Nesta terça o Brasil todo teve a confirmação de uma notícia muito triste, logo após uma tragédia que ceifou a vida de cinco pessoas - duas crianças - num atentado com facão numa creche em Saudades, SC: o falecimento do humorista Paulo Gustavo. As redes sociais enlutaram imediatamente, com inúmeras homenagens àquele que fez tanta gente se divertir. Eu prestei a minha:
Meus sentimentos aos parentes e amigos do Paulo Gustavo, humorista talentoso e pessoa com alto astral. Que sua partida sirva pra lembrarmos de que, antes de qualquer outra coisa, somos todos seres humanos no mesmo barco. Ele foi capaz de unir em prol da torcida por sua vida. RIP.
E talvez essa seja a grande marca de sua luta: todos estavam torcendo por ele! Vi apenas um ou outro apontando que o humorista ganhou toda atenção, enquanto o massacre perto de Chapecó teria passado batido. Primeiro: não é verdade, pois gerou comoção nacional e muitos lamentaram profundamente. Segundo, pessoas famosas, figuras públicas, acabam tendo mais impacto pois nos sentidos próximos delas, ainda mais na era das redes sociais, quando acompanhamos suas intimidades.
O presidente Jair Bolsonaro também se manifestou na madrugada desta quarta-feira sobre a morte do humorista. O ator, que tinha 42 anos, era casado e deixa dois filhos, os gêmeos Gael e Romeu, de um ano. "Meus votos de pesar pelo passamento do ator e diretor Paulo Gustavo, que com seu talento e carisma conquistou o carinho de todo Brasil. Que Deus o receba com alegria e conforte o coração de seus familiares e amigos, bem como de todos aqueles vitimados nessa luta contra a Covid", disse o presidente.
Era para tudo ter parado por aí, e com respeito aos parentes do falecido. Homenagens pipocaram, com vários postando fotos ao lado dele. Uma mensagem bonita. Mas não ficou por aí. Imediatamente após a notícia, com seu sangue ainda quente, já tinha gente politizando a morte, só para atacar Bolsonaro. Foi a coisa mais abjeta que vi nos últimos tempos nessas redes sociais, especialmente no Twitter, uma Cracolândia virtual, a maior aglomeração de cretinos que existe.
O mais famoso foi Paulo Coelho. Com mais de 15 milhões de seguidores no Twitter, eis o que o escritor de autoajuda considerou adequado publicar:
Não satisfeito, e mesmo após forte reação contra essa demonstração de canalhice, o escritor voltou para compartilha essa outra mensagem:
Na esteira do escritor defensor do ladrão Lula, os PsolKids do MBL - Moribundos Buscam Likes? - partiram para a mesma demagogia canalha, insensível:
Ambos apagaram em seguida, mas o print é eterno e expressa melhor o que sentiram antes de filtros ou de avaliar o resultado. É de um grau de monstruosidade assustador. Guilherme, o dono desta Gazeta, já me deu conselhos sobre minha postura, defendendo que é mais nobre assumir que o outro lado está no erro, não que é maligno. Concordo quase sempre, e tento me policiar - apesar de nem sempre conseguir. Mas como considerar que são pessoas apenas equivocadas que fazem esse tipo de coisa abjeta? Sambar em cima de caixão que nem fechou para fazer politicagem é desumano!
Essa turma do MBL já está igual ao Felipe Neto, imitador de focas que tem dado "aula" até no Instituto Lula agora, além de fazer lives com o ministro Barroso. Neto também partiu para o absurdo:
Deixando de lado os ensinamentos cristãos, confesso que não me contive e precisei desabafar para conseguir dormir. Eis o que escrevi ontem à noite: Parem de fazer demagogia e politicagem com as mortes, seus lixos humanos! Com 42 anos, em quantos países da dimensão do Brasil alguém já teria sido vacinado há várias semanas? Talvez só nos EUA, se tanto. Respeitem a vida, o luto e nossa inteligência, abutres podres!
Leandro Ruschel também mostrou a perversidade da tática:
Alguns "haters" falando que é fácil falar quando se mora nos Estados Unidos e foi vacinado. Mas vamos pegar o meu caso, então: recebi a primeira dose no final de fevereiro, e nem sei explicar por que fui sorteado, já que na época não era a minha faixa etária que estava recebendo a vacina. Paulo Gustavo já estava internado em meados de março. Assumindo que teve contato com o vírus uma semana antes e que a vacina leva umas duas semanas para surtir efeito imunizante, ele teria que ser vacinado em meados de fevereiro. Não teria acontecido nem aqui, nos Estados Unidos!
Tentando ser muito generoso com essas pessoas, posso entender a sensação que o medo produz em alguns, e a busca de bodes expiatórios derivada disso. Mas há limite. Ou deveria haver. Dançar em cadáveres para fins políticos é podre demais, é nojento, asqueroso. Se é para extravasar a revolta com "alguém", que seja com o maldito vírus chinês, que tem levado tanta gente boa.
Eu não sei se as pessoas estão piorando ou se sempre teve tanto canalha e as redes sociais apenas os colocaram em evidência. Mas arrisco um palpite de que o clima vem se deteriorando sim, por tudo passou a ser politizado num tribalismo tosco. Se perdermos a capacidade de lembrar que atrás de cada visão política de mundo há um ser humano, então a humanidade já perdeu, já fomos derrotados.
Descanse em paz, Paulo Gustavo! E meus pêsames aos familiares e amigos próximos, cuja dor nesse momento deveria ser respeitada por todos.
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