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Por Carlos Antonio Gottschall, publicado pelo Instituto Liberal
Conduta individual extremada prejudica apenas o autor. Serve de fonte para repensar à luz de múltiplas evidências. Quando se injeta opinião única no comportamento mundial, a catástrofe está formada. A atual pandemia do coronavírus em parte é real, mas em grande parte foi construída pela sua maior propagadora, a mídia totalitária que não admite o contraditório. Loas a Galbraith quando disse que a opinião convencional serve para proteger do doloroso trabalho de pensar.
Aliás, os maiores crimes da humanidade têm sido cometidos por não se considerar que o outro existe. Sócrates teve que beber cicuta por criticar os falsos deuses atenienses; Cristo foi crucificado por pregar tolerância e amor; São Tomás de Aquino foi considerado herético por tentar conciliar fé com razão; Giordano Bruno foi queimado porque contrariou a ortodoxia; Galileu foi calado porque confirmou o movimento da Terra em torno do Sol; Lavoisier foi decapitado por despertar a inveja do criminoso Marat; Tiradentes foi enforcado porque quis proclamar a independência; Hitler foi eleito o homem do ano em 1938, ocupando a capa da Time – sim, da Time! Esses exemplos, num oceano de outros semelhantes, apoiaram-se praticamente na unanimidade da (in)consciência coletiva na respectiva época. Toda unanimidade é burra.
É o que está acontecendo com a dita pandemia do coronavírus: existe uma verdade única, quem a contesta é criminoso, insensível, desconsidera a vida humana, só há o caminho do isolamento social total e absoluto, ninguém pode sair de casa, todos têm que usar máscara, fora disso não existe outra realidade. Quem pensa em alternativas despreza a vida dos contaminados. Também não se pode lembrar que a maioria dos infectados é assintomática, que poucos desenvolvem sintomas, apenas uma minoria do grupo de risco requer tratamento intensivo e vai a óbito.
Entretanto, esse grupo é detectável, pode ser monitorado e submetido a tratamento diferenciado. Um paciente com noventa anos e/ou cardiopata, diabético, obeso, enfisemantoso, canceroso, fumante, morre de qualquer comorbidade e também de coronavírus. Sim, mas e os mais jovens? Também morrem, mas é muito raro, menos que de H1N1, dengue, malária, tuberculose, infarto, suicídio, atropelamento, assalto, assassinato, drogas e mais.
A verdade é que esse bombardeio total, constante e suspeito dos meios de comunicação baseia-se em premissas erradas: não há grupo de controle, não há comparação com outras doenças, não há determinação de comorbidades, só empurram números absolutos em cima dos incautos. Qualquer doença, se focada exclusivamente em números absolutos, surpreenderá pela mortalidade causada. Dados recentes mostram que o número de suicídios é quase três vezes maior que o de mortes por coronavírus, que parece ser a única causa mortis existente. As cento e cinquenta mil mortes que ocorrem por dia no mundo englobam milhares de causas. A criminosa campanha de terror, principalmente pela rede Globo, com o fim covarde de derrubar o governo, desnorteia a população e causa maiores desgraças que as causadas pelo vírus: desespero, miséria, depressão, fome, suicídio, todas conhecidas condições alavancadoras de óbitos, mas isso não é quantificado. Não interessa, pois mudaria o rumo da comunicação.
Vejam bem: ninguém nega a importância da pandemia, nem que deva ser energicamente enfrentada com medidas racionais, porém não pela mídia, por políticos ou juízes que nada entendem e não escondem outros interesses, mas parecem ter mais poder que médicos competentes. A própria OMS, ligada à China, é suspeita porque acobertou o início da epidemia. O que se nega é a histeria, o terror, a desinformação e alguns métodos usados, ditos para combatê-la, agredindo direitos fundamentais.
O que acontece na realidade forma um conjunto de dois quadros indissociáveis: 1) de um lado a própria doença com seu quadro clínico geralmente benigno ou assintomático, ou com gravidade numa minoria mais suscetível, e 2) por outro lado as consequências malignas decorrentes de inapeláveis medidas coletivas: quebra de empresas, desemprego, miséria, depressão, neurose, suicídio, desnutrição, abandono. Estas segundas consequências, se somadas, são muito mais letais, são esquecidas pelos piedosos defensores da vida humana.
Indicações da mídia, ditadas por jornalistas, juízes ou políticos com interesses específicos e alguns médicos obedientes, causam arrepios em quem pensa. Começando pela ridícula quarentena que confina pessoas em apartamentos mal ventilados e as impede de se ensolararem nos parques e nas praias, algo muito mais saudável. Nunca vi tanta imbecilidade; obrigam a usar ao ar livre máscaras de relativa eficácia, fazendo propaganda enganosa de que “quem usar não vai pegar”. Justificam-se em ambientes confinados. O afastamento de dois metros e mãos limpas têm muito mais efeito anti-contágio. Confinamento só estoca o vírus para ser solto depois e prolongar o problema, enquanto os gestores arranjam tempo para explicar a falência, por peculato ou desvios, de recursos para a saúde. As neuroses de crianças e adultos geradas pela prisão arbitrária, a agressividade desenvolvida pelo não fazer nada, feminicídios e suicídios, assassinatos de vizinhos, desfechos reais, não são quantificados pelos isolacionistas. É fácil noticiar mortes e o valor do confinamento sentado no púlpito televisivo. Doloroso é o que ouvi de um ambulante: “doutor, é melhor morrer do tal vírus que de fome”! Ou de outro periférico mais abrangente: “este discurso de que a vida está em risco não surte efeito na periferia, onde a vida é um risco permanente.” O pior é que já foi demonstrado que o índice de infectados é aproximadamente o mesmo com ou sem o tal isolamento social.
