O editorial do Estadão desta segunda falou de uma pesquisa que mostra como a insatisfação com a política atual alimenta o populismo. "Mesmo com as dificuldades políticas que ora desafiam vários dos líderes populistas que chegaram ao poder nos últimos anos", diz o jornal, "o sentimento de desconforto de parte considerável da sociedade que alimentou o discurso desses demagogos, inclusive no Brasil, mostra-se ainda bastante vigoroso". A base foi uma ampla pesquisa do instituto Ipsos, de cujos resultados se pode depreender que eventuais reveses eleitorais de alguns populistas não significarão necessariamente o fim da onda que os impulsionou.
Curioso o jornal chamar de populistas apenas os líderes atrelados à direita nacionalista. Quer dizer que Obama não era um populista? Só Trump? Logo Obama, que oferecia soluções mágicas para o racismo, para a economia, para a saúde? Tirar recursos dos mais ricos e distribuir não é a essência do populismo? E não é exatamente o que prega a esquerda?
Ao definir como populista só os políticos mais à direita, que se vendem como líderes fortes que vão desafiar o establishment corrupto, a mídia mainstream ignora o principal fator que alimenta esse nacional-populismo de direita: a bolha "progressista" que tem afastado, de fato, classe política e jornalística dos anseios do povo. No geral, 70% dos entrevistados consideram que a economia de seus países está capturada pelos interesses dos ricos e dos poderosos. Além disso, 66% entendem que a política tradicional ignora “pessoas como eu”, ou seja, gente comum. Pode-se analisar isso como alienação desse povo, ou tentar entender que, realmente, há um abismo entre elite governante e povo governado.
O jornal chama de xenofobia, por exemplo, o incômodo de muitos com a atual política imigratória no mundo. Não é tão simples: há o receio com o desemprego, mas também o fator cultural, que é relevante. Guetos de imigrantes que se recusam a assimilar a cultura local se espalham pela Europa, e isso produz um efeito legítimo de reação contra tal mudança. A esquerda, porém, prega uma fronteira cada vez mais escancarada, sem critérios, e ainda oferece o estado de bem-estar social aos imigrantes.
Alguns tentam explicar o fenômeno populista de direita como uma reação passageira a crises conjunturais e econômicas, como se fosse apenas o voto do homem branco de classe média, pouco culto, movido por ressentimento. Não é a opinião de Roger Eatwell e Matthew Goodwin, autores de National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy, livro que já resenhei na Gazeta. Para os acadêmicos, com base em muitas pesquisas, o fenômeno é mais estrutural do que parece, e as reclamações desses eleitores, muitas vezes, legítimas. Ignorar isso só vai levar a previsões equivocadas.
Seria bom se os "progressistas" saíssem de sua bolha para efetivamente compreender o que se passa lá fora, deixando a arrogância e o elitismo de lado por um momento. Seria uma experiência e tanto!
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