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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Independência do Brasil, uma obra contrarrevolucionária

Por Carlos Junior, publicado pelo Instituto Liberal

Dentre tantos acontecimentos históricos que marcaram a trajetória brasileira, a independência em 1822 é sem sombra de dúvidas o mais emblemático. Ao mesmo tempo, é também o mais mal contado, com uma omissão de detalhes e fatos importantíssimos para uma compreensão verdadeira do acontecimento. Faço aqui algumas breves considerações em uma espécie de ajuda a fim de lançar luz em uma escuridão permanente.

A primeira coisa a ter em mente é o contexto histórico do momento em questão. Era a época da Revolução Francesa, da efervescência do iluminismo, dos direitos do homem e dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Os revolucionários franceses queriam jogar na lata de lixo da história tudo o que definia o homem e a sua natureza. A guilhotina não passou apenas no pescoço de suas vítimas; passou também nas tradições, no Cristianismo, nos costumes e nas grandes biografias heroicas. A ideia era descartar a natureza humana e a ordem das coisas de então, derrubar intelectualmente e politicamente a classe política nobre e o clero católico.

O fenômeno revolucionário despertou o temor das monarquias europeias, uma vez que as ideias iluministas poderiam tomar toda a Europa e fazer os regimes de então irem abaixo. Com isso, começa uma guerra entre a união militar dessas monarquias, a Santa Aliança e o exército revolucionário francês. O último consegue vitórias excepcionais e faz surgir a figura de Napoleão Bonaparte. Com seu ideal expansionista, toma toda a Europa, exceto dois países: Inglaterra e Portugal. Para derrotar o primeiro, pressionou o segundo. Dom João, o príncipe regente, teria que escolher de qual lado ia ficar com a difícil missão de proteger um reino pobre e em profunda decadência. Preferiu o lado inglês, que lhe garantiu proteção para sua escolha: ir para o Brasil e levar a corte do Império para a cidade do Rio de Janeiro.

Dom João VI chega no Brasil e promove uma série de transformações: fábricas, bancos, jornais, moeda, escolas, tribunais… Uma série de coisas não existentes passariam agora a ter vida no país. Não por acaso, ele é considerado o pai da nacionalidade brasileira, pois ele trouxe novos e reforçou antigos fundamentos do legado português em solo americano. Tanto que, em 1815, Dom João VI estabelece o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves – em uma manobra também orquestrada pelo chanceler francês Talleyrand.

Passada a guerra napoleônica, os portugueses esperavam a volta de Dom João VI e da família real. Porém, o rei via seu futuro no Brasil e não era de sua vontade o regresso a Portugal. Com a recusa da volta do rei e a subjugação portuguesa à Inglaterra, completou-se o clima de insatisfação que fez gerar-se a dita Revolução Liberal do Porto – liberal em um sentido francês, não no clássico inglês.

A ideia dos revolucionários portugueses era mais ou menos esta: exigir a volta de Dom João VI com a corte real, fundar uma Assembleia Nacional Constituinte, fazer uma nova Constituição e obrigar o rei a assiná-la. Quanto ao Brasil, a intenção era de rebaixá-lo ao status anterior, quebrar as províncias brasileiras e unificar esse emaranhado em um centro português, no caso Lisboa.

Vejam: fundação de Assembleia Nacional Constituinte, nova Constituição, subjugação do rei… Era um roteiro semelhante à Revolução Francesa – um roteiro muito bem conhecido. Dom João VI não podia arriscar sua coroa e condenar Portugal a um banho de sangue, uma vez que sua presença era essencial para a garantia da estabilidade no país. Com isso em mente, ele voltou em 1821, mas deixou seu filho Pedro de Alcântara como príncipe regente do Brasil e com isso a manter ambos os países sob a Casa de Bragança.

Na chegada, as cortes revolucionárias ficaram possessas com o fato de o príncipe ter ficado no Brasil como regente. Pressionaram então pelo retorno de Dom Pedro, ao mesmo tempo em que o povo brasileiro pressionava por sua permanência. De início, a ruptura com Portugal não era vislumbrada. José Bonifácio, o pai fundador do Brasil e ministro de Dom Pedro, vislumbrava a permanência do país no Reino Unido com Portugal.

Porém, a vontade estúpida das cortes portuguesas em subjugar o Brasil e desconectar seu imenso território era maior. Bonifácio e a imperatriz Leopoldina, esposa de Dom Pedro, perceberam o óbvio: a materialização da vontade das cortes significaria na prática a quebra do Brasil em republiquetas hostis, fato que iria provocar tragédias imensuráveis. Ao convencerem Dom Pedro a ficar, preparam o caminho para nossa independência. O Dia do Fico foi a atitude corajosa de um futuro monarca e soberano de um nascente país.

A independência foi consumada em 7 de setembro de 1822, com a carta de José Bonifácio a Dom Pedro – esta recomendava a separação definitiva do Brasil com Portugal. Produto de sábia solução orquestrada por nosso pai fundador José Bonifácio, nossa imperatriz Leopoldina e nosso corajoso Dom Pedro I, foi um ato de bravura e perfeito diagnóstico da presente situação.

Foi também uma obra contrarrevolucionária. Aconteceu com o peso da Revolução Francesa e da Revolução Liberal do Porto, mas também evitou futuras revoluções no país – caso o desejo das cortes portuguesas fosse cumprido. A independência brasileira mais parece com a dos Estados Unidos: o filho que se torna maior que o pai e que tem horror a revoluções.

Referências:

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