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Trump é uma ameaça para a democracia americana, berraram aqueles que chegam a quase simpatizar com ditaduras socialistas mundo afora. Bolsonaro é um nazifascista que vai destruir as instituições democráticas brasileiras, gritaram aqueles que chegam a defender até Maduro na Venezuela.
Quando se parte da premissa de que ambos representam governos tirânicos em potencial, fica parecendo que toda crítica, por mais forçada que seja, é louvável, e nenhum elogio é permitido. A conclusão foi tomada antes de qualquer análise dos fatos.
Essa postura, também chamada de desonestidade intelectual em outras circunstâncias, está no cerne do viés de muitos "analistas" quando o assunto é Trump ou Bolsonaro. Há clara má vontade dessa turma na hora de julgar questões isoladas que dizem respeito a esses governos.
Admitir que pessoas inteligentes e honestas discordam da gente de forma legítima é a base da democracia civilizada. É a base da inteligência também, da humildade. Infelizmente, isso tem sido bem raro de se encontrar no debate político, especialmente no lado esquerdo (mas não há exclusividade, claro).
O que tem de gente que enxerga o "lado positivo" da sangrenta Revolução Francesa, que degolou inúmeras vítimas inocentes e levou ao regime ditatorial de Napoleão após o Terror, ou que busca relativizar a ditadura chinesa, apontando conquistas econômicas, ou ainda que reconhece vantagens até dos regimes opressores do Oriente Médio, mas que é incapaz de elogiar uma só coisa dos governos Bolsonaro e Trump, não está no gibi!
O público percebe esse duplo padrão, e por isso parte da imprensa perde credibilidade de forma contínua. Trump não é um ditador e a democracia americana não está ameaçada. Bolsonaro já deu várias declarações infelizes e, de fato, defendeu gente indefensável, mas como disse o ministro Sergio Moro no Pânico, alguns "analistas" estarão falando dos enormes riscos à democracia no último dia de governo, talvez no segundo mandato, quando a faixa presidencial estiver prestes a ser transferida de forma regular e pacífica.
Apontar erros é função primordial do jornalismo. Mas é preciso ter sendo das proporções e, acima de tudo, coerência. Qual o sentido de se derreter de amores pelo regime chinês ou pelo legado sombrio da Revolução Francesa enquanto destila tanto ódio por Trump e Bolsonaro?