Por Jocinei Godoy, publicado pelo Instituto Liberal
O Senador Chico Rodrigues (DEM), vice-líder do governo no Senado, parece ter borrado, não as calças, mas dinheiro mesmo, em mais uma ação da Polícia Federal nesta quarta-feira (14), num caso explícito de corrupção. Notícias como essa geralmente levam as pessoas a demonizarem a política, expressando sentimentos de repulsa pelos trabalhos relativos à coisa pública. Entretanto, deve haver um esforço, ainda que hercúleo, para que a política seja vista com bons olhos.
Sua prática sadia deve ser estimulada com a finalidade de que os cidadãos possam desfrutar do bem comum na cidade – pólis. Essa é a expressão primeira do fazer político segundo Platão. Já para Aristóteles, o homem, como alguém destinado a viver em comunidade, é um animal político por natureza, o zoon politikon. Desde o período Antigo até o Contemporâneo, a politica passou por reformulações em seu modo de compreensão e aplicação; porém, a essência de que a política deve ser utilizada como instrumento para a persecução do bem comum se mantém, pelo menos na aparência, firme até hoje.
É claro que alguns personagens históricos teorizaram sobre a política tomando-a como um meio amoral para se chegar a fins egoístas e de pura manutenção de poder. Um exemplo notável foi Nicolau Maquiavel (1469-1527), que, ao retirar as balizas éticas do fazer político, tornou comum e aceitável a prática de más ações pelo Príncipe – leia-se governante – sob a justificativa de se alcançar o bem comum a qualquer custo. Para Maquiavel, o mal pode ser praticado desde que o bem comum seja visado e mantido. Uma espécie de muleta assentada no utilitarismo.
Chico Rodrigues parece ter estudado na escola de Maquiavel, pois, ao falar sobre este flagrante de corrupção em nota, ele disse “estar tranquilo com o fato e que teve o seu lar invadido por apenas ter feito o trabalho como parlamentar trazendo recursos para o combate à COVID-19 na Saúde de Roraima”. Este é o lado sujo da política. O lado em que o dinheiro que deveria ser utilizado para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida do povo em tempos de pandemia é desviado para fins egoístas de ratos políticos que se locupletam com a coisa pública.
O mais tragicômico de tudo isso é que, neste caso, Chico Rodrigues conseguiu a façanha de demonstrar o lado sujo da política em seu duplo sentido, isto é, figurado e literal. O sentido figurado reside na ideia de se utilizar da política como meio de enriquecimento ilícito, ou seja, a prática de corrupção. Já o sentido literal demonstra-se no fato de que foram encontradas cédulas sujas de fezes entre as nádegas de Chico Rodrigues. Apesar de ele ter afirmado que possui um passado limpo e a vida decente, o mesmo não se aplica ao dinheiro encontrado em sua cueca. Talvez, em um ato de aparente descaramento, Chico esteja, com a licença para o uso da expressão popular, “cagando e andando” com o dinheiro suado do povo brasileiro. Ninguém melhor do que Chico Rodrigues para mostrar ao povo o (duplo) lado sujo da política.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS