Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
Qualquer sucesso depende da capacidade de calcular reações diante situações adversas. Os psicólogos chamam isso de inteligência emocional. Sem ela, perdemos clientes e parceiros, afastamos amigos ou nos tornamos vilões em situações onde éramos vítimas. Falar tudo o que vem à cabeça representa uma sinceridade burra. Uma sinceridade que Jair e Eduardo Bolsonaro precisam controlar.
Com frequência os dois reagem a provocações e a certas situações como se fossem cidadãos comuns, numa mesa de bar, conversando com amigos de infância, depois de algumas cervejas. Isso está sendo desastroso, pois a política é feita mais de palavras do que de resultados.
Jair e Eduardo Bolsonaro deveriam entender a regrinha básica da política: “não importa o que você é; o importante é o que as pessoas pensam que você é”.
Pai e filho representam o governo. Qualquer besteira dita por um deles repercute como “Bolsonaro disse…”, o que afeta o governo como um todo, corroendo sua imagem, minando seu poder político, afastando aliados e alimentando a antipatia entre apoiadores e eleitores.
Na semana passada, Eduardo Bolsonaro protagonizou o exemplo perfeito.
A verdade sobre o golpe da Globo ainda bombava nas redes sociais, com a família Bolsonaro posicionada como vítima. Ele, então, deixou fluir sua sinceridade ao dizer que, se a esquerda se radicalizar, o governo presidido pelo pai poderia decretar um novo AI5.
O que Eduardo Bolsonaro pensou que estava construindo com sua sinceridade?
Esse é o problema dos dois. Pai e filho não entendem a responsabilidade institucional que têm. Desconhecem o peso das palavras que utilizam. São indiferentes ao uso que os opositores podem fazer delas.
Eduardo Bolsonaro tinha dezenas de formas de dizer que o governo reagiria com firmeza contra ondas de vandalizações, mas, por falta de inteligência emocional, preferiu dar uma “lacrada à direita” que só agrada uma pequena minoria de bolsonaristas fanáticos.
Sim, o governo de Jair Bolsonaro já está apresentando resultados muito positivos: menor Risco Brasil desde 2013, menor Selic da história, menor inflação desde 1998, redução de 22% no número de assassinatos, aumento do índice de emprego, assinatura de acordos comerciais com as maiores economias do mundo, reforma da previdência, desburocratização de alguns setores, extinção de impostos para remédios contra câncer e AIDS e, depois de uma queda de 8% do PIB nos últimos anos do governo Dilma, o Brasil já tem projeção de crescimento positivo. Porém, muito disso é ofuscado por declarações inconsequentes.
Ao dizer que Jair e Eduardo Bolsonaro não têm inteligência emocional, não os estou chamando de burros. Estou apenas dizendo que, pelos cargos que ocupam, eles precisam ser instruídos sobre como se comportar diante de situações inesperados ou desagradáveis, algo muito utilizado por empresários e por funcionários que lidam diretamente com o público.
Ainda em campanha eleitoral, Jair Bolsonaro teve a humildade de reconhecer que não entende de economia. Por isso, deixou a área para quem sabe. Obrigado! Então, o que falta para ele reconhecer que precisa de uma assessoria para lhe instruir sobre como reagir de forma serena e construtiva às provocações e situações adversas que serão cada vez mais comuns?
Na psicologia, existe um conceito chamado “resposta social”, que é um tipo de resposta que damos às pessoas que tentam nos desmoralizar em público. Respostas que desmontam o provocador e trazem o público para o nosso lado. Jair e Eduardo Bolsonaro precisam ser instruídos nisso. Precisam entender que, seja lá o que fizerem de bom para o país, nunca terão o apoio da imprensa. Não serão seus bons feitos que preencherão as manchetes dos jornais. Serão suas frases; e se elas continuarem a ser rudes e vexaminosas, alimentarão cada vez mais a rede de desinformação da esquerda, que vai moldando a opinião das massas. A queda na popularidade pessoal leva à queda do apoio ao governo dentro do Congresso, o que inviabiliza a aprovação de reformas ou torna o presidente refém de todo tipo de chantagem.
Calcular as palavras não é se pautar pela esquerda ou pelo “politicamente correto”, é catalisar todas as situações em seu favor, não em seu prejuízo.
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