Países que enfrentaram a pandemia sem histerismo, com relativa abertura, demonstram resultados positivos. Dizem: mas a Suécia teve mais mortes que alguns outros promotores do confinamento radical. Talvez seja o preço a pagar. Não entendem esses idiotas da objetividade que a atitude sueca abrandou os outros efeitos maléficos colaterais, já citados, do isolamento absoluto. Continuam não entendendo que focar só na doença, destruindo a economia, causa muito maior prejuízo em vidas e qualidade de vida, pois economia saudável propicia vida e o contrário mata mais que o vírus. A destruição da economia por medidas sem contestação, com suas terríveis consequências, constitui verdadeiro crime contra a humanidade e atende a propósitos hegemônicos, auxiliada por “líderes” incapazes de enxergar objetivos bem claros. Não se salvam alguns com o sacrifício de todos. Se não intencional, o prejuízo pelo descuido contaminante deve ser cobrado da China.
Quem tenta enxergar um pouco o futuro, desespera-se. Estamos vendo claro autoritarismo e controle social por governos inspirados em hegemonia chinesa, que não sabe o que é democracia, transformando pessoas em robôs. Direitos consagrados são constantemente violados, como o de ir e vir e o de escolha, que ficam subordinados à licença de qualquer guarda munido de uma autoridade que não pode ter, abordando pessoas, caçando-as nas praias ou até nadando no mar. Uma estupidez sem nenhum sentido, que mata a alegria, o exercício e o lazer. O que estão fazendo sugere terrível cenário não longe de implantar-se e destruir todas as conquistas humanas de direito e liberdade desde a Revolução Francesa. O que certa e poderosa mídia faz é um ensaio aterrorizante para transformar pessoas em robôs, sem face, sem vontade, sem crítica, autômatos obedientes a decisões estatais, bem ao gosto dos inspiradores asiáticos. Todos os heróis que morreram no passado para termos liberdade estão sendo “ressepultados” pelos novos sicofantas e suas medidas esdrúxulas e mortais.
Outro aspecto a considerar: é preciso ter cuidado com a higienização, porque todo extremo é maléfico. Se pega a moda de esterilizar todos os objetos tocados, de não apertar mãos, impedir o ar ambiente natural com filtros e o contato com outros por paredes plásticas (cuidado com os interesses comerciais), a longo prazo o sistema imunológico atrofia-se e abre portas para futuras novas pandemias por falta de anticorpos desenvolvidos. Assim dizimaram-se populações indígenas ao chegarem na América os primeiros europeus que, assintomáticos, trouxeram o vírus da gripe comum. Uma criança que engatinha e leva a mão à boca está desenvolvendo imunidade. Querem roubar até nossa imunidade.
Pessoas hígidas no pleno uso de seus direitos são discriminadas pelo simples fato de terem setenta, oitenta, noventa anos. De novo, os idiotas da objetividade desconhecem não ser o número de anos, mas o estado biológico que torna a pessoa mais ou menos suscetível ao vírus. O idoso tem direito a viver, divertir-se, fazer escolhas. Afirma com propriedade Rosário Pinto Correia, da Escola Lisboeta de Trabalho e Economia: “Os ‘idosos com mais de 70 anos’, como são agora chamados, primeiro não se veem como idosos, segundo, não são idiotas, terceiro, em muito sabem mais do que os mais novos, quarto, querem gozar a vida como todos e, sobretudo, têm, como todos, o direito de escolher”.
Desde a época hipocrática, em que o Código de Ética Médica previa apenas transferir beneficência ao paciente, a duras penas, depois da segunda Guerra Mundial, surgiu em Nuremberg, após julgamento de criminosos nazistas e suas horrendas experiências em humanos, o conceito de autonomia do paciente. Em 1978, foi promulgado o Relatório Belmont pelo Congresso Americano, lançando a tríade bioética baseada em beneficência (transferida pelo médico), autonomia (direito do paciente de aceitar ou não tratamento) e justiça (dever de a sociedade fornecer meios para tratar). Assim, autonomia é pensar, decidir, agir. Qualquer adulto tem de ser respeitado na sua autonomia, inclusive de correr risco em função de uma escolha. O que estão fazendo é retirar opções de pessoas lúcidas e coerentes, apenas porque têm mais de sessenta anos, por meio de medidas constrangedoras, anticonstitucionais.
É incrível alguns aderirem a atitudes intimidadoras tão duvidosas; chegam a raspar barbas pensando proteger-se do vírus. Se tivesse sentido, por coerência deveriam depilar o corpo inteiro e as mulheres também livrar-se das lindas e longas cabeleiras. Combinando com o uso de inúteis máscaras nas ruas, sem expressão anímica, todos iguais, anódinos e anônimos, incapazes de reagir, tristeza no caminhar, tendem a virar robôs manobrados por controladores sociais. Chegam ao objetivo: anular todas as conquistas de liberdade humana, para melhor mandar.
Medicamentos e vacinas eficazes estão próximos a aparecer. Necessita-se repudiar e evitar as consequências do ditatorial controle social. As pessoas, aterrorizadas, estão próximas a serem anuladas arbitrariamente em vontades ou atitudes, se a sociedade não exibir o direito de reagir, se o ensaio de totalitarismo midiático e governamental prosperar.
*Carlos Antonio Mascia Gottschall é médico, CREMERS 2862, e membro titular das Academias Sul-Rio-Grandense e Nacional de Medicina