Era inevitável: a postura tribal e agressiva dos bolsonaristas, liderados pelos irmãos Carlos e Eduardo, só poderia criar cizânia, jamais agregar gente em torno do governo. Pode ter sido útil, como reconhece o pai presidente, para vencer a eleição, mas é terrível para governar. Não por acaso Trump se livrou de Steve Bannon, o guru dessa turma, após vencer o pleito em 2016.
Carlos e Eduardo são paranoicos, desconfiam de todos, e acham que estão na missão de "salvar" seu pai dos "traidores" - todos aqueles que discordam de alguma coisa do "mito", ou que ousam criticar qualquer ponto do governo. A lista é crescente. Os "comunistas", "vendidos" ou "traidores" já contemplam inúmeros ícones da direita, influenciadores fundamentais até ontem para o avanço do bolsonarismo, e gente de dentro do governo.
O mais novo desafeto é Major Olimpio. E o senador não optou pelo silêncio, não se intimidou, não ficou calado. Ao contrário: reagiu, enquadrou o "moleque", sem papas na língua. Numa série de tweets, após ser chamado por Carluxo de "bobo da corte", mostrou gratidão ao presidente, mas lembrou que isso não significa aceitar passivamente as histerias dos filhos, pois não vivemos numa corte com príncipes:
A postura paranoica, agressiva e tribal dos filhos do presidente vai afastar todo mundo que tem alguma moderação, sensatez, independência ou dignidade do governo. Entendo quem diga que, em nome de uma causa maior, os mais maduros precisam engolir o sapo, ignorar os ataques, simplesmente fingir que os dois e sua militância virtual nem existem. Mas existem, fazem barulho, fritam ministros que caem depois, e só recebem elogios do pai. É isso que assusta. É isso que importa. Vejam, por exemplo, a resposta desequilibrada de Carlos:
Como disse Renan Santos, do MBL, "Nem Dilma trabalhou tanto pela própria derrocada. Um assombro". Com "defensores" assim Bolsonaro não precisa de inimigos. E, de fato, não espanta a esquerda radical estar tão quieta: está comendo pipoca enquanto assiste o "fogo no parquinho" da direita, causado pelos próprios bolsonaristas.
Bolsonaro não parece desqualificar essa postura. Ao contrário: em público só endossa o que fazem seus filhos. E todos já perceberam onde estão a mente e o coração do presidente. Ele exige lealdade pessoal, e ninguém - absolutamente ninguém é capaz de oferecer mais isso do que seus filhos fanáticos. Todos os demais são descartáveis. Menos Carluxo e Dudu. Menos Flavio, o enrolado no caso Queiroz. E isso afeta totalmente o destino do governo. É por isso que gera tanta angústia em quem enxerga vários méritos na gestão e na agenda de reformas...