido, reacionários.
É como quando Bolsonaro citou o comandante Ustra no voto pelo impeachment de Dilma, logo após um deputado esquerdista enaltecer terroristas assassinos como Marighella. Compreendo a reação, que lança luz sobre a canalhice de quem condena um lado, mas sempre poupa o outro. Ocorre que não é agindo na mesma moeda que se enfrenta o adversário, e sim sendo superior a ele.
Homenagear Pinochet é um erro, ponto. Homenagear figuras abjetas da esquerda radical, como vive acontecendo, é outro erro, algo asqueroso, nojento. Mas dois erros não fazem um acerto! Não é se tornando cada vez mais parecido com o inimigo que se pretende derrotar que se vence a guerra cultural. Martim Vasques da Cunha resumiu bem:
A direita brazuca é de uma estupidez assombrosa. Em vez de Winston Churchill, preferem homenagear Augusto Pinochet. Em vez da "guerra das palavras", que se vence pela persuasão, escolheram a "guerra cultural" e o revanchismo alimentado pelo Estado. Engolfada pelo bolsolavismo, a nossa direita lava as mãos no caso Pinochet. No passado, a esquerda se tornou tão indistinta que JB a colocou numa única cesta de ovos. A direita brazuca comete o mesmo erro. Quando a esquerda voltar ao poder, o destino dessa gente será o paredão.
Juliana tocou no cerne da questão:
A esquerda que esperneia com essa tentativa de homenagem não tem moral alguma para criticar mesmo. Mas nós temos! Eis o ponto. Nós, liberais clássicos, conservadores e moderados em geral, que sempre repudiamos as homenagens esquerdistas a tiranos assassinos, temos não só o direito, mas o dever moral de condenar homenagens a tiranos pela suposta direita também. É preciso manter a coerência, justamente para não perder a moral na hora de apontar o dedo para os canalhas hipócritas da esquerda.
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