Não é preciso ser um gênio para perceber que tocaram na ferida e mexeram no vespeiro com essa denúncia de milícia virtual. É o calcanhar de Aquiles do bolsonarismo. Daí o desespero - e a reação, que dá muita bandeira. Estão tensos. E deveriam!
Afinal, montar um exército de robôs, perfis falsos e "militantes de gabinete" para espalharem Fake News e intimidarem críticos do governo é não só imoral, como ilegal. E daí a necessidade de tentar blindar essa turma com o discurso de "liberdade de expressão" ameaçada.
O bolsonarista Taiguara Fernandes, que esteve no convescote reacionário de Eduardo Bolsonaro recentemente, levantou a teoria da conspiração, invocando, claro, o globalismo:
Trata-se de uma passada de pano um tanto constrangedora, ao negar o óbvio e inventar bodes expiatórios externos para aliviar a barra da família. Reparem que ele nega até a existência dos robôs, o que qualquer um que já ousou criticar o governo sabe da existência.
Luciano Ayan ironizou: "Falta pouco para esse Taiguara - é quase um comediante involuntário do bolsolavismo - botar a culpa no Foro de São Paulo também. Esse não vai demorar para rodar feio com essa teoria da conspiração amarrada com barbante".
Eduardo Bolsonaro, de volta à liderança do PSL, fez logo questão de mudar os nomes da CPI das Fake News. Ele indicou novamente os deputados Caroline de Toni (PSL-SC) e Filipe Barros (PSL-PR) para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga fake news. A dupla bolsonarista tinha sido destituída na semana passada pelo então líder da legenda, Delegado Waldir (GO).
Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro são líderes de uma rede especializada em campanhas de difamação e notícias falsas usando aplicativos de mensagens. A afirmação é da deputada federal Joice Hasselmann (PSL), que sempre trocou ataques com os filhos do presidente e recentemente se tornou alvo preferencial do clã. Segundo a deputada, que conversou com o UOL antes de gravar o programa "Roda Viva", da TV Cultura, os filhos do presidente mantêm funcionários que criam perfis falsos em redes sociais.
Além de Joice, o delegado Waldir e Alexandre Frota também fizeram acusações semelhantes. A reportagem da Crusoé de Felipe Moura Brasil expôs um pedaço da atuação desses grupos com os tais militantes de crachá. O general Santos Cruz, que foi alvo da fritura da turma, chamou de "gangue de rua" essa ala bolsonarista.
Marlos Ápyus escreveu uma (bem) longa "thread" sobre o assunto, resgatando algumas notícias e casos sobre essa milícia virtual bolsonarista. Eis alguns trechos:
Jair Bolsonaro levou para dentro do Palácio do Planalto uma "máquina" de promover linchamentos virtuais e assassinar reputações de qualquer adversário externo ou mesmo interno.
Mas antes, durante e depois da campanha, observou-se um fenômeno que ia muito além da proliferação de notícias falsas. Tocado por milhares de contas, as redes sociais foram tomadas por hordas que assassinavam a reputação de alvos específicos...
...até que a vítima restringisse o acesso aos próprios perfis, calasse sobre o tema que deu origem aos ataques ou, em casos mais graves, deixasse de fazer uso público da internet como um todo. Esse nítido ato de censura é o que chamamos aqui de “linchamento virtual”.
A prática é abjeta. Além de tolher a liberdade de expressão do cidadão brasileiro, dificulta a proliferação de informações valiosas, radicaliza o debate político e afasta profissionais que agiam de boa fé – abrindo espaço à má fé explícita.
A insanidade, contudo, parecia ter método. Porque os alvos tinham algo em comum: por formarem opiniões contrárias ou se apresentarem como eventuais adversários políticos, eram entendidos como obstáculos ao projeto de poder de Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil.
Isso, claro, levantou suspeitas de que o próprio Bolsonaro poderia estar por trás dos ataques. Com o tempo, o noticiário forneceria fortes evidências de que a suspeita tinha razão de ser.
Em alguns casos, perfis falsos foram criados para ludibriar a opinião pública, com o próprio presidente da República compartilhando o resultado da fraude.
Filipe Martins atua oficialmente dentro do Palácio do Planalto como assessor internacional da Presidência da República, mas foi apontando como o estrategista de Jair Bolsonaro nas redes sociais desde a eleição de 2018.
Quando os ataques surtem efeito, Filipe Martins costuma publicamente celebrar a queda de membros do governo, ainda que de forma dissimulada.
Na entrevista, Bebianno disse que foi demitido por Carlos Bolsonaro, que o vereador encampa ações virulentas nas redes sociais, que usa perfis de terceiros para ataques, e narrou um caso em que o filho de uma vítima chegou a tentar suicídio em decorrência do linchamento virtual.
Jair Bolsonaro não esconde que deve a própria eleição a um forte trabalho realizado nas redes sociais. Uma vez eleito, estudava "profissionalizar a comunicação de seu governo, mas enfrenta resistência dos filhos que atuam na política."
Jair Bolsonaro, o principal beneficiário de toda essa rede, faz uso de uma fortuna em impostos recolhidos pelo povo brasileiro para manter no Palácio do Planalto uma máquina de assassinatos de reputação e promoção de linchamentos virtuais...
...Numa postura de nítida censura a adversários externos e internos. Isso é INADMISSÍVEL numa democracia como a brasileira.
Provas. É preciso ter provas, claro. Caso contrário são apenas denúncias, não necessariamente levianas, pois há fortes indícios e evidências. Mas faltam as tais provas. E é aí que a CPI das Fake News entra. E é esse também o motivo do pânico, do desespero dos bolsonaristas do núcleo duro.
Não vai colar usar o manto nobre da defesa da liberdade de expressão dessa vez. Não é liberdade de expressão praticar assassinato de reputação por meio de perfis falsos. Robôs não são parte do povo brasileiro. E espalhar Fake News por meio de militantes de crachá é mais do que indecente: é antidemocrático.
Sabemos que a turma acha que, na "guerra cultural", vale tudo para derrotar o inimigo. Mas estamos aqui, os liberais clássicos e os verdadeiros conservadores, para lembrar que há o limite da lei, a importância das instituições, e até mesmo aquele velho princípio fundador do conservadorismo de boa estirpe: a decência humana, a honestidade!
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