A deputada federal Joice Hasselmann (PSL) afirmou que o Palácio do Planalto tem um puxadinho familiar para abrigar os três filhos de Jair Bolsonaro e que nunca houve tanta influência de uma família no poder quanto na atual presidência .
- Muitas vezes eu disse ao presidente: "Me ajude a te ajudar". Fazer puxadinho do Palácio do Planalto familiar não vai funcionar, isso não é bom para ninguém. Nunca houve tanta interferência de família dentro de um poder, nem na época do Sarney. Isso é perigoso para o país - afirmou a deputada, retirada da liderança do PSL , em entrevista nesta segunda-feira no programa Roda Viva, da TV Cultura.
- Nessa mania de transformar os aliados em inimigos, o presidente pode acabar ficando sozinho - alertou ela, acrescentando que os filhos do presidente deveriam ficar "mais quietos e restritos".
- É o presidente de todos. E eu quero que o nosso presidente se comporte como um estadista. Ela reiterou, porém, que continuará apoiando Bolsonaro - enquanto ele defender as promessa de campanha: "Se o presidente cumprir as pautas da campanha, de combate à corrupção, das agendas reformistas, eu vou estar do lado".
O grande erro de Joice é separar o presidente dos seus filhos, como se a ação desses não tivesse o aval do pai, sua permissão prévia, seu sinal verde. Acreditar no contrário é tomar Bolsonaro por um frouxo incapaz de controlar seus rebentos. É ingenuidade.
Carlos Andreazza, em sua coluna de hoje, fala sobre esse projeto "familista" tocado pelo próprio Jair, afirmando que não há espaço para ninguém muito independente - como Joice - nesse núcleo. Diz Andreazza:
Essa gente trai. Tem a índole para o expurgo. Atrai e trai. Atrai, instrumentaliza, manipula, gasta, desgasta – e trai.
[...] Sob esse movimento reacionário populista, apenas os Bolsonaro terão vez; todos os demais a engordar, com cargos, influência e até votos, somente se submetidos à ordem familista, sem aspirações pessoais que extrapolem as do presidente e filhos. Quem, por exemplo, tiver visto o discurso leninista do assessor especial da Presidência Filipe Martins no tal CPAC Brasil, o piquenique de Eduardo Bolsonaro pago com dinheiro público, terá percebido que ele entendeu essa dinâmica; daí por que tenha falado, sem sombra de vergonha, em amor dos brasileiros a Carlos Bolsonaro e irmãos.
Martins vai tão longe por quão longe for o bolsonarismo. O mesmo não se pode dizer de Joice Hasselmann, degredada pela fátua bolsonarista ainda sem saber por quê. Ora, ela desejou ser prefeita de São Paulo; cultivou relações com João Doria e Rodrigo Maia; e ainda crê que os ataques de que é vítima, decorrentes de uma crise artificial forjada pelo próprio Bolsonaro e disparados por seus filhos e asseclas, ocorram sem o aval do presidente.
No universo do bolsonarismo, para que se meça a flexibilidade da República dos Emojis, Hasselmann é considerada independente em excesso.
A entrevista no Roda Viva gerou reações no mundo liberal. Renan Santos, do MBL, considerou a fala da deputada "delusional", fora da realidade, justamente por ela se considerar mais bolsonarista do que Bolsonaro e concentrar toda a crítica aos filhos.
Luciano Ayan julgou a situação "degradante", por Joice parecer disputar espaço com os filhos do presidente - como se tivesse alguma chance nessa batalha - e por não sair da fase de "aconselhamento" ao presidente - que, com 28 anos de Congresso, de bobo não tem nada.
É hora de os liberais reconhecerem essa obviedade: é Jair Bolsonaro quem comanda o show de horrores do bolsonarismo nas redes sociais. Não direta, mas indiretamente, por meio de seus filhos. Não é possível blindar o presidente do que seus filhos fazem, em seu próprio nome. Bolsonaro já deu todos os indícios de que apoia essa estratégia, essa postura. Não se trata de um comportamento de adolescentes rebeldes.
Por conta dessa "negação" de muitos liberais diante da realidade, Luciano Ayan fez uma boa analogia: "Jurassic Park é filme instrutivo para diálogo com os liberais brasileiros. Exemplo: soltam os velociraptors e depois reclamam que estão tocando o terror. Daí saem para aconselhar os velociraptors a mudar o estilo e são devorados. Isso é o liberalismo brasileiro (há exceções)".
Quem não quiser ser devorado, engolido pelo bolsonarismo, terá de ser firme e falar grosso com o pai da coisa, aquele que manda, o chefe. De nada adianta bater nos filhos e poupar o pai. É ele o responsável por essa tática nefasta. Não enxergar - ou não admitir isso é o grande erro de Joice.
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