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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

O Oscar vai para… um homem branco heterossexual!

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Deve ser insuportável viver imbuído da causa do politicamente correto, mergulhado na política identitária, sinalizando virtudes falsas a cada instante. A personagem de Jodie Foster em "O Deus da Carnificina" expressa bem o esforço necessário para manter tais aparências. Como soa cansativo viver pela imagem que outros fazem de você!

Mas eis a realidade em Hollywood. Lá tudo é pela aparência, e há até disputa por causas "corretas" entre os atores. Quem consegue sinalizar mais "bondade" e "altruísmo" entre um e outro contrato milionário negociado com muita rigidez pelos agentes ambiciosos? Não podemos esquecer que atuar, ou seja, se passar por aquilo que não é, representa o ganha pão dessa turma.

E ontem foi noite de Oscar, o momento máximo dessas hipocrisias. Alguém viu, aliás? Parece que cada ano a coisa perde força, incapaz de despertar interesse do público. Alguém viu ao menos três filmes dos indicados para as mais importantes premiações? Quem quer lacrar não consegue lucrar tanto, não é mesmo? As bilheterias desses filmes andam um tanto minguadas.

Não importa. Saíram os resultados, e isso é sempre notícia, ainda que pela inércia de um passado mais glorioso. Eis o critério da imprensa sob o politicamente correto e a política de identidade: dane-se o mérito individual, o importante é julgar os atributos físicos e ver quantas "minorias" foram premiadas.

E para o padrão de Hollywood esse seria considerado um Oscar RACISTA! O comentarista Guga Chacra também pareceu lamentar o resultado:

Hollywood começou a declinar quando passou a adotar a política identitária para tudo que faz. E com a cultura pop tem influência, o mundo corporativo segue na mesma toada, com empresas criando departamentos inteiros para avaliação da linguagem utilizada no ambiente de trabalho, para "empoderar" minorias, para sinalizar falsas virtudes.

Bruna Frascolla considera covardia essa postura, e culpa o departamento de marketing das empresas por esse comportamento pusilânime:

Ações de intimidação nas redes sociais contam com a covardia alheia. Olhem para um curso de comunicação de hoje, que é de onde saem os profissionais de marketing. Pesquise as inclinações políticas ali. Pela minha experiência, Comunicação é, de longe, o curso mais infestado de pós-modernismo que há. Se não houvesse um profissional de marketing antenado às hashtags e recém-saído de um curso de comunicação, será que teríamos problemas como o Sleeping Giants? Dito de uma maneira bem simples, eu creio que os donos de empresa estejam pagando para ter prejuízo e, de quebra, ainda levam a liberdade de expressão para a vala.

Jordan Peterson, que começou a ganhar fama internacional justamente quando se recusou a aceitar do estado a imposição de adotar certos pronomes na linguagem, trata do tema em seu novo livro Beyond Order. Na regra V, ele usa o exemplo de uma profissional que se recusa a definhar na empresa por conta de imposições tóxicas e, na melhor das hipóteses, inúteis sobre linguagem. Recuse-se a continuar fazendo o que odeia, aquilo que sua consciência sabe estar errado, sugere o psicólogo. Das pequenas concessões do cotidiano, isso acaba produzindo um efeito mortal no longo prazo.

Pondé, em sua coluna de hoje, volta a atacar os departamentos de marketing corporativos também: "Em breve, workshops no mundo corporativo, comandados por consultores 'mini-Gretas' de 12 anos, farão com que os colaboradores — nome chique para funcionários — tomem consciência de que são racistas, machistas, misóginos, estupradores e afins. Sim. E, se você se recusar, confirmará o diagnóstico a priori, além, claro, de assinar sua sentença de morte na empresa, ainda mais se já estiver com o prazo de validade vencido, ou seja, perto dos 40 anos".

Parêntese: parece que quando o Pondé deixa de lado sua "Bolsonaro Derangement Syndrome" ele consegue voltar a produzir bons textos, mais atemporais e sobre cultura em vez de política com p minúsculo. Deveria seguir nessa toada. Fecho parêntese.

Voltando ao Oscar "racista"... Na mesma Folha há essa coluna com muitas acusações, colocando toda uma nação como preconceituosa, e nenhum embasamento para sustenta-las. Não há um só dado, uma estatística, nada. Você deve acreditar na acusação gravíssima e ponto. E a solução apresentada é colocar mais colunistas como ela nos veículos de comunicação. Conveniente.

A política identitária infelizmente segue avançando, explorando a culpa da elite, a vaidade de quem precisa sinalizar falsas virtudes, e um baita nicho de mercado. Quem não quer parecer do bem, descolado, de mente aberta e preocupado com os "oprimidos"? Além de não precisar gastar um só minuto estudando a sério para angariar aplausos, como aponta Guzzo sobre essa gente: "Os artistas jamais deram cinco minutos do seu tempo para entender um mínimo a respeito dos assuntos sobre os quais têm posições tão extremadas".

O problema é que isso tudo tem consequências para a vida dos outros. O que é assustador é a nova forma de censura: o medo da cultura do cancelamento. Se no passado o risco era ser mandado para um Gulag pelo Estado, atualmente ele se resume a perder o seu sustento, como ocorreu com Gina Carano, atriz de The Mandalorian, entre tantos outros. O próprio debate civilizado está morrendo, pois se você não aceita as premissas dos canceladores, você já será rotulado de alguém com sentimentos ruins, com intenções terríveis.

Que tipo de sociedade pode ser construída assim? Que tecido social resiste a esse tribalismo nefasto? E quais resultados teremos num sistema que não mais valoriza o mérito individual, mas sim as características físicas "certas" de cada um? Como combater o racismo fomentando a divisão em raças? Tudo parece e é bastante contraditório. E não há como terminar bem.

Enquanto o pior não acontece, vamos celebrar os lapsos de bom senso da patota. Anthony Hopkins, assim como Morgan Freeman, por exemplo, é simplesmente um ator fenomenal, e merece uma estatueta. Ele fez inclusive um filme baseado no livro de Philip Roth sobre racismo e os perigos de um julgamento precipitado. A cor da sua pele só é do interesse de quem não se importa com aquilo que realmente importa!

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