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O partido da vida: postergar existência não pode ser única meta
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O tormento não me deixa escolha? Bem, eu escolho o tormento. (Karl Kraus)

Um tema que sempre me interessou e que vinha sendo debatido por pensadores como Luiz Felipe Pondé e João Pereira Coutinho merece ainda mais atenção após o coronavírus. As gerações recentes parecem adotar como única meta na vida ter mais anos de vida. O culto à saúde perfeita, parindo seitas fanáticas de estilo de vida "higiênico", onde até o sexo precisa ser "clean", já era algo preocupante, e ficou ainda mais.

Foi com Coutinho, por exemplo, que aprendi que a política radical de combate ao fumo e ao câncer que ele pode causar teve seu ápice no... nazismo! Isso mesmo: Hitler era um obcecado com essa mania de "saúde perfeita":

Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis. Miseráveis mas realizadas: no mundo moderno, não fumar é marca de saúde física, mental --e, atenção, gente, moral também. Basta ver as medidas sanitárias que a Europa pretende aplicar. A curto prazo, os pacotes de cigarros dos europeus terão imagens-choque para afastar fumantes ativos ou passivos, presentes ou futuros. Como no Brasil. Mas pior, muito pior que o Brasil: corpos mutilados pelo câncer, cadáveres putrefatos. E, claro, a imagem triste de um pênis triste, precocemente arruinado. A idéia não é prevenir. Os fanáticos querem mais: querem humilhar o fumante, enfiar o fumante numa jaula de circo e dizer: "Olhem só como é decadente! Olhem só como é impotente!" Hitler não faria melhor.

Pois bem: essa lembrança veio à mente após ver o vídeo de Hugo Salinas Price, que tem circulado pelas redes sociais. Com 88 anos, o mexicano afirmou que gosta do seu charuto, mesmo sabendo que o fumo mata sete milhões por ano. Ele escolhe o "partido da vida", em vez de se deixar tomar pelo pânico dos que só pensam na morte o tempo todo. Vejam:

Essa sempre foi minha filosofia de vida. Entendo o medo da morte, acho que devemos buscar um equilíbrio, sermos responsáveis e rejeitar o hedonismo inconsequente. Mas isso não pode nos levar ao outro extremo: uma vida seca, desprovida de prazeres em nome do medo de morrer. Não podemos ser paranóicos, deixar o pânico nos contagiar, paralisar.

A meta da vida não pode ser apenas postergar os anos de nossa existência. É preciso sempre perguntar qual vida estamos tentando prolongar. Apenas sobreviver é muito pouco. Viver só pensando na morte é morrer em vida. O conservador Matt Walsh tem batido nessa tecla também:

O isolamento, na melhor das hipóteses, posterga o contato com o covid-19. Eventualmente teremos de voltar a viver, e então seremos, muitos, contaminados. E não haverá vacina ainda, provavelmente. Isolamento não é panaceia. Mas o medo paralisa. E pode matar em vida. Nada mais triste do que um zumbi, um morto-vivo, uma carcaça vazia que está viva apenas oficialmente, de forma científica, pois o coração continua batendo, mas já deixou toda a vida interior se esvair faz tempo...

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