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Rodrigo Constantino

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Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

O “Centrão” não será liberal conservador apenas por apoiar o governo

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Por Carlos Junior, publicado pelo Instituto Liberal

A aproximação entre o presidente da República e o bloco conhecido como “Centrão” – ou parte dele – está dominando as manchetes dos jornais, os discursos oposicionistas e as narrativas de muitos que um dia o apoiaram e agora apontam o dedo para ele e dizem: você nos traiu. A quantidade nada desprezível de cargos indicados por parlamentares do PP, do PSD, do PL e do Republicanos é um prato cheio para os críticos que desejam compará-lo com o Jair Bolsonaro antes de assumir o governo.

Antes de dar o meu juízo de valor sobre esse movimento governista – que os leitores mais atentos dos meus artigos estão esperando há tempos – e colar na testa dos envolvidos o selo disto ou daquilo, os fatos existem e precisam ser destrinchados. A análise dos acontecimentos em quase um ano e meio de governo Bolsonaro joga luz na escuridão dos palpites ideologicamente motivados, muito bonitos na retórica, mas desprovidos de veracidade. É com base nos fatos que quero destrinchar de vez esse assunto.

Jair Bolsonaro foi eleito presidente em uma eleição totalmente atípica, pois foi em 2018 que a direita tinha um candidato após 30 anos de completa ausência na política nacional. Décadas de hegemonia esquerdista excluíram os liberais e conservadores das universidades, da mídia, do mercado editorial e, por fim, da vida pública. Os governos tucanos e petistas fizeram da esquerda a única corrente ideológica no país e as velhas oligarquias patrimonialistas tiveram que “dançar conforme a música” para continuarem desfrutando das benesses geradas pelo controle do Estado. Vencer uma eleição com a alcunha de direitista era praticamente impossível no Brasil e quem assim desejasse teria de enfrentar os donos do poder para lograr êxito, como o presidente Bolsonaro.

Em português claro: Jair Bolsonaro foi eleito para derrubar o establishment. Qualquer outra coisa diferente disso seria jogar fora a promessa de tombar o status quo.

No começo do governo vigorou exatamente aquilo que foi prometido em campanha: nada de “toma lá da cá” ou indicações políticas. O governo não teria base aliada justamente por não fazer o velho presidencialismo de coalizão, no qual o presidente chama as bancadas dos respectivos partidos para comporem a base em troca de ministérios, cargos e privilégios. Bolsonaro buscou diálogo com as frentes parlamentares tendo como ponte o ministro Onyx Lorenzoni, então responsável pela articulação política do Executivo.

Como aprovar projetos de seu interesse sem “vender a alma”? O presidente Bolsonaro apostou tudo na pressão popular, pois a sua militância representou – e representa – uma grande fatia da sociedade brasileira, além de ser bastante ativa nas redes sociais. O establishment não fez favor algum em aprovar a Reforma da Previdência, como dizem alguns; apenas cumpriu o seu papel de chancelar os interesses dos representados por ele. A Constituição é clara no art. 1, § 1: ‘’todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição’’. As vontades particulares do Congresso de nada valem ou interessam estando em conflito com as do povo que os elegeu, o poder legítimo e soberano. Com esse pensamento a guiá-lo, o governo procedeu dessa maneira no trato com o Legislativo nos primeiros seis meses do ano passado.

Porém, a estratégia foi abandonada. O deputado Rodrigo Maia (DEM-AP), na qualidade de presidente da Câmara, fez o possível e o impossível para arrumar confusão com o governo. Foi a público diversas vezes para dizer que estava faltando articulação por parte do presidente Bolsonaro – sem nunca esclarecer qual seria essa tal articulação – e colocou a Reforma da Previdência em xeque. Muitos críticos, incluindo liberais, endossaram as críticas do sr. Maia e pintaram Bolsonaro como um troglodita incomunicável com o restante do mundo. Se o Congresso impôs severas derrotas ao governo e o próprio foi obrigado a ceder, a culpa é também de quem legitimou o desgaste inicial.

Bolsonaro resolveu depois encher o seu governo de militares. Não tenho preconceito algum para com os homens de farda, mas os que compõem a atual administração já deram provas inequívocas de não saber absolutamente nada da política. Ainda estão presos em 2016. Acreditam piamente na possibilidade de “tucanizar” o governo mediante a adoção da tecnocracia como norte e assim fazer sua imagem melhorar perante a mídia e a opinião pública, com ótimos resultados econômicos e pronunciamentos politicamente corretos. Esquecem-se dos motivos, das promessas e dos ideais que levaram Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Daí o general Luiz Eduardo Ramos começou a ver-se como o Cardeal Richelieu da articulação política – e temos a presente situação. O presidente Bolsonaro nunca teve os poderes da sua posição, pois, além de o establishment atrapalhar o seu governo de todo jeito, ele e seus filhos sabotaram a si próprios ao não apoiarem iniciativas como a CPI da Lava Toga.

Minha opinião? O presidente Bolsonaro assume algumas coisas com esse movimento: (I) que nada fez até agora contra seus inimigos reais, (II) suas promessas de campanha estão sendo sabotadas pelos próprios integrantes do governo e (III) que ao invés de desferir um golpe de misericórdia contra o estamento burocrático, o presidente preferiu acomodar-se a ele. Suicídio completo.

Se ele formar uma base sólida e aprovar as reformas liberais de que o país tanto precisa passada a pandemia e sem o advento da corrupção de outros carnavais, não será de todo ruim. Entretanto, o Centrão é por natureza a força política do status quo e, como tal, não se empenhará em defender as pautas culturais do liberalismo e do conservadorismo. O que disse algum partido do bloco contra o Foro de São Paulo, contra o globalismo, contra a aliança petista com as FARC e contra o estatismo massacrante dos donos do poder? Absolutamente nada. Apoiar pautas vitais de reformas econômicas não é o mesmo que virar liberal da noite para o dia.

Falo como conservador moral e liberal econômico e em certos conceitos políticos também. Falo como apoiador fiel do governo – e isso me custou muitas amizades e empregos negados. Ainda há tempo de o presidente Bolsonaro assumir o seu posto e desfazer os erros de seu governo, mas para isso é necessário dar o primeiro passo. O “Centrão” não é o seu aliado.

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