Implicância ideológica

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Brasil e Argentina precisam negociar, manter uma relação diplomática. Afinal, o vizinho é nosso terceiro maior parceiro comercial. Não dá para evitar. Mesmo que a Argentina vire um inferno, teremos de lidar com o Capeta com um mínimo de pragmatismo.

Dito isso, é importante deixar claro que há um abismo entre os dois governos em termos de valores e princípios. O atual governo argentino é do Foro de São Paulo, que alimenta uma visão antidemocrática, socialista. Muitos jornalistas, porém, cobram "pragmatismo" puro nessa hora, como se em nada importasse esse elo ideológico. Foi o caso do colunista da Folha:

"Implicância ideológica": eis como alguns jornalistas chamam a oposição ao peronismo, petismo, Foro de SP, socialismo, em suma, a essa corja que destruiu a América Latina. Não sei quanto ao leitor, mas eu tenho "implicância ideológica" contra o nazismo, por exemplo. Será que os jornalistas usariam a mesma tática nesse caso: "Ei, não seja um implicante, é preciso ser pragmático com esses nazistas simpáticos..."

O que fica claro é que a imensa maioria dos jornalistas tem mesmo inclinação à esquerda, viés "progressista" e nutre simpatia pelo socialismo. Os mesmos que têm enorme implicância com Bolsonaro e com o conservadorismo falam em "implicância ideológica" quando se trata do esquerdismo radical.

Essa dialética, esse duplo padrão, fica claro quando o assunto é Venezuela também. Se Trump ou Bolsonaro falam algo, "ai, e a autodeterminação dos povos, isso é intervenção estrangeira em assuntos domésticos". Se Putin manda militares para ajudar na ditadura socialista de Maduro, silêncio...

Cerca de 40 militares russos chegaram na terça-feira (10) ao Parque Nacional Canaima, na Venezuela, alguns vestidos com uniformes da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB), de acordo com a jornalista venezuelana Mariana Reyes, que divulgou fotos da chegada dos militares em redes sociais.

Os soldados chegaram à Venezuela a bordo de um avião Shaanxi Y-8, fabricado pela China. Eles transportaram equipamentos micro-ondas, antenas de satélite, inibidores de sinal, entre outros, segundo a jornalista. "As autoridades dizem à população que o contingente vem fazer um estudo do espaço aéreo, já que o estado venezuelano não conta com a tecnologia de enfrentar a ameaça do envio de 'drones americanos' ao sul do país", disse Reyes.

"Há preocupação e nervosismo entre os moradores porque não está claro qual o motivo da presença russa e enfrentam a proibição de fazer fotos e vídeos", acrescentou."

O nervosismo e a preocupação são legítimos, mas está claro o motivo sim: os russos querem manter a ditadura venezuelana, pois são comparsas e estão de olho no petróleo. Mas esse "imperialismo" não incomoda tanto os jornalistas; já se Trump e Bolsonaro falarem de "intervenção" para resgatar a democracia, aí o mundo vem abaixo. Hipocrisia? Viés ideológico?

Mas a implicância ideológica é só contra a esquerda radical, lembre-se disso...

Rodrigo Constantino

Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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