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O Ibovespa superou os 109 mil pontos pela primeira vez na história neste início de semana com leilão do pré-sal, expectativa com anúncio de medidas da equipe econômica e um passo à frente nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Todas as blue chips apoiam a valorização do principal indicador da Bolsa brasileira, especialmente a Petrobrás e a Vale, que ignora a queda do minério de ferro e se atém à retomada da operação de algumas de suas minas.

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Esses são mais pretextos conjunturais do que causas reais, porém. Por trás da valorização da bolsa está uma revolução dos juros, o que poderá levar à eutanásia do rentismo no Brasil, forçando investidores a buscar alternativas mais arriscadas e atreladas ao setor real. Ao contrário do que aconteceu na era Dilma, dessa vez há fundamento econômico por trás da queda dos juros. Não foi marretada voluntarista como no governo petista. A inflação segue contida.

Como disse o economista-chefe do banco Itaú, Mario Mesquita, o país passa por mudanças estruturais, graças às reformas que reduzem os gastos públicos e a dependência do estado. "Um Estado em que os gastos não crescem mais como vinham crescendo e sem aquela política de crédito subsidiado do BNDES trouxe para baixo a taxa de juros neutra, que não acelera nem desacelera a inflação", explicou. "Então, é uma mudança bastante intensa na forma de funcionar da economia brasileira, que está se tornando menos dependente do Estado e mais sensível à política monetária", acrescentou.

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Para ser realmente sustentável, essa trajetória depende da continuidade das reformas. O governo sabe disso, e o ministro Paulo Guedes deve apresentar essa semana seu projeto de ampla reforma do estado, calcada em três PECs: a PEC Mais Brasil, que Guedes chama de pacto federativo e que traz um novo regime fiscal e propõe a soma do gasto obrigatório com saúde e educação; a PEC da emergência fiscal, que institui gatilhos para conter gastos públicos em caso de crise financeira na União, estados e municípios; e a PEC dos fundos, que revê 281 fundos públicos.

A palavra-chave é descentralização, tanto de recursos como de poder. Conter o crescimento dos gastos públicos é uma prioridade nesse aspecto. "O país tem uma lei de responsabilidade fiscal que ninguém cumpre, então, queremos que os responsáveis pelos principais Poderes estejam em contato com essa realidade", disse Guedes.

Os efeitos desse clima favorável já começam a ser sentidos. O mercado imobiliário, por exemplo, pode estar perto de uma retomada vigorosa. De julho para cá, seis construtoras e incorporadoras captaram R$ 3,8 bilhões em novas ofertas de ações para colocar o pé no acelerador em seus projetos residenciais e comerciais. Com a queda dos juros – a taxa Selic atingiu 5% ao ano na última semana – e o maior interesse de investidores no setor, a expectativa é de que as captações possam dobrar nos próximos meses, já que outros grupos se preparam para ir à Bolsa.

Esse é um cenário positivo e fruto das mudanças estruturais em curso. A reforma previdenciária foi a grande conquista até aqui, mas é insuficiente. O inimigo - o estado hipertrofiado - foi cercado, mas está longe de ter sido derrotado. Com a continuidade da agenda reformista isso pode se tornar uma realidade.

Privatizações, mais abertura comercial, menos burocracia, simplificação tributária, flexibilidade no mercado de trabalho: o ministro Guedes tem o diagnóstico acurado dos nossos males e uma receita boa. Se ele tiver o apoio necessário, o Brasil muda pra valer. E não parecerá maluquice de Poliana ou chamada de vendedor agressivo falar em Ibovespa a 200 mil pontos nos próximos anos...

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