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A inveja, a mais mesquinha das paixões, existe desde que o homem é homem. Caim com Abel ilustra bem isso. "⁠A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem", disse Adam Smith. E ele está certo.

Fiz uma palestra no Centro Judaico de Miami esta quarta. Era para eu ser apenas ouvinte, e o palestrante seria David Bernstein, autor de "Woke Anti-Semitism". Mas David testou positivo para Covid (quem ainda faz esse teste?) e eu acabei sendo convidado de última hora para assumir seu lugar. Como tinha acabado de ler seu livro, topei e falei sobre o assunto por uma hora.

Ao término, um senhor que morava em Toronto e se mudou de lá por cansar do excesso de ideologia Woke veio conversar comigo e perguntou: "O que fazer contra a inveja?" O contexto era minha fala sobre o relativo sucesso do povo judeu e o recalque de muitos de seus desafetos.

A pergunta é importante. Lidar com a inveja é fundamental numa sociedade. Recomendo o livro "Envy: A Theory of Social Behavior", do sociólogo alemão Helmut Schoeck. Escrevi textos sobre a inveja com base no ótimo livro, aqui e aqui. Não há resposta fácil, claro. Mas é crucial tentar reconhecer como premissa realista a nossa natureza humana, e depois canalizar a inveja para coisas construtivas. Caso contrário, teremos o ressentimento alimentando ideologias que mascaram a inveja, como o socialismo e seu herdeiro atual, a baboseira Woke.

Richard Bach, em "John Livingston Seagull", publicado em 1970, fala da gaivota que queria desafiar seus limites naturais e voar o mais alto possível. Despertou a inveja do bando, que resolveu bani-la. Seus pais ainda tentaram convencer-la a ser mais "prudente", ou medíocre, para evitar que se tornasse uma "outcast". Em vão. Expulsa, ela vaga pelo mundo e descobre algumas outras gaivotas como ela, que admiram o talento alheio, em vez de tentar destrui-lo. Volta ao antigo bando depois para tentar encontrar gaivotas dispostas a aprender essa lição.

A Mitsubishi tinha uma ótima propaganda: venceu 11 vezes seguidas o Paris Dakar pois não competia contra os demais, mas sim contra o deserto, ou seja, ela mesma. Buscar dar o máximo de si sem se importar tanto com os outros, comparar-se com o que você era ontem e avaliar se melhorou, essas são formas bem mais inteligentes de se viver. Para o invejoso, a grama do vizinho é sempre mais verde, e ele é obcecado com os outros.

O invejoso vibra se o vizinho quebrar a perna, mesmo que isso em nada o ajude a correr mais. Já quem é capaz de admirar o sucesso alheio age como Will Smith em "A busca da felicidade", filme baseado em fatos, quando vê alguém chegando de Ferrari no prédio: "O que eu preciso fazer para ter um desses?"

A inveja é uma m., como dizem. E, infelizmente, ela está por trás das aparências de justiceiros sociais. Esses esquerdistas nunca vão admitir, claro, mas no fundo são movidos pela inveja, pelo rancor, pelo ressentimento. Por isso são obcecados com os ricos, em vez de olhar para a miséria. Querem nivelar tudo por baixo, tirar dos mais ricos, encontrar igualdade em resultados medíocres.

E quando o vizinho se dá bem, num golpe de sorte ou por mérito, o invejoso quer tomar o que é seu. Basta ver o ditador socialista Maduro de olho no petróleo da Guiana. É a pura inveja, mascarada de "luta pela justiça social". Thomas Sowell foi preciso quando disse: "A inveja foi considerada um dos setes pecados capitais antes de se tornar uma das mais admiradas virtudes sob seu novo nome, 'justiça social'".

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