Tema recorrente em meus textos é o crescente abismo entre a elite "progressista" cosmopolita e o restante do povo. A visão dessa elite, presa em sua bolha, é um tanto preconceituosa. Vale lembrar como Hillary Clinton se referiu a boa parte dos eleitores de Trump: os deploráveis. No caso do Brexit, a mesma coisa: os britânicos que queriam sair das amarras globalistas e defender sua soberania nacional foram classificados como um bando de alienados e ignorantes, sendo que um dos maiores pensadores britânicos vivos, o filósofo Roger Scruton, apoiava a saída.
No Brasil o leitor deve lembrar de como a filósofa Marilena Chaui se referiu à classe média, numa palestra ao lado do ex-presidente Lula, que riu da definição: são todos, segundo ela, uns fascistas. Quem não se recorda direito, eis o trecho:
O mesmo preconceito foi destilado pela jornalista Eliane Cantanhede em sua coluna no Estadão este domingo. Ela escreveu:
[...] o fim da era PT com a sucessão de mensalão e petrolão destampou uma nova panela de pressão: o que há de pior na pior direita, o discurso assassino das armas, a falsa religiosidade que rouba dos pobres e infelizes, a crueldade contra negros e a comunidade LGBT, a posição retrógrada sobre gênero disfarçada como defesa da família. Os recuos no combate à corrupção e essa barafunda vieram acompanhados de retrocessos em Meio Ambiente, Cultura, Direitos Humanos, pesquisa, educação, política externa. E não se fala aqui do governo, ou não apenas do governo, mas de toda uma classe média que saiu do armário para se assumir armamentista, racista, homofóbica... cruel.
Cruel é esse preconceito todo com qualquer coisa que não seja esquerdismo em nosso país. Defender o direito à arma, por exemplo, é a coisa mais básica nos EUA, mas a jornalista considera coisa de gente tacanha. A esquerda que trata a direita como obscurantista e anti-ciência defende ideologia de gênero, uma aberração subjetivista que mata a biologia, ou cai na histeria alarmista do aquecimento global que iria derreter o planeta já, segundo Al Gore e companhia.
No fundo, essa elite "progressista" não consegue esconder seu desprezo por quem acredita em valores como família, religião e tradição, quem não adere à cartilha politicamente correta dessa turma que gosta de afetar virtudes, falar em nome da pluralidade e tolerância, sendo que não tolera nem respeita nada fora de seu mundinho fechado. Resta só rotular quase toda a classe média de armamentista, racista e homofóbica. É, de fato, cruel mesmo...