O Index Librorum Prohibitorum, ou Índice dos Livros Proibidos, era uma lista de publicações consideradas heréticas, anticlericais ou lascivas e proibidas pela Igreja Católica. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559 e uma versão revista desse foi autorizada pelo Concílio de Trento. A última edição do índice foi publicada em 1948 e o Index só foi abolido pela Igreja Católica em 1966 pelo Papa Paulo VI. Nessa lista estavam livros que iam contra os dogmas da Igreja e que continham conteúdo tido como impróprio. Hoje vivemos sob a Inquisição dos "progressistas".
O agravante é que a censura secular moderna vem embalada de "ciência" e de "tolerância", sendo que se mostra bem mais extremista do que aquela medieval católica. Plataformas que cresceram por se venderem como ambientes neutros, e que por isso tiveram outro tipo de regulação, hoje adotam um Índice de Termos Proibidos, punindo que ousar desafiar o status quo ou a "verdade" decretada de cima para baixo por uma minoria "iluminada". As redes sociais são as praças públicas modernas, mas elas são controladas por esquerdistas e globalistas que, na prática, não demonstram qualquer apreço pela pluralidade de ideias.
A mídia mainstream tem uma quase hegemonia "progressista" há décadas, e as redes sociais furaram essa bolha. Mas claro que haveria reação. Como essas Big Techs são comandadas por simpatizantes dessa visão "progressista", os "jornalistas" passaram a pressionar as redes para que filtrassem conteúdo "perigoso", combatessem "fake news" e "discurso de ódio". Na prática, isso tem significado perseguição escancarada a conservadores e a todos que se recusam a dizer Amém (ou Awoman) para as "verdades" fabricadas pela própria imprensa ou instituições globalistas.
Cada vez mais páginas que desafiam essa narrativa única são punidas, têm seus conteúdos censurados, banidos, e suas opções de monetização canceladas. Não é de hoje e os conservadores americanos, que sofreram como alvos antes, já denunciam o fenômeno há anos. Mas com a pandemia a coisa realmente cresceu de forma assustadora e perderam qualquer pudor em tentar esconder o ambiente de censura.
No Youtube, eu mesmo fiquei de "castigo", tomando dois "ganchos" e ficando duas semanas sem poder postar qualquer conteúdo, só por questionar as diretrizes da OMS nessa pandemia. Eis a "política" deles, que recebi no aviso:
O YouTube não permite conteúdo que contesta explicitamente a eficácia das orientações das autoridades de saúde locais ou da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o distanciamento social e o auto-isolamento que podem levar as pessoas a agir contra essa orientação.
No Facebook, por usar um trecho de menos de um minuto do Felipe Neto para expor sua hipocrisia, numa "live" de mais de uma hora, a plataforma considerou que houve desrespeito aos direitos autorais, como se eu estivesse usando vídeo de terceiros para ganhar sem autorização, sendo que claramente não se tratava disso.
Cada formador de opinião mais à direita, e que se recusa a aderir a essa histeria midiática, terá vários exemplos para dar. Uma página conservadora teve uma postagem retirada só por mostrar estudos que atestam a eficácia de tratamento preventivo. Ou aceitamos que a OMS é uma espécie de Deus, ou seremos punidos, eis a constatação. Não posso mais sequer mencionar a Organização Mundial de Saúde nas minhas "lives", caso contrário serei suspenso, um canal com praticamente meio milhão de seguidores. Vou chamar de Orquestra Mundial do Socialismo, para ver se passa pela censura. Pai, afaste de mim esse cale-se!
Essas "plataformas" viraram instrumentos dos "progressistas", eis a verdade. Alguns acham que a solução é fugir para um Parler, mas eis o problema: a crescente segregação só interessa à esquerda. Nós queremos o embate de ideias! Nós desejamos a verdadeira pluralidade! Eles, que não vivem da verdade, preferem a divisão tribal, pois assim os independentes e neutros não entram mais em contato com o contraditório. Claro que novas plataformas vão surgir e a competição é a melhor resposta. Mas só "libertário" boboca repete que são empresas privadas e por isso fazem o que bem entendem, esquecendo que deveriam ser plataformas neutras. Ou vamos aceitar operadoras de telefonia decidindo o que pode ou não ser dito pelo telefone agora?!
