• Carregando...

Fui convidado em cima da hora para uma breve palestra nesta quarta, em evento na South Florida Bible College com o ex-presidente Jair Bolsonaro. O tema sugerido era sobre negócios e liderança. Aproveitei a ocasião para falar sobre minha visão do que faz um bom líder.

A primeira virtude deve ser a coragem, como apontava Aristoteles. Sem coragem, nenhum líder assume de fato as responsabilidades por suas escolhas, tendo de tomar decisões difíceis em momentos delicados. Quem fica buscando bode expiatório para os fracassos jamais será um bom líder.

Coragem não é ausência de medo, mas sim dominar o medo. Pular do alto de um prédio (ou criticar certo ministro supremo) não é um ato corajoso, e sim suicida. O bom líder tem coragem, mas prudência, cautela, responsabilidade. Ele precisa, porém, assumir riscos. Churchill ia até locais ameaçados pelos nazistas na guerra, não ficava escondido num bunker.

O líder precisa inspirar com sua visão, com suas ações mais do que com suas palavras. É como a piada do general português, que quis entender porque o general adversário usava uma camisa vermelha. Seu subalterno explicou que era para não deixar que seus soldados vissem o sangue de seus ferimentos, para não baixar a moral da tropa. Imediatamente o general portuga pediu uma calça marrom...

Brincadeira à parte, que tipo de líder manda, numa pandemia, todo mundo ficar em casa e só aparece usando duas máscaras e instilando pânico no povo? Um líder verdadeiro iria até uma padaria com o povo, ou daria um mergulho no mar ao lado das pessoas, para gerar confiança, para mostrar que a vida não pode parar por puro medo, já que não podemos simplesmente ficar sem viver e trabalhar - em especial os mais pobres.

Além da coragem e da inspiração, o bom líder sabe escolher boas equipes e delegar autoridade. O líder medíocre quer se cercar de gente ainda pior, com medo de ser humilhado e superado. O bom líder seleciona pessoas melhores do que ele, transfere autonomia e cobra resultados. O líder decente escolhe um Posto Ipiranga, enquanto um medíocre aponta postes para cargos importantes.

Uma forma boa de avaliar tais escolhas é o destino dessa equipe depois da missão dada. Os subalternos de um bom líder acabam em ascensão, em cargos como governador, senador, deputado. Já os ministros de um líder medíocre (e corrupto) vão parar na prisão, e vivem à sombra do seu ex-chefe, sem qualquer chance de voo próprio.

Como mostrou o general McChristal em "Time de Times", montar equipes ágeis e flexíveis com autonomia para a tomada de decisões é fundamental, para não engessar a hierarquia com o centralismo burocrático. O líder medíocre quer comandar tudo nos mínimos detalhes, pois não confia em ninguém. O bom líder faz o contrário, mesmo sabendo que haverá traição, que alguns vão tentar lhe dar facadas nas costas.

Montar um time com pano de fundo diverso, com perfis distintos e até culturas diferentes faz sentido, para trazer ar fresco e debates abertos para a equipe. Não confundir isso com montar um time com base na política identitária e na vitimização woke. Criar equipe eficiente não é fazer um filme da Disney ou lacrar para "progressistas", e sim focar na meritocracia.

Liderança parece ser algo mais natural do que aprendido, e o bom líder não deve ser muito vaidoso, buscar os créditos de todos os feitos e se livrar da culpa de todos os malfeitos. Ele atrai para si as críticas, com casca grossa e resiliência, justamente para permitir o trabalho de sua equipe, mirando nos resultados.

Líder só preocupado com sua biografia não costuma ser bom líder. Líder preocupado genuinamente com o próximo sim, carrega o fardo da liderança para melhorar a vida dos outros. Churchill dizia que a diferença entre um estadista e um populista é que este só pensa nas próximas eleições, enquanto aquele pensa nas próximas gerações. O bom líder é um estadista, não um populista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]