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No meu texto sobre as desavenças entre PSL e Bolsonaro, argumentei que a ideia em si de existirem partidos é saudável para a democracia, pois nenhum político, sozinho, pode incorporar o desejo do "povo".

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Não nego que os partidos atuais viraram siglas de aluguel, prostitutas, negócios de olho no fundo eleitoral, uma excrescência de nossa democracia, que desvirtua as legendas por meio da estatização. Mas minha preocupação é com a alternativa, segundo muitos bolsonaristas.

O comentário de um leitor expõe bem a questão:

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Bolsonaro acerta em dizer que seu partido é o Brasil, com isso ele diz que sua luta é para o bem de uma só nação composta de povos e etnias, meu partido é o Brasil está correto, e o seu Rodrigo Constantino, é o bem de uma nação ou busca uma bandeira partidaria? Percebemos que Bolsonaro não busca bandeira partidaria mas busca o bem do povo, e sua luta é acirrada recheada de fogo inimigo e até fogo amigo

Quem fala em nome de todo o Brasil? Quem é esse "povo" de que o leitor fala? Só conservadores? Ou liberais têm vez nisso? E social-democratas?

O presidente talvez crie um novo partido, chamado Conservadores. Acho que Nacional-Populismo faria mais sentido, mas deixemos isso de lado por enquanto. Segundo reportagem, “a sigla terá como princípios a ‘moralidade cristã, a vida a partir da concepção, a liberdade e a propriedade privada’. O texto defende ainda o direito à legítima defesa individual, o combate à sexualização precoce e à apologia da ideologia de gênero”.

Bandeiras legítimas, sem dúvida. Mas pergunto: são as únicas possíveis no país? Qualquer desvio disso não faz parte do povo? O povo brasileiro não tem ninguém de esquerda? Esses merecem ser enforcados em praça pública, como traidores da Pátria?

Carlos Andreazza comentou sobre o caso do PSL: "O bolsonarismo – de natureza autocrática – é hostil ao conceito de partido; uma estrutura a ser subjugada, instrumentalizada, apenas um gatilho técnico para sustentar aquela modalidade de democracia que se legitima somente por organizar eleições". Ele tem um ponto.

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O que falta ao bolsonarismo, de viés totalitário, é compreender que ninguém - absolutamente ninguém - fala em nome do todo. Não existe algo monolítico, com um só desejo, chamado povo. Isso é ficção, e uma perigosa ficção. É a crença populista de que um líder incorpora a "vontade geral". É a morte da pluralidade e do respeito às opiniões diferentes. É a asfixia da democracia.

Criticar os partidos atuais é uma coisa, até porque não existem mais de trinta vertentes ideológicas distintas para justificar tantos partidos; outra, bem diferente, é dar um salto quântico e concluir que um político seria mesmo capaz de falar em nome de todo o povo brasileiro.

Essa mentalidade, claramente totalitária, precisa ser combatida, em nome da democracia, da vida civilizada em sociedade, que precisa abranger pontos de vista divergentes, visões de mundo até mesmo diametralmente opostas.