O Ministério Público do Rio realiza na manhã desta quarta-feira, 18, operação de busca e apreensão em endereços ligados a ex-assessores do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), entre eles Fabrício Queiroz. As buscas acontecem em endereços da capital e em Resende, no sul do Estado.
A operação se dá no âmbito da investigação que apura suposto esquema de lavagem de dinheiro e peculato no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) quando ele era deputado estadual. Além de Queiroz, são alvo da operação familiares do ex-assessor e de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.
Queiroz é o fio de alta tensão desencapado para a família Bolsonaro. Tudo leva a crer que havia uma "rachadinha" no gabinete de Flávio, e Queiroz tem ligação com milicianos também, o que coloca mais lenha na fogueira. Não é um qualquer, mas amigo de longa data da família, do presidente, e há transferência de recursos dele para a conta direta da primeira-dama.
Os bolsonaristas mais fiéis podem alegar que todos praticavam a tal "rachadinha", que sempre foi prática comum na política. Mas esse discurso soa um tanto petista, especialmente para quem se vendeu como "incorruptível", com a bandeira da ética como algo intransigente e inegociável.
Como diz o professor Ricardo Bergamini, "Na minha visão, crimes que todos praticam não é crime, mas sim deformação de costumes". Stanislaw Ponte Preta, personagem de humor de Sergio Porto, dizia que ou instauramos a moralidade, ou nos locupletamos todos de uma vez. São pontos razoáveis, mas o fato é que não dá para engolir "malfeitos" de quem banca o purista.
Se a prática é comum, então vamos ataca-la em sua origem. Como coloca o professor Bergamini, "Esse tema deveria ser unanimidade de todas as ideologias existentes no Brasil: fim da orgia dos assessores parlamentares, um bando refece de parasitas". Eis alguns dados:
São 25 assessores para cada um dos 513 deputados federais – totalizando 12.825 assessores parlamentares;
São 55 assessores para cada um dos 81 senadores – totalizando 4.455 assessores parlamentares;
São 27 câmeras estaduais com 1.059 deputados, com uma média de 20 assessores cada um – totalizando 21.180 assessores parlamentares;
São 56.810 vereadores nos 5.570 municípios, com uma média de 20 assessores cada um – totalizando 1.136.200 assessores parlamentares;
Total de parasitas indicados por políticos, sem nenhum controle dos estados, das prefeituras, da União e dos cidadãos – 1.174.660 assessores parlamentares.
Claro que nem todos são parasitas. Claro que alguns assessores são necessários. Mas está evidente que há um esquema montado justamente para a corrupção, o financiamento de campanhas para a perpetuação de clãs no poder. E um deles é a família Bolsonaro.
Se querem mesmo mudar essa triste realidade, que batam no peito e assumam o "deslize", o crime. Sejam homens! O que não dá para tolerar é o discurso hipócrita de Robespierre tupiniquim, enquanto usa um amigo de milicianos para encher o próprio bolso...
Ninguém está afirmando que esse esquema típico de baixo clero é similar ao tremendo assalto ao estado brasileiro praticado pela quadrilha petista, com seu projeto totalitário de poder. É preciso ter senso de proporções. Mas é preciso apontar para todos os desvios também, sem poupar o "nosso" lado por pragmatismo ou ideologia.
Comentei sobre isso no Jornal da Manhã hoje cedo: