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Por Percival Puggina
O começo foi muito, muito difícil. Cansativo, mesmo. Exigia dedicação exclusiva e intensa. Não era moleza fazer política andando de ônibus, em cima de um Lada com pneus carecas, distribuir panfletos de dia e pichar muros à noite, vender distintivo e bandeirinha para arrumar dinheiro, fazer reunião para programar reunião para organizar reunião, imprimir propaganda em mimeógrafo, infiltrar-se nos seminários, nos jornais, nas escolas e nas universidades, conquistar os sindicatos, cativar um músico aqui, um escritor ali. Difícil!
Havia padres que cuidavam das paróquias e rezavam missa e padres que faziam política. Professores que davam aula e professores que faziam política. Jornalistas que relatavam fatos e jornalistas que faziam política. Juizes e promotores que operavam a justiça e outros que faziam política. Em quaisquer organizações da sociedade havia os que faziam as coisas acontecer e outros que só faziam política. Com tanta gente fazendo apenas política era inevitável que ela acabasse feita. De fato, ficou tão bem feita que o partido chegou ao poder. E aí, para espanto geral, deixou o governo de lado e continuou fazendo política.
Os companheiros trocaram os ônibus por aeronaves, abandonaram os Ladas e acorreram às concessionárias de veículos importados do maldito mundo capitalista. Substituíram os mimeógrafos pela policromia das máquinas rotativas e o papel reciclado pelo mais primoroso couché. Montaram uma estrutura capaz de cobrir o Brasil com propaganda em apenas vinte e quatro horas. E dê-lhe política. E veio o mensalão, e veio o petrolão. Fazer tanta política exigia muito dinheiro, exigia comprar os adversários.
De fato, olhando aquilo, os adversários chegaram à conclusão de que a política consistia em fazer política e que o sucesso dependia de só fazer política. E aderiram à fórmula: que se danem o país, o governo, as necessidades das pessoas, o bem comum. O negócio é fazer política! O país ficou muito mal, mas a política andava bem, pagava bem e – melhor de tudo – assegurava sucessivos mandatos.
Observando o comportamento do Congresso Nacional em relação a um presidente que se elegeu sem dinheiro e sem tempo de TV, que quer governar, que escolheu peritos nas respectivas áreas para compor o governo, pilotar a administração e pôr o país nos trilhos, ocorre-me formular a máxima que registro para a ponderação dos leitores: na política nacional se pode contrariar o interesse de todos, contanto que não se contrarie interesse de quem faz política. Aí a casa cai.