Em seu livro de memórias, o ex-PGR Rodrigo Janot fala da dificuldade de cumprir decisão do STF que levaria José Genuino à prisão. O petista era "um ídolo" para Janot, que aproveita para falar de seu passado revolucionário. Eis um trecho:
Como fazia oposição ao “sistema”, eu era de esquerda, mas não tinha filiação a partidos ou correntes. Lia Marx e Engels e, como era moda na época, usava cabelo comprido, camisetas com a estampa de Che Guevara e bolsas jeans que carregava a tiracolo. Participava também de passeatas na rua, em que os confrontos com a Polícia Militar e grupos de apoio à ditadura eram frequentes. Mas nosso movimento não tinha qualquer organização, estrutura ou planejamento. Era quase brincadeira de criança. Quando a coisa esquentava e acavalaria da PM aparecia, corríamos para a escola e empilhávamos as mesas e as cadeiras das salas de aula nas escadas da faculdade, como se fossem barricadas. Outra tática era usar bolinhas de gude e rolhas para derrubar os cavalos.
[...] A maior parte dos meus colegas optou por ir para a Justiça do Trabalho, por achar que era o caminho para uma transformação mais rápida do “sistema”.
[...] O pedido de prisão do Genoíno foi o primeiro momento doloroso na minha passagem pela Procuradoria-Geral em que o dever teve que se sobrepor ao coração. Mas não foi o único. Ao longo da minha trajetória, eu me vi, algumas outras vezes, tendo que tomar decisões duras, contrárias a sentimentos pessoais. Mas ainda hoje julgo que não poderia ter sido diferente. O fiscal-chefe da lei não pode tergiversar, nem mesmo com os sentimentos. A lei é a lei. E, como diria sabiamente meu bom e velho amigo Sepúlveda Pertence, “a cadeira de procurador-geral é a segunda mais difícil da República, perdendo apenas para a de presidente”.
Primeiro, o leitor é livre para acreditar que alguém emotivo a ponto de ir armado para o STF pronto para assassinar um ministro, como o próprio Janot confessou ter feito, realmente deixou seu coração de lado para aplicar estritamente a lei ao longo de seu trabalho à frente da PRG. Peço vênia para suspeitar que não foi bem assim, e que algumas decisões, como aquela que preparou uma arapuca para o então presidente Michel Temer e interrompeu a reforma previdenciária em curso, tiveram maior ligação com sua paixão esquerdista.
Em segundo lugar, é interessante ver a estratégia gramscista confessada. Os colegas comunistas, após desistirem da luta armada, convenceram-se de que era preciso mudar o "sistema" de dentro. A Justiça do Trabalho é mesmo um bom exemplo, pois virou um antro marxista que condena empresários mesmo sem embasamento, só para fazer "justiça social". E sabemos que alguns desses revolucionários chegaram até o STF e à Procuradoria-Geral da República. Como as instituições republicanas podem aguentar uma coisa dessas?
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião