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Não tenho medo de bengala, tia!
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"O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade." (Nelson Rodrigues)

Meu texto sobre a "revolução" da terceira idade e as "tias do zap" teve grande repercussão, e também muitas críticas e repostas. Mexi num vespeiro, reconheço. Mas não vi um bom contra-argumento até aqui. Rebateram espantalhos!

Os ataques partiram de duas fontes: dos bolsonaristas que têm nas "tias do zap" sua principal audiência; e de algumas dessas "tias" que se sentiram diretamente agredidas e ficaram ofendidas. Ou seja, de quem tem interesse direto em agradar a clientela, e de quem não gostou de certas verdades, pois machucam mesmo.

O que as reações têm em comum é que erram o alvo, fogem do cerne da questão, e precisam me rotular e me depreciar para se defender. Idosos podem - e devem - se preocupar com a política. Nunca disse o contrário. Não precisam esperar a morte numa cadeira de balanço ou jogando bingo...

O fenômeno que tentei analisar é mais específico, diz respeito a quem coloca na política sua fé religiosa, ou seja, quem se torna um fanático radical na velhice, o que, cá entre nós, é brega acima de tudo. Espera-se do velho mais prudência sim. Ou a experiência não valeu de nada?!

Michael Oakeshott, um grande conservador (que as "tias" jamais leram, tenho certeza), falava da política de fé e da política do ceticismo. O conservador é cético por natureza. As "tias" são fervorosas, apaixonadas, fanáticas. Não combina.

Todos conhecem o perfil, sabem de quem estou falando. Das senhoras que compartilham fake news de sites obscuros, estilo chapéu de alumínio, que veem um vídeo do youtuber olavete e acham que entenderam política de fato, que gritam "mito" por aí, sem o devido ceticismo que deveria vir junto com os anos de vida.

Por fim, a acusação que fizeram de preconceito é absurda. O que condeno nelas - fervor revolucionário, paixão política, polarização tribal -, condeno em todos. Tenho criticado o clima tribal na sociedade, e em especial nas redes sociais. Apenas acho mais desculpável tais características nos jovens, e mais cafona em quem deveria demonstrar maior maturidade.

Alguns condenaram até o uso do termo "velho", e outros desejaram que eu me torne um idoso para aprender certas coisas. Ora, eis o ponto! Eis o sintoma da nossa sociedade doente: ninguém mais aceita... envelhecer! Seremos "eternamente jovens", buscando adrenalina, aventuras, e pior: na política! Maturidade exige reconhecer nossos limites, aceitar com dignidade a inexorabilidade do tempo. Bancar o jovem revolucionário com 70 anos é "over", tia!

E não adianta me ameaçar, pois não tenho medo de bengala. Sim, eu espero ficar velho um dia, pois a alternativa é muito pior. Mas espero ser um velho maduro, experiente, capaz de transmitir aos mais jovens justamente aquilo que eles não possuem e tanto necessitam: calma, cautela, prudência, paciência, virtudes típicas... do conservadorismo!

Na esquerda também tem muita gente que quer driblar a velhice flertando com a "eterna juventude rebelde". Muitos acham aquela apresentadora canadense Sue o máximo, falando de sexo na TV e explicando como usar vibradores. Já eu sempre achei brega, caído, um tanto infantil. Prefiro a imagem de uma vovó simpática e recatada que conta histórias clássicas para seu netinho dormir.

Envelhecer não deve ser fácil, e como não sou nenhum jovenzinho, do alto dos meus 43 anos e com filha que já fez 18, sei disso. Mas envelhecer sem amadurecer é triste. Nelson Rodrigues batia de frente com a juventude idealista, revolucionária, e recomendava como conselho aos jovens: envelheçam! Com certeza não era em termos de idade cronológica que o dramaturgo falava, e sim de mentalidade, de postura, maturidade.

Espera-se do velho mais prudência. Nossa sociedade de "adultescentes" é problemática justamente porque tantos adultos se negam a assumir esse papel de maior responsabilidade perante os mais jovens. Tenho vários textos sobre o assunto, e um capítulo enorme de Esquerda Caviar sobre juventude. Não é nada pessoal, tampouco preconceito, tia. É uma análise que faço de um dos problemas da nossa sociedade moderna: os adultos que se recusam a agir... como adultos!

Agora pode dar a bengalada, que o casco é duro! Já aturei muita pancada de petista, tucano, libertário, reacionário, e não vou me deixar intimidar pelas "tias do zap". A carapuça não precisa servir a todas as senhoras politizadas que frequentam manifestações. Basta rejeitar o fanatismo, o tribalismo, o olavismo, e tomar o devido cuidado para não copiar os métodos dos jovens idealistas. Eles são, afinal, uns pobres coitados idiotas que a vida ainda vai educar! Ou não...

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