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Por A.B.A.

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O dia que mais temia na minha vida chegou: virei um progressista. Não sei bem ao certo como isso tudo começou, acho que foi lá em meados de 2020 com o Átila falando para ficar em casa (#obrigadoAtila). Talvez tenha sido levemente impulsionado pela vitória de Biden nos EUA, logo eu, que gostava tanto do homem do topete laranja e tweets que mudavam o rumo das bolsas mundo afora. Agora sinto até um vazio no peito, quem é o novo inimigo? Só o Bozo?

Não, espera! Acho que foi lendo textão do meu amigo PSOLISTA no Facebook! Não sei qual dos 9426 produzidos ou compartilhados num período de 50 semanas (hoje valorizo essa nobre alma que abdica de trabalhar, para se dedicar a militância virtual!). Me tornei uma pessoa mais empática e me coloco em seu lugar, uma vítima desse sistema que está aí desde... 2018 né? Não consigo entender agora como não passaram um impitimã ainda ou sequer julgaram ele em Haia, um verdadeiro genocida que matou mais de 200 mil brasileiros.

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Talvez o toque de midas (virtual, é claro) tenha sido as lágrimas do FIUK: logo eu, homem branco de olhos azuis, hétero, casado, cis, pai de uma filha (que por infortúnio herdou nossos genes de pouca melanina na pele, cabelo e olhos) PRI-VI-LE-GI-A-DAS-SO. Hoje consigo entender essa dívida história que eu e minha esposa carregamos mesmo os avós dela sendo colonos da roça (daqueles que pisavam na uva mesmo), e os meus, vejam só: metade fugiu durante a primeira guerra, outros na segunda. E boa parte da minha família foi dizimada pelo Holocausto. Ficou fácil também aplicar conceitos econômicos de uma forma mais empática, entendo que os juros dessa dívida são tão altos que nós nunca conseguiremos saldar ela. Mas calote só o Brasil pode dar, nós devemos trabalhar o resto de nossas vidas para pagar essa dívida que nossos antepassados açoitadores contraíram.

Falando em economia, tudo faz sentido: faço um revisionismo histórico e finalmente decifrei Dilma Rousseff! Entendi o que a nova matriz econômica buscava, e posso gritar que 2016 foi um tremendo golpe contra nossa presidenta (deu crepe agora, não deveria ser presidente mesmo manas?). Também ficou moleza entender o Pai Ciro, que tem as soluções todas para o país. Aliás, entendi que toda a truculência do Ciro é apenas o jeitão dele como a imprensa adora falar! Muito diferente do Bolsonaro, um crápula por sinal!

Começo a seguir novos pensadores contemporâneos como Tico Santa Cruz e Anitta, como não pude notar a genialidade dessas almas antes? #gratidão

Comprei no hotmart um curso em genere neutre, as vezxs confundo com a linguagem do X, ou do @, mas creio que sou mais empático (mais amor, por favor), sinto que iremos derrotar os nazistas, fascistas, negacionistas, terraplanistas, taxistas, tenistas e violinistas amando do jeitinho Black Lives Matter: achei tão linda a indicação deles ao Nobel da Paz, mas como bom brasileir@ me sinto rejeitadx, afinal de contas temos que valorizar a cultur@ nacional d@s Black Blocks, aliás, gostaria de propor para nossa militância tropicalizar o nome para Bloc@ Negrx. Viu, não é tão difícil assim.

Já abandonei a academia que gostava tanto e estou querendo ganhar uma barriga, afinal também não quero ganhar o rótulo de gordofóbico desde aquele fatídico episódio no encontro com Fátima, mas confesso que está um pouco difícil desde que troquei a carne pela alimentação vegana. Meus novos amigos viviam reclamando do preço da carne (culpa do Bozo!), mas agora eu gasto mais comendo tudo sem glúten e sem lactose. Meio estranho.

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Enfim, mas diante de toda essa transformação em um ser mais evoluído, ainda há algo que me incomoda muito: meu cachorro. Explico.

Tenho um Golden Retriever, desses que sempre teve tudo na almofadinha da pata, sabe? Ele é todo adestrado, anda sem guia pelo Barigui e faz o maior sucesso. Agora olho para ele com o mesmo desprezo que olho para mim. Ele tem esse.... privilégio dourado, sinto que ele não tem lugar de latido na sociedade canina e isso está me incomodando profundamente. Quem eu devo procurar? Pensei em trocar ele por um vira-latas, guaipeca SRD para estar mais alinhado com meus nov@s amigxs, não quero ser o caret@ da turma.

Desde já obrigadx,

A.B.A.