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A expectativa era grande. Sergio Moro apresentaria provas cabais de ingerência do presidente na Polícia Federal, traria novidades, acusaria Bolsonaro de crimes. Nada disso aconteceu. Após o depoimento de oito horas do ex-ministro vazar à imprensa, o que vimos foi o anticlímax de quem esperava ali a pá de cal de Bolsonaro, seu enterro político.

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Conforme eu havia alertado no fim de semana, quem quer que tivesse lido com calma e sem paixão a fala de Moro ao anunciar sua saída do ministério já saberia que ele tomou o cuidado de não denunciar qualquer crime. Intenção, afinal, não é ato. Você pode ter a intenção de trair alguém, mas a traição só ocorre se houver a traição. Não temos o crime-ideia, como no Big Brother. Aqui está a thread que escrevi no dia do depoimento de Moro:

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Esse mesmo leitor, que me alertou para isso, comentou hoje, após a repercussão do depoimento: "Resumo da ópera da saída e do depoimento do Moro: a mídia tomou as palavras de Moro em seu discurso de saída não pelo valor de face, mas a muitos decibéis acima, fez sensacionalismo e agora, quando veio o depoimento, que basicamente repetiu o discurso de saída, tem-se a impressão de que Moro ficou menor, deu um tiro de festim, como você mesmo disse... A própria mídia não percebeu que ajudou a inflar Moro demais e, agora, veio a realidade e, assim, na prática, a mídia ajudou a diminuir o Moro e a tornar o presidente, por efeito comparação, maior do que estava na sexta passada". E o leitor concluiu: "Jacobinismo midiático dá nisso: tiro que sai pela culatra".

Comentei sobre isso no 3em1 desta terça e no Jornal da Manhã hoje cedo:

Eis a análise dos fatos, sem torcida. Mas há muita torcida lá fora, na mídia. Tem jornalista dizendo agora que foi a militância bolsonarista quem forjou grande expectativa com o depoimento de Moro, só para depois constatar que foi frustrante. Aí não! Os "radicais de centro" estavam em polvorosa ontem, e ficaram bem decepcionados depois. Nem TUDO é culpa do Bolsonaro!

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No mais, a escolha para assumir a superintendência do Rio representa mais uma pedra no sapato dos adversários do presidente. Tácio Muzzi tem aval de Carlos Henrique Oliveira, o superintendente até ontem, que foi promovido pelo novo diretor-geral, e já foi o interino no cargo. Não era a escolha da família Bolsonaro, como reconhece a Folha:

Diante dessa enorme decepção, os inimigos do governo voltam a atenção para as negociações com o centrão. O presidente nomeou Fernando Marcondes de Araújo Leão para o cargo de diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A portaria assinada pelo ministro da Casa Civil, Braga Netto, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira. Leão foi indicado pelo PP, partido que faz parte do "Centrão", para o departamento que tem orçamento de R$ 1,1 bilhão em 2020.

Legítimo não gostar nada dessa aproximação, mas não dá para deixar de apontar para a incoerência dos adversários do governo. Ironizei tal postura no Twitter mais cedo:

A sensação que fica é que não gostaram de QUAL centrão foi chamado para "conversar". Se fosse a turma do Rodrigo Maia estava tudo bem?! É preciso constatar: não há crime em si nisso. Quem não gostou pode sempre tentar derrotar o presidente nas urnas. Mas sem golpismo...

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O que vai se configurando é um governo no estilo Temer, só que melhorado. Ainda conta com bons ministros, uma agenda virtuosa, ainda que desfigurada parcialmente pela pandemia e pela necessidade de trazer o centrão para o jogo para garantir alguma governabilidade e evitar o impeachment.

Mas Bolsonaro sobrevive. É resiliente. Não é um zumbi, um morto-vivo, mas terá de ceder anéis para manter os dedos. Infelizmente, isso é parte da política real, sem romantismo ou idealismo. Ironicamente, os "radicais de centro" sempre entenderam isso. Quando era FHC ou Temer no governo. Com Bolsonaro, eles não aceitam, viram jacobinos puristas, e demandam o impeachment. É esse duplo padrão hipócrita que chama a atenção do povo fora da bolha...