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Por Percival Puggina

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Tenho setenta e cinco anos e cheguei a essa idade prematuramente, devo dizer. Nasci no tempo da manivela. Só em Havana vi tantos carros antigos quanto na minha infância em Santana do Livramento. Aqueles, aliás, eram os brinquedos dos adultos. Os meus eram de corda como a esplêndida baratinha vermelha conversível, com seus 5 ou 6 centímetros de pura potência. Nos anos 60, cursei arquitetura fazendo operações com uma régua de cálculo e até 1993, colunista do Correio do Povo havia quase 10 anos, ainda escrevia numa Olivetti portátil porque me pareciam sofisticadas e complicadas demais as máquinas elétricas de escrever.

Acho que isso dá uma idéia da distância a que eu estava de um computador no início deste século. Aí, o professor Cezar Saldanha Souza Junior, mestre e querido amigo, me passou uma descompostura pelo meu atraso em relação às novas tecnologias. O doutor Eduardo Henrique de Rose, amigo de fé, irmão, camarada, me instruiu no manuseio de um notebook. O enorme constrangimento inicial com as novas máquinas foi se transformando em amável intimidade. No meio do caminho topei com as facilidades da Internet e me tornei um turista nada acidental, navegador no mundo da comunicação instantânea.

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Assim, chego a este trecho final da vida, com a plena consciência de que nosso país não pode andar mal quando tudo se faz tão ágil. Há quase quarenta anos – quarenta! – venho me dedicando a uma tarefa de formação da consciência política daqueles com quem me comunique. Meu sonho de um Brasil melhor nasceu na redemocratização e foi hospitalizado, logo adiante, por falta de oxigênio, nas alegorias populistas do processo constituinte. Se nele estivesse, eu teria sentado ao lado de Roberto Campos, contra cujas convicções o Brasil escolheu instituir um prodígio histórico mundial: o primeiro estado de bem estar social em nação pobre. De um modo ou outro esse sonho ainda hoje embala muitas noites, seja em mesas de bar, seja em redes sociais, seja no indisfarçável egoísmo organizado dos “coletivos”. Quanto tempo perdido, Senhor!

"O que fazer?", me perguntam com frequência. Os caminhos da democracia, sendo ela feita por gente, precisam de convencimento e formação de amplos consensos. Então, eu creio que expor a verdade sobre atitudes e ações dos agentes políticos, ativos e passivos, é uma forma boa de acelerar isso e é o que tenho feito. O Brasil vive em crise porque seu modelo institucional as estimula e não as resolve. Apenas entra numa bolha que logo adiante cumpre o destino das bolhas. Não podemos nos permitir isso. O Brasil precisa de correções, tanto quanto alguns de seus agentes precisam de corretivos...

Na atual configuração política e institucional do Brasil, não hesito em afirmar: o pior STF da história e um Congresso com os vícios habituais, dedicado, na melhor hipótese a não fazer o que deve, e na pior a fazer o que não deve, assustam tanto quanto a pandemia. Informar para a formação daqueles consensos indispensáveis, retirando da passividade a maioria da população, hoje paciente maior das crises, acaba por expor seus agentes ativos, ameaçando-lhes as carreiras. A grande mídia muito pouco tem servido para isso.

Eugène Ionesco afirmava serem os inimigos da história os que acabam por fazê-la. Nem sempre é, nem precisa ser assim. Se passado se descreve, o futuro se escreve e é possível agilizá-lo. A ideia da intervenção, a propósito, é apenas paralisante porque inibe alternativas e, sabidamente, não vai acontecer. Se acontecesse seria apenas mais uma bolha que explodiria restaurando a crise anterior. Como ocorreu em 1985 e se danificou ainda mais em 1988.