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Por Juliano Oliveira, publicado pelo Instituto Liberal

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O Papa Francisco parece ignorar deliberadamente os benefícios que o capitalismo de livre mercado pode proporcionar aos mais pobres. Vários foram os episódios em que a maior autoridade da igreja católica fez questão de expor sua marca anticapitalista e seu apreço pelo progressismo. Segundo o sumo pontífice é um erro obedecer cega e irrestritamente à mão invisível do mercado.

Num de seus mais recentes ataques ao lucro, o Papa Francisco fez citações relacionadas às queimadas ocorridas na Amazônia e pediu respeito à vida selvagem dos indígenas daquela região. Nas palavras de Francisco, “Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todo”. Afirmou também que as ideologias são uma arma perigosa e fez questão de alertar que “a sociedade moderna não deve tentar impor suas regras aos povos indígenas, mas sim respeitar sua cultura e permitir que eles planejem seu próprio futuro”.

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O papa tem um ponto com o qual devo concordar: ideologias podem ser uma arma perigosa. E a ideologia canhota que trata índios como selvagens que querem se ver livres de qualquer amenidade capitalista pode ser muito mais perigosa que os incêndios que consumiram parte da floresta amazônica no último mês.

Uma preocupação genuína com o meio ambiente e com os índios não faz qualquer sentido se não leva em conta as reais necessidades dos povos que habitam a Amazônia, algo já discutido com bons e fortes argumentos pelo colunista deste instituto, João César de Melo, através do artigo intitulado, “Para preservar a Amazônia, é preciso privatizá-la”. O que os índios querem e desejam, algo totalmente ignorado pelo Papa Francisco, é acessar oportunidades e melhores condições de vida que só podem ser proporcionadas por uma economia de livre mercado. Discursos demagógicos sobre a vida selvagem dos índios e sobre sua cultura podem fazer muito sentido na cabeça de quem, já abastado de todas as benesses que o mundo moderno pode proporcionar, não tem a preocupação cotidiana de superar as grandes dificuldades da vida primitiva.

O papa Francisco fala com ousadia do que não conhece quando critica a exclusão social que, supostamente, é provocada pelo capitalismo de livre mercado. Esta combinação entre progressismo e cristianismo, aliás, já fora (e ainda é) efusivamente criticada pela própria igreja católica. Enquanto Francisco faz um silêncio ensurdecedor a respeito do chamado socialismo do século XXI vigente na terra de Maduro, o padre Paulo Ricardo, um dos maiores defensores do conservadorismo cristão, afirma, peremptoriamente, que é impossível que cristianismo e socialismo coexistam harmonicamente. Em seu blog pessoal, o religioso chega a citar as mazelas a que são submetidos os cidadãos venezuelanos. De acordo com o padre, “Há não muito tempo, a Venezuela era um país próspero, abundante em petróleo; numa palavra, um milagre socialista! Mas agora, após dezoito anos de marxismo, entre Chávez e Maduro, o país não passa de um inferno socialista. Muitos ali têm passado fome — uma especialidade comunista —, não lhes sobrando outra alternativa (sic) senão roubar ou comer animais de zoológico, prática na qual parecem ter especial predileção por carne de búfalo e porco-do-mato”.

Ainda em 1878 o papa Leão XIII (ficarei apenas neste exemplo para não causar fadiga no leitor) escrevia sobre os males do socialismo na encíclica “Quod Apostolici Muneris”. O Pontífice iniciou sua carta descrevendo o socialismo como a “praga mortífera que se tem difundido no seio mesmo da sociedade humana, conduzindo-a ao abismo da destruição”. Em seguida, apontou que os socialistas, comunistas e niilistas, “espalhados ao redor do mundo e unidos pelos laços estreitíssimos de uma perversa confederação, já não se põem ao abrigo da sombra de reuniões secretas, senão que, marchando aberta e confiadamente à luz do dia, ousam levar a cabo o que há muito tempo vêm maquinando: a derrocada de toda a sociedade civil”.

Francisco ignora a ideia de que o socialismo, como dissera Churchill, é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja. Inveja esta, como apontara o papa Leão XIII, representada pelo ódio contra os que possuem alguma propriedade privada que deveria ser sumariamente suprimida. O socialismo sustenta-se sobre as bases da cobiça, o que é uma clara transgressão aos mandamentos de Deus.

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Numa completa inversão da realidade, porém, Francisco acusa de gananciosos os homens de negócios que buscam lucrar com a venda voluntária dos bens e serviços que produzem com seus próprios esforços. Seu raso conhecimento da economia de mercado (ou o desprezo que o cega) não lhe permite entender que a mão invisível de que falava Adam Smith é a única ferramenta que pode moldar o comportamento do mais ganancioso dos homens. Afinal, num arranjo de livre mercado todo cidadão precisa buscar uma forma de se integrar à sociedade através da satisfação de necessidades e desejos de seus concidadãos, como bem ressaltara Ludwig von Mises. Num arranjo de livre mercado, qualquer indivíduo que defendesse seus próprios interesses em detrimento dos interesses alheios seria alijado da cooperação pacífica comum a este arranjo e veria seus esforços se perderem. Francisco, portanto, está completamente equivocado ao atacar o capitalismo de livre mercado. Equivoca-se por não entender o funcionamento dos princípios de um arranjo econômico liberal e equivoca-se ao abraçar as ideias progressistas que se chocam com o cristianismo e promovem os mais sanguinolentos e perversos comportamentos que um homem pode assumir.

O colunista, conferencista e criador da Prager University, Dennis Prager, em artigo intitulado “Por que o comunismo não é tão odiado quanto o nazismo, embora tenha matado muito mais?”, apresenta alguns números que seriam capazes de despertar compaixão no mais insensível dos homens: “Os comunistas mataram 70 milhões de pessoas na China, mais de 20 milhões de pessoas na União Soviética (e isso sem incluir os aproximadamente 5 milhões de ucranianos), e exterminaram um terço (33%) da população do Camboja. No total, os regimes comunistas assassinaram aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987. Adicionalmente, os comunistas escravizaram a população de nações inteiras, como Rússia, Vietnã, China, Leste Europeu, Coréia do Norte, Cuba e boa parte da Ásia Central. Eles arruinaram as vidas de mais de um bilhão de pessoas”. Sem dúvida são números que incomodam muito. Não o papa Francisco, pelo visto, que segue indiferente às atrocidades já cometidas pelo comunismo que defende com seu discurso travestido de bom mocismo.