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Bolsonaro jamais foi unanimidade na direita. Ao contrário: a maioria dos liberais e muitos conservadores sempre o enxergaram como uma espécie de "mal necessário". Quando ele montou sua equipe, porém, houve um voto de confiança: o governo de fato apresentou uma agenda de reformas liberais e vários ministros técnicos.

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Havia dúvidas de quanto tempo Paulo Guedes duraria. Houve, no caminho, vários tropeços também, em que pese a aprovação de uma robusta reforma previdenciária. Mas o aparente afastamento da bandeira ética intransigente, os contínuos conflitos com o Congresso, a postura tóxica da militância nas redes sociais, tudo isso foi produzindo decepção e alguns desembarques no caminho.

A postura do presidente em relação ao coronavírus, chamado por ele de "gripezinha", foi a gota d'água para muitos. Desinibidos, estimulados pela revolta crescente, passaram a chama-lo de "sociopata", assim como quem quer que coloque em dúvida a receita mais drástica de isolamento quase total ou alerte para os custos econômicos.

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Entendo a angústia, o pânico. Entendo, também, a revolta com a conduta irresponsável do presidente. Mas não posso me calar diante de gente que se diz liberal ou mesmo conservadora e passou a tratar o governo como pior do que o petista até, e que não se importa de cerrar fileira ao lado de tucanos ou mesmo socialistas para demonizar todo aquele que ainda consegue reconhecer méritos no governo como um todo.

Bolsonaro não é Trump, certamente. Mas nos Estados Unidos, os formadores de opinião conservadores estão fazendo alertas parecidos com os de Bolsonaro, por mais que de forma bem diferente. Matt Walsh, Candace Owens, Ben Shapiro, Michael Knowles e tantos outros questionam as medidas de isolamento também. São todos "sociopatas"?

“Não acho que as pessoas entendam o que significa depressão, o que isso fará com suas famílias e entes queridos. Muitos têm a ilusão de que as coisas vão voltar magicamente de onde paramos. Não entendem que nossas vidas estão sendo mudadas profundamente agora, e não para melhor", escreveu o conservador Matt Walsh. Preocupação de psicopata?

Esses eram consensos conservadores até ontem: a mídia tem viés de esquerda e aumenta o pânico, pois ele vende; devemos evitar a "tirania dos especialistas"; cientificismo arrogante não é ciência; dilemas demandam escolhas com perdas inevitáveis; não há solução mágica; não se monopoliza boas intenções num debate.

Qual não foi minha surpresa ao ver tantos colegas "conservadores" abandonarem tudo isso da noite para o dia, dando as mãos a esquerdistas demagogos da imprensa para atacar o governo, disseminar histeria, chamar de "sociopata" quem mostra o custo econômico e social do isolamento etc!

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A coisa mais nojenta que vi nessa história toda do coronavírus, mesmo descontando o pânico de muitos, foi a tentativa de se colocar como o único preocupado com os velhinhos, enquanto os "utilitaristas" são podres por dentro, só pensam em economia. Uma tática sórdida de "debate".

Meus colegas conservadores, que sempre apontaram para o evidente viés ideológico da imprensa, são capazes hoje de cerrar fileira ao lado da patota corporativista, a turma do "ninguém solta a mão de ninguém", se for para atacar o governo. Foram absorvidos pelo sistema? Que triste.

Quando começam a atacar gente séria e responsável como Guedes, Moro e Mandetta é quando Bolsonaro e outros concluem que de nada adiantaria eles se tornarem mais moderados, pois continuariam sendo atacados por quem cuja agenda é a derrubada do governo.

Eu sou do tempo em que falar que a imprensa potencializa notícias ruins e muitas vezes espalha o alarmismo e a histeria não era "fascismo", absurdo chocante ou sequer algo controverso, mas sim o óbvio ululante pela própria essência do jornalismo e da natureza humana.

Muitos "conservadores", talvez mais preocupados com a ala radical do bolsonarismo, passaram a agir como advogados de defesa de militantes disfarçados de jornalistas, que até "ontem" eles denunciavam. Aos que reclamam do fato de eu expor a hipocrisia e a insensibilidade dessa turma, lembro que escrevi um bestseller sobre a esquerda caviar. É o que venho fazendo faz tempo! Fui eu quem mudou?

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Sou acusado por alguns de "minion", de "gado" ou de "bolsonarista" por não concluir que este governo é pior do que o PT, sendo que sempre critiquei duramente a ala olavista. Posso, então, chamar os “conservadores” que só fazem atacar Bolsonaro e não conseguem sequer criticar militantes de esquerda disfarçados de jornalistas de "petralhas"?

É muito grande a decepção de ver meus colegas de "direita" puxando o saco de "jornalistas" militantes que dormem e acordam pensando em como derrubar o presidente. É assustador vê-los fazer vista grossa para censura em redes sociais só porque o alvo foi Bolsonaro. É lamentável observar a covardia deles diante de quem diz ser liberal enquanto idolatra um esquerdista como Obama. É temerário vê-los enaltecendo a "tirania dos especialistas" que combatiam antes, permitindo que arrogantes leigos falem em nome exclusivo da "ciência", os mesmos que caem na ladainha do alarmismo do "aquecimento global". E á asqueroso vê-los usando as mesmas táticas podres que denunciavam ainda há pouco, como o monopólio das virtudes num debate, o sensacionalismo barato que coloca quem não concorda com os meios como "assassino de velhinhos".

“Difícil administrar um reino onde uma parte tem medo da morte, outra tem medo da fome... e a terceira quer atear fogo no castelo. Espero que, ao final, os que têm medo da morte e os que têm medo da fome se unam contra os que querem atear fogo no castelo". A citação é de fonte desconhecida, mas é certeira. Eu esperava que os conservadores estivessem unidos contra os que desejam atear fogo em tudo. Infelizmente, vejo muitos de mãos dadas a esses golpistas.

Conservador é um sujeito um tanto isolado, pois rejeita patotas, tribos, grupinho. Roger Scruton constatou que os conservadores podem ser chatos, mas estão com a razão. A primeira virtude é a coragem. Quem se curva diante da necessidade de rebanho, de andar em grupinho onde "ninguém solta a mão de ninguém", é qualquer coisa, menos conservador!