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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Jordan Peterson e o ressentimento marxista de Caim

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Assisti a uma palestra ao vivo de Jordan Peterson pela primeira vez nesta quinta. O psicólogo canadense está num tour global faz tempo, e a cada noite de palestra ele improvisa um tema. Fala por quase duas horas sem parar, circulando pelo palco, sem script. O tema desta noite foi o ressentimento em Caim e sua traição a Abel, a si mesmo e a Deus.

Antes, um breve parêntese: o fenômeno em si é incrível. Deveriam ter no estádio perto aqui de casa umas seis mil pessoas. Normalmente o espaço é utilizado para jogos de hóquei e para concertos de rock. Não deixa de ser impressionante um pensador com viés conservador ter virado celebridade dessa forma. É alvissareiro.

Mas volto ao conteúdo da fala. Peterson brincou que arrumou duas novas confusões nos últimos dias: uma com o Senado americano e outra com o papa. No caso do Senado, ele foi convidado para falar sobre Inteligência Artificial, mas os democratas resolveram cancelar o convite e mentir sobre isso. A cara da esquerda. Já o papa defendeu o empenho de cada cristão na "justiça social", e foi o gancho para Peterson falar sobre Caim e Abel.

Jordan Peterson é especialista em totalitarismo e um estudioso da Bíblia, traçando paralelos com mitologia e arquétipos de heróis. Para ele, as históricas bíblicas apresentam possíveis interpretações distintas, que podem ser percebidas como metáforas para brigas internas nossas, ou com adversários externos. No caso de Caim e Abel, o ressentimento parece ser o tema central.

Ambos oferecem sacrifícios a Deus. Sacrifício e trabalho são basicamente sinônimos na Bíblia, já que Adão e Eva foram punidos, expulsos do Éden pelo pecado do orgulho e acabaram condenados a trabalhar para sobreviver. Ou seja, era o fim da abundância do Paraíso e o confronto com a realidade da escassez, onde é preciso abrir mão de algo no presente para desfrutar de algo no futuro.

Você sacrifica um prazer imediato para ter mais segurança depois, para garantir a proteção e o sustento da sua família, para prosperar como sociedade. Abel foi exemplar em seus sacrifícios ofertados a Deus, enquanto Caim deixou a desejar, não buscou atingir seu potencial. Castigado, resolveu enfrentar o divino em vez de reconhecer seus próprios erros.

A moral da história é clara: não adianta reclamar do cosmos, da existência, do eterno, e bancar a vítima diante de seus infortúnios. Assumir certa responsabilidade pelo seu destino é fundamental aqui. Incomodado com o resultado diferente e inconformado que ele mesmo poderia ter algum papel nisso, Caim prefere desafiar Deus e mata seu irmão - mata seu próprio ideal de vida, e essa talvez seja uma boa definição de inferno. Nasce ali a prole de assassinos: seus filhos matarão ainda mais gente, e seus netos mais ainda, numa exponencial. O rancor se espalha em progressão geométrica, amaldiçoa toda uma linhagem.

Para Jordan Peterson, o marxismo bebe desse sentimento mesquinho relatado na famosa história bíblica. Se uma história tem milhares de anos, ela provavelmente existe há mais tempo ainda, repassada oralmente de geração a geração. O que se absorve é o essencial, ou seja, algo que realmente toca na alma humana, que diz respeito à nossa natureza. Desprezar a sabedoria dos nossos antepassados é o primeiro passo para a estupidez, típica da patota woke. Deveríamos ter mais humildade perante aqueles que sobreviveram em condições bem mais desafiadoras que nós.

Essa traição de Caim fala de todos os homens que acabam se boicotando, que criam desculpas para seus pecados, que sequer tentam dar o máximo de si por medo do fracasso verdadeiro. Em vez disso, eles adotam o atalho de culpar os outros e bancar as vítimas. Todo rico é um opressor - e quem diz isso nunca pensa naqueles que são mais pobres do que ele (um americano de classe média é rico perto de muito latino-americano ou africano). Há 150 anos que o marxismo destila esse tipo de sentimento rancoroso, tendo como consequência produzido milhões e milhões de mortes.

Para Jordan Peterson, portanto, quando o papa fala em "justiça social", ele ignora o básico da mensagem cristã: o foco no indivíduo. As grandes batalhas ocorrem dentro de nós mesmos, e o lado satânico, invejoso, arrogante e orgulhoso precisa ser derrotado para nossa própria salvação - e também a da sociedade.

PS: Uma mulher chata não parava de falar bem atrás de mim, a ponto de minha namorada ter virado algumas vezes para reclamar - em vão. Que tipo de narcisista vai num evento desses, paga o ingresso para ouvir uma aula de um grande pensador, e fica cacarejando?, pensei. Quando Dave Rubin assumiu o microfone e perguntou quantos ali eram conservadores, a maioria levantou a mão. Quando perguntou quantos eram progressistas, silêncio. E quando perguntou quem era libertário, alguns gritaram - em especial a chata falante, aos berros. Não quero ser injusto com alguns libertários, mas pensei: pela imaturidade, tinha que ser! Rubin alfinetou que era a turma aguardando o fim da palestra para puxar um baseado. Não vou discordar...

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