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Por Carlos Junior, publicado pelo Instituto Liberal

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A Argentina saiu de uma recente eleição com um resultado horroroso e amedrontador. A vitória de Alberto Fernández – aquele mesmo que veio a público pedir a liberdade de Lula – significa a volta do peronismo ao poder, essa tradição política argentina que tanto estrago causou a um país possuidor de um passado promissor. O peronismo é um câncer, um modelo econômico fadado ao fracasso e uma mentalidade desastrosa.

É importante ressaltar que a Argentina já foi um país próspero. Até a década de 1930, o país era mais rico em termos per capita que muitas nações europeias. Isso se deve ao fato de o Estado argentino até a dita década não ser o monstro aglutinador de agora e sim um agente limitado para os padrões latino-americanos. A produção do país rivalizava com potências como Canadá e Austrália. A Argentina também tem a sorte de ter em seu território uma das regiões mais férteis do mundo – o pampa argentino. Tal território é propício ao agronegócio e o país colheu bons frutos com isso.

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Porém, a infâmia na história argentina que jogaria o país na lama e o tornaria mais uma típica republiqueta instável latino-americana surgiria após a Segunda Guerra Mundial: o peronismo. Com uma mistura tosca de justiça social, nacionalismo, estatismo e antiamericanismo, tal fenômeno político fortemente populista não estragou apenas a economia argentina – como irei demonstrar. Ele penetrou fundo no imaginário da população, ao colocar no Estado a obrigação de promover o progresso, o sustento e a eliminação das desigualdades sociais.

Em suma, o peronismo carrega consigo a promessa do governo grátis. A promoção de diversos setores e a nacionalização dos recursos naturais pelo Estado é tipicamente peronismo. Tanto é que a base social de apoio a tal ideologia está essencialmente nos sindicatos – estejam eles em uma versão mais conservadora ou em uma versão mais progressista.

Fato significativo reside na bagunça e na instabilidade políticas deixadas por Perón na Argentina. De 1955 até 1982, nossos hermanos tiveram 15 presidentes. Isso em apenas 27 anos. A instabilidade política permeada por um tempo considerável leva a uma certa instabilidade econômica. O país teve duas ditaduras militares no período, tentativas de golpe e mudanças abruptas de poder, sem falar nos inúmeros assassinatos no período – cerca de 30 mil.

Depois da longa turbulência política, Raúl Alfonsín foi eleito presidente em 1983. Advindo da União Cívica Radical (UCR), partido social-democrata, Alfonsín apresentou o Plano Austral como tentativa de tirar a economia do buraco. Criou uma nova moeda, mas sem qualquer disciplina fiscal. Para piorar, recorreu ao congelamento de preços e salários, o que completou o desastre colossal do plano. Depois do rompimento das ‘’barreiras de preços’’, a inflação voltou com força total e no último ano de mandato chegou à incrível marca de 5000% ao ano. O fiasco de sua gestão foi tamanho que Alfonsín renunciou à presidência cinco meses antes de deixar o cargo.

Em seu lugar, assumiu Carlos Saúl Menem, um peronista de ocasião. Prometeu uma ‘’revolução produtiva’’ aos argentinos, privatizou algumas estatais e adotou a paridade da moeda argentina com o dólar – fato que obrigava o governo a seguir à risca a ortodoxia econômica para a adoção de tal moeda. No início, deu certo. O governo conseguiu controlar a inflação e a economia começou a crescer; mas a irresponsabilidade fiscal e o aumento contínuo da dívida pública, somados com as crises de 1994 no México e em 1997 nos Tigres Asiáticos, derrubaram o começo próspero do governo Menem. Mais um final de governo melancólico para nossos hermanos.

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Na eleição de 1999, nova vitória da UCR, dessa vez com Fernando De La Rúa. Sua falta de visão, aliada a uma escalada de corrupção e um aumento de impostos nada animador, agravou a situação. Para piorar, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, anunciou uma restrição nos saques bancários por um ano. Privados de seu próprio dinheiro e sem ter como se alimentar, os argentinos vão às ruas e dão início a diversos saques em supermercados. La Rúa renuncia em 2001 e pouco depois a moratória da dívida pública é anunciada.

A Argentina terá até 2003 mais dois presidentes. Com a forte desvalorização cambial e inflação galopante, a população argentina ainda estava impossibilitada de sacar seu dinheiro em bancos. A tragédia foi enorme. Como bem registrou o Instituto Mises, ‘’[…] ainda mais impressionante foi a evolução — ou, mais apropriadamente, a involução — da porcentagem de pessoas abaixo da linha de pobreza na grande Buenos Aires.  Uma cifra que chegou a ser de 16,1% em maio de 1994 saltou para 54,3% em outubro de 2002, um valor ainda maior do que o do ano de 1989 (47,3%), quando o país vivia sob hiperinflação.  Em nível nacional, a pobreza chegou a 57,5% da população, a indigência a 27,5% e o desemprego a 21,5%, todos níveis recordes para o país’’.

Os 13 anos do casal Kirchner foram inicialmente prósperos, mas depois terminaram do mesmo jeito melancólico de outrora. Beneficiada por aumento histórico no preço das commodities, a Argentina experimentou um crescimento econômico insustentável a longo prazo. Todos os ciclos de instabilidade política e econômica do país têm uma raiz comum: o peronismo. Esse mito populista ideológico nunca foi extirpado da mentalidade argentina.

Toda essa tragédia parece impensável para um país outrora próspero e invejável no continente, mas é exatamente isso que acontece quando o mito do governo grátis e do Estado todo-poderoso floresce no poder e no imaginário de um povo. No caso argentino, tudo começou com a tragédia chamada peronismo. Como todo populismo, é difícil de eliminar.

Referências:

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1.https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562

2.https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2887

3.https://economia.ig.com.br/2012-06-25/a-solucao-brasileira-para-a-inflacao-funcionou-primeiro-fora-do-pais.html