Por Guilherme Wilhelms, publicado pelo Instituto Liberal
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), musa dos “pseudo-liberais descolados”, da leva que tenta “cancelar” gente como Roberto Campos e Carlos Lacerda e que vive uma crise de identidade que os incapacita de se assumirem sociais democratas, ataca novamente. Eu fico pasmo com a capacidade que a deputada tem de avalizar tudo o que não presta. Nas raras ocasiões em que acerta, como na Reforma da Previdência, ainda assim encontra um jeito de atrapalhar. Já comentei em outro artigo a respeito de um projeto de coautoria de Tabata, que visa ao estabelecimento de cotas femininas no Senado. Posso até ser acusado de exagerado por alguns, mas quem defende esse tipo de medida, que na prática significa “picotar” o voto popular, guardadas as devidas sutilezas, é tão antidemocrático (a) quanto os que defendem o fechamento das instituições.
Não satisfeita em afrontar e tutelar a escolha do eleitor, Tabata também quer intervir nos conselhos administrativos das empresas para adequá-los à uma abstração identitária. Tabata apresentou um projeto de lei que cria uma cota de 30% de participação feminina em conselhos de empresas de capital aberto, empresas públicas, sociedades de economia mista e as em que o Estado detenha a maior parte do capital com direito a voto – mas calma, não acaba por aí. Dentro da cota, há outra cota: 15% das cadeiras devem ser destinadas a negras, lésbicas, bissexuais, transexuais e mulheres com deficiência. A proposta seria apoiada por nomes do empresariado brasileiro, como Luiza Trajano, proprietária da Magazine Luiza. Amiga de Dilma e cogitada pelo PT como candidata à vice em 2022, Luiza é da leva dos bilionários “justiceiros sociais”.
A proposta de Tabata é uma aberração sob todas as óticas e não vejo como pode ser defendida por qualquer liberal que se preze. Oponho-me às cotas como princípio – a exceção de cotas sociais em universidade públicas e programas como Prouni e Fies – por diversas razões, entre elas a certeza de que elas têm um alto potencial reprodutivo e de continuidade. A proposta de Tabata trata de uma cota “temporária”, podendo ser revista em um prazo de 20 anos. Pois é, as cotas raciais também tem uma duração teoricamente temporária, mas que na prática se multiplicou desde sua criação e tende, acredito, a ter a duração periodicamente renovada. Eu sempre disse, também, que as cotas não acabariam nos negros – e dito e feito, aí estão as cotas femininas. Também disse que não acabariam nas mulheres – e dito e feito, aí estão as propostas de cotas de orientação sexual e para pessoas trans. A espiral identitária, podem estar certos, se não for combatida, não terá fim. Tudo o mais constante, podem aguardar o dia em que os pleiteantes a um emprego terão que rechear o currículo de informações identitárias.
Não deixa de ser curiosa a convergência entre alguns capitalistas e o identitarismo. As razões para isso seriam recheio para outro artigo, mas acredito que a explicação principal é a sinalização de virtude, não apenas para o(a) empresário(a) em si, mas para a sua empresa. Esta é a razão pela qual tantas empresas têm se curvado aos ditames identitários. A complacência é mais estratégia do que medo. Por essas e outras que sempre insisto que liberalismo é muito mais do que a mera defesa da liberdade econômica. Os empresários, como agentes econômicos que são, são maximizadores de sua própria utilidade, não necessariamente afeitos ao restante do receituário da democracia liberal. Dizer que setores do empresariado apoiam uma proposta como essa lhe confere mais peso, só que um grupo de empresários não fala em nome de todos, e o apoio de alguns não torna a intervenção menos vil. Para os antiliberais à esquerda (sim, há os à direita), une-se o útil ao agradável: o intervencionismo típico no domínio econômico, nesse caso intervenção direta no arranjo administrativo das empresas, com as pautas identitárias, fragmentando a sociedade e as instituições em bolsões de identidade, fazendo o jogo dos supremacistas de todas as vertentes e, ironicamente, combatendo com todas as forças a igualdade, a verdadeira igualdade, que não só não se antagoniza, mas é condição fundamental para a liberdade.
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