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Por Gabriel Wilhelms, publicado pelo Instituto Liberal

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O Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a Selic pela quinta vez consecutiva, e a 4,25% ao ano a taxa atinge uma nova mínima histórica. Trata-se de um tapa de realidade na cara dos conspiracionistas que dizem que o órgão age guiado por interesses escusos dos banqueiros, ou que governos “neoliberais” castigam a população com juros elevados para beneficiar o que consideram capital improdutivo dos rentistas.

As afirmações de que a taxa de juros segue os desígnios de magnatas do sistema financeiro e não critérios técnicos vêm de longa data. Quando o Senado debateu a indicação de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central (governo Temer), me lembro do Roberto Requião perguntando ironicamente se ele deveria votar no próprio Senado ou registrar seu voto diretamente no site do Itaú, aludindo ao fato de que Ilan atuava como economista-chefe do banco. Requião disse na ocasião que seria como deixar a raposa cuidar do galinheiro, sugerindo que o economista não seria movido por interesses inerentes ao cargo público, mas por interesses privados da instituição em que havia trabalhado. A realidade foi dura para os conspiracionismos de Requião, pois a queda de juros começou justamente durante a gestão de Ilan, atingindo a até então mínima histórica de 6,50%.

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Essa retórica de que há interesses escusos dentro do Copom normalmente vem associada com a dívida pública. Os juros elevados teriam o objetivo de aumentar a dívida, aumentando com isso a rentabilidade das instituições financeiras que emprestam dinheiro para o Tesouro. É uma acusação grave, que se fosse verídica seria um escândalo de corrupção sem precedentes. No entanto, quem faz essa acusação nunca é capaz de fornecer qualquer tipo de evidência que a subsidie. Além disso, os portadores dessa falácia costumam ser contrários ao que melhor pode garantir uma atuação técnica do Bacen e que melhor afasta a ideia de interesses escusos, como as representadas por canetadas políticas do governo de ocasião, que é a independência do Banco Central. Essa contradição não acontece por acaso, é que normalmente eles querem ser os que dão a canetada.

Outro mito é que o Copom também estaria submetido aos interesses dos rentistas e do “grande capital”. Só existem dois tipos de investidores que perdem o sono com a queda dos juros: os que investem absolutamente tudo em renda fixa, sendo normalmente pequenos investidores, e os inexperientes que acham o melhor dos mundos quando a taxa está nas alturas e que vão bater em retirada toda vez que 0,50% for cortado da Selic. Os grandes investidores e os detentores das maiores fortunas não costumam ter seu patrimônio aplicado na caderneta de poupança. Façam o teste, consultem as listas anuais de bilionários da Forbes, tanto no Brasil quanto no mundo, e constatem que normalmente aqueles que ocupam o topo estão atrelados a alguma ou mais empresas. É importante destacar isso: as maiores fortunas tendem a estar associadas com negócios de fato, sejam esses magnatas os criadores ou apenas investidores. Não significa que pessoas ricas não possam e não tenham sua parcela de dinheiro investido em renda fixa, mas é indubitavelmente a renda variável – o que inclui não só empresas de capital aberto, mas também as de capital fechado – o que traz o melhor retorno.

Agora, será que os empresários, pequenos, médios ou grandes, preferem de uma forma geral juros mais elevados ou mais baixos? É verdade que empresas que mantém dinheiro em caixa podem mantê-lo aplicado em renda fixa, e consequentemente esse dinheiro renderá menos com a queda dos juros, mas isso é secundário, afinal o objetivo de qualquer companhia bem gerenciada será o ganho atrelado às suas operações. Nesse sentido, entendendo os juros como o “preço” do capital emprestado de terceiros, quanto mais elevado for esse preço, mais caro se torna financiar um processo de expansão da companhia, por exemplo. A conclusão é que a queda dos juros é benéfica para o setor produtivo e é o cenário desejado por empresários e por grandes investidores, ao contrário da crença popular. Pessoas como o Jorge Paulo Lemann não construíram suas fortunas aplicando em renda fixa e esperando que os juros fossem os maiores possíveis.

Quem pensa que nas vezes em que a Selic subiu consideravelmente o objetivo foi favorecer os “rentistas” ignora, primeiro, o efeito da inflação, pois a Selic é elevada justamente para fazer frente a uma subida da inflação, corroendo assim boa parte do ganho nominal considerado, e que esses rentistas, vistos como capitalistas vorazes, via de regra são pessoas comuns, trabalhadores assalariados ou pequenos empreendedores que se esforçam para poupar e investir parte de sua renda mensal. Os grandes capitalistas, vilificados por essa retórica anti-rentista, costumam se regozijar é com a queda dos juros, não o contrário.