Por Pedro Henrique Duarte, publicado pelo Instituto Liberal
Nos últimos cem anos, o mundo presenciou um debate cada vez mais intenso entre duas correntes ideológicas com valores opostos: o socialismo e o liberalismo. Enquanto a primeira acredita em princípios coletivistas, a segunda preza por valores individualistas, e ambas idealizam uma sociedade na qual seus valores sejam aplicados de forma ampla e refletidos na atuação dos governos.
É exatamente neste ponto que tais correntes mais divergem: qual deveria ser o papel do governo e como ele deveria atuar? Os socialistas veem o Estado como um pai, um provedor que deve eliminar as injustiças do mundo, enquanto os liberais acreditam que o governo tem o papel de árbitro, não participante da economia e provedor de uma única coisa: segurança.
Em praticamente todos os países democráticos do mundo, o controle passou pelas mãos de indivíduos e partidos que flertam com ambas as ideologias em períodos distintos, mas é difícil encontrar um país que tenha de fato aplicado todos os mandamentos de uma dessas doutrinas por longas janelas temporais. Por que isso acontece? É possível ou viável uma sociedade, de fato, escolher um “lado” no longo prazo?
A História e as características do ser humano nos dizem que não. O ser humano possui características e vieses que nos fazem querer os dois, de forma paradoxal. De um lado, a filosofia liberal produz comprovadamente mais prosperidade por meio da economia de mercado e das trocas voluntárias no longo prazo, devido à característica humana de buscar sempre maximizar sua satisfação.
Do outro lado, alguns vieses humanos, em especial a preferência intertemporal e a tendência à busca por minimização de esforços, nos fazem preferir medidas de efeito imediato e claro, ainda que maléficas no longo prazo: as medidas de cunho socialista. Por conta desses vieses, temos também dificuldade em fazer dietas, poupar, parar de fumar ou abrir mão de satisfação no curto prazo para um objetivo maior no futuro. Ao mesmo tempo, porém, a autonomia e a liberdade são fatores essenciais para nossa felicidade e o progresso, e as medidas intervencionistas nos privam de ambas.
Soma-se a isso o fato de que, por sermos programados para evoluir, vemos as conquistas obtidas como certas e buscamos melhorar sempre em relação ao nosso estado atual. Por esse motivo, quando alguns países aplicaram o playbook liberal ao longo da história e desfrutaram de períodos de grande progresso, que refletiram em diminuição da pobreza e ganhos no padrão de vida da população, mazelas antes irrelevantes se tornaram visíveis e incômodas, e a tentação de resolver as coisas na “canetada” falou mais alto. Esse foi o caso dos Estados Unidos na década de 1930, por exemplo.
Tais características geram uma alternância no poder ao longo do tempo e, muitas vezes, um abrandamento da aplicação das correntes ideológicas para adequação ao “eleitor médio”. Elas também acabam por gerar uma dificuldade da corrente liberal em “vender” suas ideias, principalmente para os eleitores pouco instruídos, que não conseguem perceber uma relação clara de causa e efeito nesses princípios.
Para o lado liberal, a reflexão que fica é: como vender melhor seus ideais e conter o ímpeto humano por soluções “fáceis” de curto prazo? Responder a essas perguntas é crucial para seu sucesso no longo prazo, mas é mais difícil do que parece, vide a alternância de visões que vivemos até então. Se já é difícil para uma pessoa se disciplinar visando a resultados em um futuro distante, imagine para uma sociedade como um todo. Enquanto não desvendamos a fórmula para tal, contentemo-nos com períodos de liberdade e progresso e com os passivos e atrasos gerados por fases de maior intervenção. A mente humana pode ser paradoxal, a sociedade, mais ainda.
Sobre o autor: Pedro Henrique Duarte é colaborador no Instituto Líderes do Amanhã.
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