Por Percival Puggina
“Panta rei” - tudo flui -, afirmava o filósofo Heráclito, no séc. V a.C. Essa antiga idéia, segundo a qual a evolução é regra universal e irrestrita, foi firmando parceria com uma outra, segundo a qual tudo caminha no sentido da perfeição. Esse pacote de crenças está muito presente na cultura contemporânea. A maior parte das pessoas acredita piamente nela. Que tudo muda é verdade, não é certo, porém, que toda mudança implique evolução e aperfeiçoamento.
No século passado, o evolucionismo recebeu dois importantes reforços através de Herbert Spencer e de Charles Darwin. O primeiro expôs uma teoria segundo a qual a evolução é uma passagem do simples ao complexo, do menos ao mais coerente; o segundo deu-lhe a conhecida dimensão biológica: a sobrevivência e o desenvolvimento dos indivíduos são determinados por sua capacidade evolutiva e de adaptação ao ambiente.
Não consegui localizar o ponto exato em que o evolucionismo se associou à tese do “constante aperfeiçoamento das coisas”, mas aconteceu aí um abuso semelhante ao que os modernos relativistas cometeram com a teoria física da relatividade. Assim como o que era físico ganhou uma descabida dimensão “moral” (o relativismo), “mudança” passou a ser sinônimo de “aperfeiçoamento”.
E daí? E daí decorre um monte de absurdos. Tudo que é antigo é imperfeito e tudo que é moderno é perfeito; o que muda evolui e o que permanece involui; tudo que se faz hoje supera o que se fazia ontem. Vive-se sob o império da moda: o jovem é bonito e sábio; o velho é feio e burro. Essa curiosa associação de novidade com qualidade produz uma espécie de iconoclastia de fraldas à qual nada antigo resiste.
A começar pelo amor – coisa antiga demais – que se esgota na curtição recíproca, não implica laços nem o respeito indispensável à relação entre as pessoas. Como estabelecer, por exemplo, a supremacia do novo sobre o antigo nas relações entre pais e filhos, entre alunos e professores?
Poucas coisas tão antigas e, portanto, tão “superadas” quanto a instituição familiar. Desencadeou-se contra ela um furioso ataque. Afrouxaram seus elos; abriram-na e desoneraram seus membros de maiores deveres; por fim, cumpriu-se a tarefa de desorientá-la com ideias que são droga e drogas que turvam a mente. Tudo moderno, bom e politicamente corretíssimo. Aliás – quer passar por panaca? – defenda coisas tão absurdas quanto religião, família e valores.
Congresso mantém queda de braço com STF e ameaça pacote do governo
Deputados contestam Lewandowski e lançam frente pela liberdade de expressão
Marcel van Hattem desafia: Polícia Federal não o prendeu por falta de coragem? Assista ao Sem Rodeios
Moraes proíbe entrega de dados de prontuários de aborto ao Cremesp
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS