O editorial de hoje do Estadão fala em esperança de que o presidente Bolsonaro mude os rumos daquilo que vem dando errado. Perto do fim do primeiro ano de mandato, há muitos acertos, mas também muitos erros, o que vem deteriorando a confiança na capacidade do presidente de liderar o país. O jornal usa como base a recente pesquisa da XP/Ipespe, além de outra do Datafolha.
O ponto principal, porém, é o presidente conseguir governar para todos e deixar de lado essa minoria barulhenta das redes sociais, sua militância fanática e radical:
A sociedade está dizendo – é o que a pesquisa XP/Ipespe sugere – que ainda nutre esperança de que Jair Bolsonaro possa deixar a Presidência da República em janeiro de 2023 legando a seu sucessor um país melhor do que o que encontrou. Se o presidente tiver a capacidade de compreender que não governa para um nicho de eleitores mais extremados, e sim para todos os brasileiros, deixando de ser um dos principais agentes do dissenso para se tornar o artífice da conciliação, não será difícil chegar ao bom termo almejado por 46% dos ouvidos pela XP/Ipespe.
É legítimo que o ocupante de um cargo eletivo se preocupe com questões de natureza político-eleitorais. Um dos maiores problemas que o País vem enfrentando nos últimos anos é justamente a desqualificação da atividade política e de tudo a ela atinente. Mas de um governante se espera o justo equilíbrio entre as ações de Estado, de governo e as de fim eleitoral. Um mandatário irá exercer bem o poder delegado pela sociedade quando, com habilidade e espírito público, dosar suas ações e palavras.
Há tempo para o presidente Jair Bolsonaro rever seus erros e os de sua equipe. Há tempo para correção de rumos. Há, principalmente, a esperança de uma parcela significativa do povo brasileiro de que assim ele o fará. A evolução positiva revelada pela nova pesquisa XP/Ipespe é tênue, vale dizer, pode tanto representar o início da reversão da impopularidade do presidente como um mero suspiro de afogado. Cabe a Jair Bolsonaro, e somente a ele, apontar o rumo.
Mas como esperar que Bolsonaro entenda finalmente a importância de agregar, de dialogar com toda a população, em vez de escutar só essa turma extremista? Como ter essa esperança se, por trás dessa militância, temos justamente seus dois filhos Carlos e Eduardo?
Tive nesta terça o que se chama "treta" com Carlos no Twitter. Sua postura mostra bem a mentalidade do bolsonarismo, a paranoia, a insistência em comprar brigas, em criar confusão, em espalhar mentiras, em produzir conflitos e afastar gente que, em condições normais, poderia estar apoiando o grosso do governo:
Pergunto: como alguém com essa mentalidade pode agregar, unir, construir algo? E não adianta repetir que é coisa só do Carlos, ou do Eduardo, pois óbvio que o pai deles sabe e, de certa forma, endossa essa postura. Afinal, nunca veio a público repreender a postura dos filhos. Ao contrário: já disse que foi graças a ela que venceu a eleição, ignorando que vencer eleição é uma coisa, e governar o país é outra, bem diferente.
Enquanto Bolsonaro estiver rodeado desses filhos e seus puxa-sacos oportunistas ou fanáticos, não há qualquer esperança de que vá mudar de postura, tornar-se mais agregador, colocar os interesses do Brasil acima dessas picuinhas permanentes.
E vale lembrar quem é o guru dessa turma. O "filósofo" Olavo de Carvalho, o mesmo que ajudou a criar quase todas as intrigas palacianas e, agora, conclama uma união do "povo" com os militares para apoiar o presidente, ignorando que foi ele quem fez de tudo para afastar o povo do presidente e queimar os militares do governo:
O bolsolavismo se alimenta do combate. Precisa de inimigos mortais o tempo todo. Quando não os encontra, inventa-os!
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