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Por Juliano Oliveira, publicado pelo Instituto Liberal

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Sei que muitos foram e têm sido os esforços de diversos autores liberais na tentativa de dar uma resposta clara à pergunta que dá título a este artigo. No entanto, diante da nova investida estatal contra a empresa de aplicativo Loggi, julguei que esta questão merecia mais uma explicação. Meu objetivo aqui é tentar tornar claro aos justiceiros sociais que sua preocupação com a falta de direitos trabalhistas atenta contra a lógica econômica e, por que não dizer, matemática e coloca em xeque o sustento dos que seriam os supostos beneficiários desta filantropia.

Há poucos dias fomos surpreendidos com uma decisão arbitrária da 8ª Vara do Trabalho de São Paulo que determinou que o aplicativo de entregas rápidas Loggi terá de reconhecer o vínculo trabalhista com motoboys que utilizam a plataforma. Além disso, a empresa terá de regularizar normas de saúde e segurança e o controle de jornada dos empregados. Na prática, esta decisão judicial faz, ao ditar quais normas devem reger o mundo do trabalho, derreter a parca liberdade de relações contratuais trabalhistas que resta por estas bandas. Segundo a juíza do Trabalho Lávia Lacerda Menendez, que proferiu a sentença e que se diz a favor da livre concorrência (risos), a decisão considera que a empresa promove “concorrência desleal”, pois se exime de pagar impostos e encargos trabalhistas ao não regularizar os profissionais. As palavras ditas pela juíza podem fazer algum sentido para quem acredita que canetadas judiciais são capazes de alterar as leis humanas.

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Ludwig Von Mises, em seu livro, Teoria e História, explica que as leis da natureza, contrariamente às leis humanas, possuem um alto grau de regularidade e previsão. “Epistemologicamente”, diz o autor, “a marca distinta daquilo que chamamos de ‘natureza’ pode ser vista na regularidade averiguável e inevitável do encadeamento e da sequência de fenômenos.  Por outro lado, a marca distinta daquilo que chamamos de ‘esfera humana’ — ou história, ou, ainda melhor, âmbito da ação humana — é a ausência dessa regularidade universalmente predominante”. O que Mises nos ensina com estas palavras é que as reações que as pessoas ou empresas apresentam diante dos estímulos e políticas governamentais não são necessariamente aquelas que os burocratas de plantão desejam obter com seus decretos. E não é necessário muito esforço acadêmico para enxergar numa decisão arbitrária a comprovação desta ideia.

Todas as coisas que nos rodeiam foram construídas com o emprego dos conhecidos recursos produtivos que, por sua vez, podem ser agrupados em duas categorias, a saber: Capital Físico e Capital Intelectual. Enquanto o primeiro fornece ao homem as condições necessárias para que produza mais com menos (a diferença entre o Robinson Crusoé Rico e o Robinson Crusoé pobre decorre, basicamente, do acesso aos diferentes instrumentos de pesca), o segundo lhe possibilita operar o primeiro e produzir os bens e serviços de que necessita para sua sobrevivência.

Como são infindáveis as necessidades humanas e, portanto, a demanda pelas mais diversas amenidades que nos livrem de nosso estado natural de pobreza, a quantidade de trabalho a ser realizada supera, em muito, a quantidade de recursos (humanos, inclusive) disponíveis para sua realização. Diante de um quadro de escassez de mão de obra e demandas ilimitadas, um desavisado diria que a tecnologia é a causa do desemprego que assola famílias e limita a satisfação de suas necessidades. Não é objetivo do presente artigo discutir os impactos da tecnologia nos índices de emprego de uma nação. Limito-me a dizer, apenas, que esta é mais uma das afirmações que foram sendo exaustivamente repetidas como verdades irrefutáveis até que os liberais clássicos e libertários, mais especificamente, começassem a desmenti-la com seus vários escritos sobre o assunto.

Ora, se não é a tecnologia que nos empurra para a fila do desemprego, o que mais poderia explicar o nível de informalidade e o alto índice de desemprego no Brasil? Explico: a coerção estatal. Ao amputar o empreendedorismo nascente com taxações e arbitrariedades absurdas, ao impor aos pequenos empreendimentos (refiro-me aos pequenos porque os grandes não são, necessariamente, contrários a regulamentações) regulamentações asfixiantes e encargos sociais e trabalhistas escorchantes, o governo despreza o papel do empreendedor na geração de empregos e na formação de uma qualidade de vida digna de um país sueco (alô, Greta!!).

Quando juízes e planejadores centrais, do alto de sua Torre de Marfim, decidem que uma empresa não pode contratar seus trabalhadores nas condições e a um preço previamente acordados entre ambos (perceba que esses trabalhadores tinham uma remuneração igual a zero antes de conseguirem esses contratos), eles estão dizendo que esses trabalhadores devem continuar desempregados, que os custos das empresas devem ser majorados para que sua vontade seja satisfeita e que, se quiserem empregar em condições mais livres, as empresas deverão sair do território em que se encontram e buscar outros países que possibilitem uma negociação livre de ingerências estatais.

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Por isso, caro leitor, qualquer esforço em direção a um mercado de trabalho mais livre que permita reduções salariais diante de uma redução na procura por mão de obra, que não interfira nas negociações entre trabalhador e empregador e que enterre esta maldita CLT (sim, Temer fez sua parte, mas ainda foi pouco), será algo alvissareiro e digno de comemoração. Resumidamente, ao fim e ao cabo, quem gera o desemprego são os iluminados do estado que nos impõem regras sufocantes e descoladas da realidade do setor público a que pertencem seus criadores.

Quanto aos procuradores e juízes do trabalho é preciso ser mais coerente, como sugeriu o site O Antagonista, ao tratar o caso da empresa Loggi: “Se acham que se trata de exploração do homem pelo homem, esses procuradores e juízes do Trabalho não deveriam usar Uber, Rappi, iFood, Cabify e Loggi. É preciso ter coerência”.