Por Carlos Júnior, publicado pelo Instituto Liberal
Passados 21 anos de regime militar, a esquerda brasileira dominou todos os campos da luta política e ideológica. Conseguiu por mérito ao seguir à risca a estratégia gramsciana, mas também por incompetência dos generais que governaram o Brasil. Positivistas que eram, renegaram a luta política e focaram na luta armada como combate eficiente aos esquerdistas. Com isso, a direita política morreu. Não no imaginário popular, sendo o povo brasileiro conservador, mas nas disputas de poder.
A ascensão do PT foi o ponto máximo de domínio das esquerdas no Brasil. Os petistas herdaram um país governado por outro esquerdista, Fernando Henrique Cardoso – um social democrata de carteirinha e ícone da esquerda chique. Na mídia, nas universidades e nas elites, controle hegemônico total. Tanto é que o máximo de direita possível foram algumas figuras isoladas do finado PFL – hoje DEM. Estávamos presenciando a morte da democracia liberal, com apenas um dos lados do espectro político no poder.
No entanto, essa configuração não iria durar para sempre. As burradas feitas pelo PT custariam caro ao esquema de poder por ele montado. A derrocada econômica, o crescimento da violência e a exposição da corrupção pela Lava Jato colocaram milhões nas ruas contra o governo petista de Dilma Rousseff. Ela foi cassada e tal movimento abriu caminho a um retorno de uma direita na política. Jair Bolsonaro conseguiu personificar as aspirações nacionais e foi eleito presidente em uma eleição simbólica e historicamente inesquecível.
Falamos da esquerda, falamos da direita. E aqueles políticos que nunca tomam posição ideológica e continuam como senhores intermináveis de nossa República? São eles os componentes do estamento burocrático, termo cunhado pelo sociólogo Raymundo Faoro, um dos fundadores do PT. Faoro acreditava que a luta de classe no Brasil não era a de proletariado versus burguesia e sim de povo contra estamento burocrático. Essa visão, apesar de ter sido utilizada pela esquerda petista, até que não é totalmente equivocada.
O estamento burocrático se alia com quem estiver no poder. Isso é fato. Mas não pensem que no contexto brasileiro ele não tem preferência por nenhum dos lados. Ora, se a esquerda quer mais Estado e maior controle governamental na economia e na vida do cidadão, melhor para o estamento burocrático. Quanto maior for o tamanho da máquina estatal, maior será o raio de ação, já que seus representantes vivem para utilizá-lo a seu bel-prazer. Não podemos esquecer também a nossa tradição patrimonialista herdada de Portugal, onde público e privado não se dissociam.
Se a pauta dos costumes faz toda a diferença para diferenciarmos esquerda e direita, o estamento burocrático joga no lixo tal preocupação. O MDB é o representante máximo da velha elite patrimonialista; nele podem ser encontradas tanto figuras como Marta Suplicy, progressista de carteirinha, quanto o folclórico Eduardo Cunha, que sempre era eleito por uma base eleitoral evangélica no Rio de Janeiro.
No momento, a onda conservadora no Brasil representa um perigo aos velhos grupos patrimonialistas. Suas pautas são o conservadorismo moral, o liberalismo econômico, o combate à corrupção com a Lava Jato e o reformismo da máquina pública. Todas essas bandeiras representam uma autonomia maior do indivíduo frente ao Estado, fato que ameaça o poder do estamento burocrático. Por isso suas ações estão concentradas em fritar o presidente Bolsonaro e salvar a própria pele.
Não é simbólico que Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre – ambos fiéis ao monstro patrimonialista – estejam em ampla sintonia para aprovarem medidas em clara oposição às bandeiras de Bolsonaro e dos seus apoiadores? O partido de ambos é o DEM, que na teoria seria um partido fiel ao liberalismo econômico, mas foi peça-chave na aprovação do novo fundo partidário que aumentou as despesas públicas. Tal fundo contou também com o generoso apoio do PT. Esquerda e estamento burocrático juntos contra o povo. Não é novidade alguma.
Os conservadores brasileiros podem encontrar bons aliados fora de seu círculo. Alguns bons liberais do Partido Novo sempre votaram com o governo, ponto interessante e merecedor de positivo destaque. Mas é necessário conhecer seus adversários para além da esquerda. O estamento burocrático já deu inúmeras provas de qual lado está. E ele fará de tudo para estancar a onda conservadora que inundou positivamente o Brasil.
Referências:
*Carlos Júnior é jornalista.