Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Política sem romantismo

Um estudo realizado por Luan Sperandio para a Gazeta mostra como a maioria dos parlamentares usa perto do limite permitido em verba de gabinete, contratando o máximo de assessores que a lei autoriza.

Há 10.721 secretários parlamentares na Câmara dos Deputados, 21 para cada parlamentar. Cada um dos 513 deputados federais tem direito a contratar até 25 assessores e gastar uma verba de gabinete de até R$ 111.675,59. O número mínimo é cinco, mas os salários podem chegar a R$ 15.698,32. Se o deputado tem cargo na Diretoria da Casa ou é líder partidário, pode ter assessores especiais. É por isso que alguns têm mais de 30 assessores.

Segundo dados de agosto de 2019, 243 parlamentares utilizaram 21 ou mais secretários parlamentares, com 420 deles gastando mais de 90% da verba de gabinete; 253 utilizaram mais do que 99% dos mais de R$ 111 mil. Apenas 18 parlamentares gastam menos de dois terços da verba de gabinete. E a maioria é gente famosa, como Kim Kataguiri e Joice Hasselmann, que dispensam a necessidade de assessores para se elegerem.

O importante a analisar é o mecanismo de incentivos: políticos são seres humanos, e reagem às paixões e interesses como todos nós. Diria até que, por ser político, normalmente já há mais ambição presente neles. Se a lei permitir, o gasto será o máximo. Raros são os casos em que o "espírito público" fala mais alto, ainda mais numa cultura patrimonialista como a nossa, que confunde o público com o privado.

O Partido Novo se destaca, pois seu grande valor no mercado eleitoral é justamente essa nova forma de enxergar a política. Seria suicídio o Novo agir como os demais, pois perderia seu grande diferencial.

Os casos de abusos pululam nos demais partidos. Presidente da CPI das Fake News no Congresso Nacional, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) gastou R$ 566 mil em recursos públicos com empresas de comunicação que pertencem a seus familiares e a um ex-assessor.
 
Os gastos foram feitos de 2015 a 2018, período em que o senador era deputado estadual na Bahia, com recursos da cota parlamentar. Ele nega que tenha usado a verba de forma irregular. Ainda que esteja dentro da lei, soa claramente imoral.

E isso na Câmara e no Senado federal, onde há mais holofotes e escrutínio da mídia. Que tal falarmos dos municípios? Em 2005 existiam 4.767.602 servidores municipais ativos, correspondente a 2,6% da população do Brasil, que custaram R$ 51,9 bilhões (2,39% do PIB). Em 2018 eram 6.531.554, correspondente a 3,1% da população do Brasil, que custaram R$ 351,0 bilhões (4,59% do PIB). Os dados, compilados pelo professor Ricardo Bergamini, são estarrecedores. É gente demais, custando demais, para os péssimos serviços entregues.

Como lembra do professor João Espada, O caminho da servidão, de Hayek, completa 75 anos de seu lançamento. Dedicado aos “socialistas de todos os partidos”, o livro foi um apelo genuíno de um austríaco anglófilo, anti-nazista e anticomunista: não confundamos liberdade com estatismo. O então desconhecido professor austríaco, exilado na London School of Economics, publicou o livro mais popular sobre liberalismo, mostrando como a liberdade política era indissociável da liberdade econômica. Quanto mais estado presente na economia, menos democracia há de fato.

É fundamental mudar o mecanismo de incentivos na política, reduzindo o escopo do estado, descentralizando o poder e diminuindo os recursos que transitam pela esfera pública. Onde houver dinheiro haverá políticos prontos para usá-lo, e não com os melhores interesses públicos em mente. É a vida. É a política sem romance, como já nos ensinava a Public Choice School, com foco nas falhas de governo.


Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.