Não basta crescer. Qualquer governo tem instrumentos à sua disposição para produzir estímulos artificiais e produzir algum crescimento econômico de curto prazo. Por isso mesmo o que importa é destrinchar o PIB para verificar o que tem permitido seu avanço. E há sinais bons para o caso brasileiro.
Na esteira da divulgação da nova fase de reformas, a equipe econômica vai elevar nesta semana sua previsão para o crescimento da economia em 2020. A nova estimativa deve ficar mais próxima de 2,5% – hoje é de 2,17%. Na avaliação do governo, o setor privado está puxando a retomada do PIB. E eis o principal.
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, esse movimento já pode ser verificado nos últimos dados das contas nacionais, destrinchados em estudo preparado pela sua equipe. O trabalho foi concluído na semana passada e será divulgado essa semana em boletim macroeconômico da Secretaria.
“A nossa leitura é que esse é um crescimento sustentável no longo prazo e que preserva as contas públicas. Esse modelo veio para ficar”, diz o secretário. Sachsida ressalta que, nas últimas semanas, os economistas também estão revisando para cima as suas estimativas para o crescimento econômico, depois de um período em que alguns deles apostavam num quadro de recessão técnica no segundo trimestre do ano.
O estudo da Economia mostra que, ao final do segundo trimestre, o investimento privado crescia 7,02%, enquanto o público teve tombo de 14,30% em relação ao mesmo período de 2018. Já o PIB do setor privado avançava 1,69%, ante queda de 1,56% do público.
Em junho, o número de vagas abertas pelas empresas nos 12 meses anteriores chegou a 480,6 mil, enquanto no setor público houve uma redução de 28,8 mil empregos no período. “Antes caminhavam juntos.”
Em outras palavras, é o governo saindo da frente e permitindo maior espaço para a iniciativa privada, que tem condições muito melhores de alocar capital com base num mecanismo de incentivos mais adequado. O editorial do Estadão reconhece que a economia reage, ainda que falte se tornar "epidêmica":
Sinais positivos começam a aparecer na economia, com a reanimação da indústria imobiliária, juros menores e a expectativa de mais consumo e mais contratações no comércio para as vendas de fim de ano, mas o ambiente continua marcado pelo mau desempenho da maior parte do setor industrial e pela desocupação ainda muito alta. O maior vigor da construção é especialmente importante por seu potencial de emprego e por sua irradiação de estímulos a vários outros segmentos, como a siderurgia, as indústrias de cimento e de plásticos e as fábricas de materiais hidráulicos e elétricos para obras civis. Desde julho, seis construtoras e incorporadoras captaram R$ 3,8 bilhões no mercado acionário e estão previstos lançamentos de ações de outras empresas, segundo informou reportagem do Estado na edição de domingo.
[...] Mas a melhora de expectativa quanto ao crescimento econômico ficou por aí. Para 2020 foi mantida a projeção de 2%, em linha com as perspectivas afirmadas pelo próprio governo. Para 2021 e 2022 foi mantida a estimativa de expansão anual de 2,50%, considerada compatível com o potencial de crescimento do Brasil.
Não se incluem nas previsões, portanto, expectativas quanto à elevação do potencial produtivo do País. Os analistas do mercado continuam – como seus parceiros das instituições multilaterais – à espera de novos avanços no programa de ajustes e reformas e de reativação dos investimentos em infraestrutura.
Para expandir o PIB potencial é preciso seguir com as reformas estruturais, que poderão tornar o Brasil um país mais competitivo. O ministro Paulo Guedes sabe disso, e o governo apresenta seu pacote de reformas esta semana apontando nessa direção correta.
Além disso, o Copom vê a aceleração do PIB dentro do patamar que não pressiona a taxa de inflação, hoje bem controlada. O Banco Central avaliou que as projeções de inflação, e suas medidas subjacentes (que procuram captar a tendência dos preços), estão em "níveis confortáveis", dentro do regime de metas.
"As estimativas e projeções de curto prazo indicam que a inflação acumulada em 12 meses ainda deve ter recuado em outubro, para níveis ao redor das mínimas observadas durante o regime de metas para a inflação, voltando a se elevar ao longo dos últimos meses do ano", diz o relatório.
Essa queda na taxa de juros é o principal fator por trás da retomada da economia. Ao contrário do que aconteceu durante o governo Dilma, a Selic não caiu por marretada voluntarista, pressionando a inflação, mas sim num ambiente de fundamento econômico sólido. Essa "revolução" dos juros estimula investimentos produtivos, deve aumentar o nível de fusões e aquisições, assim como de abertura de capital de novas empresas.
Além disso, temos o megaleilão de petróleo esta semana, as privatizações, como a da Eletrobras, que Bolsonaro assina hoje em projeto de lei, e outras mudanças específicas, como aquelas apresentadas para microempreendedores. Tudo dentro do mesmo intuito de facilitar a vida de quem produz riqueza de fato, ou seja, a iniciativa privada, não o governo.
É uma mudança importante de mentalidade, que faz toda a diferença. O governo petista encarava o estado como locomotiva do progresso e sempre viu com desconfiança o setor privado. O atual governo sabe que o excesso de governo é o principal entrave para o crescimento, e que criar um ambiente estável e menos burocrático para quem produz é o caminho para destravar a economia.
Se as reformas forem aprovadas e a política não gerar muita instabilidade, não há porque não imaginar um crescimento mais perto de 3% ao ano ao término deste governo.
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