Em Areopagítica, seu discurso pela liberdade de imprensa ao Parlamento, John Milton iria apresentar argumentos liberais contra a censura prévia. Publicada em 1644, a obra-prima do poeta seria escrita no contexto de batalha parlamentar, já que o líder da Assembléia, Herbert Palmer, havia exigido que um livro de Milton em defesa do direito de divórcio fosse queimado. Para Milton, a censura sempre esteve associada à tirania, e mais recentemente seria fruto do reacionarismo católico do Concílio de Trento e da Inquisição. Ele foi direto ao afirmar que o “projeto de censura surgiu sub-repticiamente da Inquisição”.
Milton defendia que cada um pudesse julgar por conta própria o que é bom ou ruim. “Todo homem maduro pode e deve exercer seu próprio critério”, ele escreveu. Ele diz ainda: “O conhecimento não pode corromper, nem, por conseguinte, os livros, se a vontade e a consciência não se corromperem”. Para ele, todas as opiniões são de grande serviço e ajuda na obtenção da verdade. Os homens não devem, portanto, ser tratados como idiotas que necessitam da tutela de alguém.
Desconfiar das pessoas comuns, censurando sua leitura, “corresponde a passar-lhes um atestado de ignomínia”, considerando que elas seriam tão debilitadas que “não seriam capazes de engolir o que quer que fosse a não ser pelo tubo de um censor”. Para Milton, ao contrário, cada um tem a razão, e isso significa a liberdade de escolher. O desejo de aprender necessita da discussão, da troca de opiniões. A censura, então, “obstrui e retarda a importação da nossa mais rica mercadoria, a verdade”.
Mais tarde, John Stuart Mill iria na mesma linha em seu clássico On Liberty:
Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a humanidade. Se a opinião é correta, privam-nos da oportunidade de trocar o erro pela verdade; se errada, perdem, o que importa em benefício quase tão grande, a percepção mais clara da verdade, produzida por sua colisão com o erro. Todo silêncio que se impõe à discussão equivale à presunção de infalibilidade. Há uma enorme diferença entre presumir uma opinião como verdadeira porque, apesar de todas as oportunidades para contestá-la, ela não foi refutada, e pressupor sua verdade com o propósito de não permitir sua refutação.
O único modo pelo qual é possível a um ser humano tentar aproximar-se de um conhecimento completo acerca de um assunto é ouvindo o que podem dizer sobre isso pessoas de grande variedade de opiniões, e estudando todos os aspectos em que o podem considerar os espíritos de todas as naturezas. O hábito constante de corrigir e completar a própria opinião cotejando-a com a de outros, longe de gerar dúvidas e hesitações ao pô-la em prática, constitui o único fundamento estável para que nela se tenha justa confiança. A verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade. Se quiséssemos saber se é ou não desejável crer numa proposição, seria possível excluir a consideração sobre ser ou não verdadeira? Na opinião, não dos maus, mas dos melhores, nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil.
A posição "progressista" não é uma de força, de convicção genuína, de quem acredita de fato estar do lado da verdade e da ciência. Se fosse, não seria preciso apelar tanto para a censura, a perseguição, a intimidação. Essa postura arrogante e autoritária vem da fraqueza, da insegurança, de quem sabe, no fundo, defender algo sem o devido respaldo científico. Daí a necessidade de calar o outro, de impedir o debate, de interditar o diálogo. Na Idade Média o sujeito podia ser até queimado por desafiar a censura; hoje somos "cancelados", perdemos o direito de usar as plataformas ou de monetizar nosso conteúdo. Tentam asfixiar nossa própria existência, tal como os fascistas faziam. E tudo em nome da ciência e do nosso próprio bem, claro...
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