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Janela de Overton e o “centro” esquerdista
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Há poucos anos, falar em privatização geral era coisa de um animal exótico, um "neoliberal" esquisito, que atraía mais olhares curiosos em praça pública do que um transformista nu dançando funk.

Sei disso pois publiquei Privatize Já tem sete anos, e parecia que eu estava pregando no deserto. Hoje temos um ministro liberal falando em privatizar tudo, com um secretário de Desestatização que está doido para ter o aval do presidente nesse sentido. O que mudou?

Em parte foi tudo graças ao escândalo de corrupção nas estatais durante o governo petista, sem dúvida. E o ponto interessante é que muitos "formadores de opinião", que me acusariam ou acusaram de "radical" antes, hoje até elogiam Paulo Guedes, ainda que para fazer uma média e se sentirem mais livres para detonar o presidente Bolsonaro, que odeiam.

O que podemos afirmar, portanto, é que a Janela de Overton se moveu um pouco mais para a direita. O que antes era inaceitável no debate público, agora é visto com maior normalidade. Eis a definição do conceito, segundo o Wikipedia mesmo:

A janela de Overton, também conhecida como janela do discurso, descreve a gama de ideias toleradas no discurso público. O termo é derivado de seu criador, Joseph P. Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, no Michigan, Estados Unidos, que, em sua descrição da janela, afirmou que a viabilidade política de uma ideia depende principalmente dela cair dentro da janela, ao invés das preferências individuais dos políticos. De acordo com a descrição de Overton, sua janela inclui uma gama de políticas consideradas politicamente aceitáveis no clima atual da opinião pública, que um político pode recomendar sem ser considerado excessivamente extremo para obter ou manter cargos públicos.

A esquerda, quase hegemônica na política nacional desde a redemocratização, havia jogado a Janela de Overton lá para a esquerda, e defender coisas básicas do liberalismo ou do conservadorismo era sinônimo de ser visto como um bicho esquisito no Brasil. Mas as redes sociais mudaram isso, e a imprensa precisa se adaptar. Mais liberais e conservadores foram contratados como comentaristas, e há maior pluralismo hoje nos principais veículos de comunicação.

Mas a turma resiste. E a tática é bem simples: forçar a Janela de Overton para a esquerda novamente, eliminar o conservador do mapa e dar legitimidade aos radicais socialistas. Basta pensar que nunca vemos o uso do termo "extrema esquerda" na mídia, nem mesmo quando se trata de figuras como Boulos, defensores da ditadura cubana, do regime nefasto de Maduro. São apenas "esquerda". Por outro lado, basta estar à direita dos tucanos para ser "ultraconservador" ou "extrema direita".

A tática pode ser melhor ilustrada com base no programa GloboNews Política deste domingo, com apresentação de Gerson Camarotti. O canal convidou um bolsonarista (Major Vitor Hugo), um petista (José Guimarães) e um "neutro", o ex-senador Cristovam Buarque. O tema era justamente a polarização na política. O que essa configuração faz, de largada? Dá legitimidade ao PT, uma quadrilha corrupta e golpista que passa a ser tratada como outro partido qualquer, normal e democrático, e coloca como centro moderado um esquerdista que foi ministro do Lula.

Cristovam Buarque, de fato, é alguém moderado, para um esquerdista. Ele é um representante da esquerda moderada, alguém de centro-esquerda. Só não é o tal centro! Ou seja, a tática é colocar a esquerda como se fosse centro, e qualquer um à direita como sendo "radical". Por que o "meio termo" não foi alguém como Joice Hasselmann, por exemplo? Ou João Doria?

Os mesmos que falam tanto da polarização entre extremos, o que já iguala de forma totalmente injusta petismo e bolsonarismo (há traços semelhantes na postura de uma ala radical bolsonarista, mas é inaceitável comparar um bandido golpista com o atual presidente), apresentam como opção "neutra", ao "centro", figuras de esquerda como Marina Silva ou Luciano Huck.

O desespero é tanto que já tentam pintar até um ultrarradical de esquerda como Ciro Gomes como um moderado de centro, uma suposta alternativa a essa polarização entre Lula e Bolsonaro, como se Ciro não fosse basicamente um Lula com nova roupagem...

É a Janela de Overton em ação, tentando transformar o "centro" em esquerda novamente. Mas estamos atentos. Aprendemos o truque, e temos as redes sociais agora. Não vai rolar...

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