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Fazuelli não gostava de Bolsonaro. Na verdade era bem mais do que isso: Fazuelli odiava Bolsonaro! Ele não era capaz de explicar em detalhes, mas repetia slogans da velha imprensa: ameaça à democracia, negacionista, genocida. Imbuído de um sincero desejo de salvar nossa democracia, Fazuelli ignorou tudo sobre o adversário de Bolsonaro e... fez o L.

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Hoje Fazuelli começa a se dar conta da lambança que fez. "Até que Bolsonaro não era tão ruim assim como aquela emissora dizia", pensou diante do espelho. Com a economia já estagnada, pois a herança positiva tem prazo de validade perante tanto desaforo, Fazuelli começa a sentir saudades do crescimento do PIB, apesar de pandemia e tudo.

Quando olha para o quadro geopolítico, Fazuelli quase entra em desespero. Com muitos amigos judeus, Fazuelli não consegue esconder sua decepção com a postura de Lula condenando Israel para poupar os terroristas do Hamas. A falsa equivalência moral é ultrajante para Fazuelli, não importa que essa sempre tenha sido a postura lulista.

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O imperialismo comunista de Maduro pretende invadir uma nação vizinha, e Fazuelli sabe que Lula não vai peitar seu velho companheiro. Tudo tem se deteriorado rápido demais na política externa, transformando o Brasil num pária global. Rússia, China, Cuba, Nicarágua, Venezuela e Irã: esses são nossos grandes aliados agora. Fazuelli parece inconsolável por conta disso, em que pese o antigo elo entre PT e ditaduras comunistas, que o TSE mandou esconder durante a eleição.

Fazuelli não era fã de Lula, nunca foi. Mas engoliu o sapo barbudo por nojo de Bolsonaro. E agora tem medo. Está arrependido, mas lhe falta coragem para confessar em público, para admitir a besteira que fez. Ele tem vergonha, e por isso precisa continuar criando falsa equivalência moral: "Bolsonaro também era terrível, tão ruim quanto", balbucia à noite na cama, sem realmente acreditar nessa mentira.

Cruzei com Fazuelli no mercado outro dia. Percebi que ele desviou o olhar, não conseguiu me encarar direito. Insistente que sou, puxei conversa e mandei na lata: "Já está arrependido da cagada que fez, Fazuelli?" Ele corou, notei que queria desaparecer, sumir dali, mas esboçou um sorriso amarelo e disse, em tom quase inaudível: "Você tinha um ponto, Constantino".

Como meu objetivo nunca foi tripudiar de quem comete erros, mas sim ter certeza de que os mesmos erros jamais serão repetidos, perguntei: "Qual a lição que você tirou disso tudo?" Intrigado - talvez por nunca ter realmente se dedicado a tais reflexões - Fazuelli começou a falar da terceira via, da necessidade de um nome mais moderado como alternativa ao petismo etc., quando eu o interrompi bruscamente:

Caramba, Fazuelli, você não tem jeito mesmo! Diante de toda a porcaria que você e seus colegas isentões fizeram, sua conclusão é que precisamos de uma Tebet, de um Alckmin, de um Doria da vida?! Você não compreendeu ainda que essa turma é petista, que só a mídia militante os vende - ou tenta vendê-los - como oposição ao PT? Alckmin já foi colocado em capa de revista como o anti-Lula, disse que o ladrão queria voltar à cena do crime, e hoje é o vice-presidente! Doria também foi retratado como anti-Lula e hoje rasteja por um aceno do presidente, de forma humilhante e constrangedora. Ou você entende de uma vez que o teatro das tesouras acabou, que a verdadeira direita precisa ter voz na política, ou você não aprendeu nada e vai contribuir para o colapso total da nação.

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Fazuelli ficou em silêncio por uns longos segundos, e era possível ver a dor na contorção de seu rosto. Depois inventou uma desculpa qualquer e se despediu, às pressas. Quase esqueceu suas compras no caixa. Ao ir se afastando, pensei comigo mesmo: "Quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré. E quem nasce para tucano raramente se liberta do papel de cadelinha de comunista corrupto..."