A imagem circulou sem parar pelas redes sociais. Não é para menos: ela simboliza o Brasil com perfeição. A velha imprensa tratou com a maior naturalidade: os líderes dos Três Poderes reunidos, num almoço no STF, para "debater" as tais emendas impositivas. A primeira pergunta que um jornalista sério teria de fazer diante da cena: o que os ministros supremos faziam ali? Orçamento não é assunto do Legislativo?
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Montesquieu não chegou ao Brasil ainda. Em que pese o grau de soberba do presidente do STF, que se considera um iluminado que precisa "empurrar a história", o triste fato é que nunca o Iluminismo de boa estirpe nos deu o ar de sua graça. O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado.
A necessária divisão entre os Poderes não existe de fato. Bolsonaro era atacado pela mídia por gerar "atrito" com o STF, mas o povo vai descobrir, uma vez mais, o alto custo da "harmonia": é a total morte da independência. Quando a cúpula toda se junta, o povo leva a mão imediatamente ao bolso e diz adeus às liberdades. É o "acordão" que sempre significa mais fardo no lombo do trabalhador, tratado como gado pelo sistema podre.
O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado
O jurista André Marsiglia resumiu bem: "A função mais importante de um Poder é fiscalizar os demais, é o que chamamos sistema de freios e contrapesos. Em meio às acusações da Vaza Toga contra o judiciário, no lugar do Legislativo exercer seu papel fiscalizador, harmoniza-se para negociar emendas. O resto não importa". Perfeito. E o timing do encontro também diz muito: foi para mostrar união num momento em que o Senado deveria estar votando urgentemente o impeachment de Moraes.
Os monstros do pântano se protegem. O sistema carcomido se blinda. Na democracia de gabinete, só não há espaço para o povo. Uma semana da reportagem da Folha com as trocas criminosas de mensagens dos auxiliares de Alexandre de Moraes e nada acontece. Na verdade, acontece sim: o CNJ arquiva denúncias contra quem queria sequestrar jornalista asilado nos Estados Unidos para agradar o chefe, a "bruxa" sem noção que não liga para as consequências. As bruxas supremas estão soltas...
Para adicionar insulto à injúria, o STF receberá uma comitiva de "influenciadores" em projeto que busca, supostamente, aproximar a corte da sociedade. Um dos influenciadores já próximos é Felipe Neto. Outro convidado será Átila Lamarino, aquele que defendeu o autoritarismo chinês na pandemia. É o STF convocando seu "gabinete do ódio", sua "milícia digital". Senti falta, confesso, de Alexandre Frota na lista, para pautar as degolas promovidas por Moraes...
Marsiglia, novamente, rebateu o absurdo: "O STF não tem que se aproximar da sociedade, tem que se aproximar da Constituição. O desejo de ser apoiado pelo povo é político, descabido a uma Corte. No entanto, diz muito do momento nosso maior tribunal se sentir desconectado a ponto de precisar de ajuda para ser compreendido". Claro que com essa patota o STF vai apenas se afastar ainda mais do povo. Mas quem precisa do povo quando se tem a mídia e o poder?
O STF virou uma corte política, um puxadinho tucanopetista que persegue ilegalmente seus adversários e críticos. Nada disso combina com uma República, com uma democracia. É puro suco de Brasil, e o Brasil, infelizmente, não é um país sério. É o país da promiscuidade. Uma promiscuidade "democrática", claro. O Brasil voltou e a democracia foi salva!
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