Em entrevista à Folha neste domingo, o ministro Paulo Guedes, ao apresentar o projeto de modernização do estado brasileiro, comentou sobre a situação chilena. Para ele, democracia é assim mesmo, barulhenta. Não há protestos desse tipo na Venezuela, em Cuba ou na China pois a ditadura não permite.
Perguntado se o problema se originou o modelo neoliberal, Guedes rechaçou como tolice tal tese. O Chile tem renda per capita duas vezes a brasileira, possui indicadores infinitamente melhores do que os da maioria de seus vizinhos, especialmente aqueles que flertaram com o socialismo.
Quanto ao modelo de capitalização da Previdência, Guedes lembrou que foi ele que permitiu crescimento sustentável por décadas: "O Chile cresceu por 30 anos porque tinha capitalização. Capitalização significa que, em vez de o teu dinheiro ir para a Jorgina [Jorgina de Freitas, que comandou esquema de corrupção no INSS] ou ser queimado [alusão à destruição pela inflação], ele é acumulado". Não obstante, Guedes sabe que essa mudança se perdeu na reforma: "Já foi. Cada país faz suas escolhas. O problema do nosso governo está resolvido. Que pena que o Brasil ainda não escolhe algo melhor".
De fato, que pena! O Brasil ainda está gatinhando no flerte com o liberalismo, após décadas de hegemonia esquerdista. O resultado dessa receita equivocada está aí: um país pobre, com enorme desigualdade, muita miséria e uma casta privilegiada protegida das crises no setor público.
O regime previdenciário é talvez o melhor retrato dessa injustiça. E justamente porque não temos um modelo de capitalização com contas individuais, mas sim um esquema de pirâmide com aposentadorias gordas para os servidores públicos em detrimento às migalhas que recebem aqueles que pagam a conta.
Por isso é tão triste ver os mesmos suspeitos de sempre culpando o "neoliberalismo" pelo fracasso do continente. Em artigo publicado na Gazeta do Povo, o economista liberal francês Guy Sorman constatou que o Chile precisa de mais, não menos neoliberalismo. Para ele, há uma narrativa falsa sendo empurrada pela esquerda e a mídia: "A turbulência no Chile satisfaz velhos marxistas que, sempre procurando a próxima revolução, depositam suas esperanças em Santiago", escreveu. E acrescentou: "A mídia esquerdista, por sua vez, alimenta o clima revolucionário ao enquadrar a história como uma revolta dos pobres contra o neoliberalismo — incluindo o Estado de Direito e a economia de livre mercado — e a desigualdade. Mas as imagens das manifestações e relatos de testemunhas sugerem uma realidade diferente".
O economista critica o modelo educacional chileno, onde falta mais mercado, e também lembra que o foco demasiado na desigualdade é um erro, ainda mais quando se aposta no estado como instrumento para resolver o suposto problema: "O Estado sabe apenas como espalhar a pobreza, exceto entre as elites políticas corruptas, que se enriquecem. Embora o neoliberalismo pretenda criar desenvolvimento compartilhado, é verdade que o compartilhamento nunca é totalmente igualitário — porque uma sociedade totalmente igualitária não é possível."
"O Chile precisa de mais empreendedores, não de manifestantes", conclui Sorman. Paulo Guedes estaria de pleno acordo. E eu também.
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