Sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.| Foto: LR Moreira/TSE
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Assim como fez na Vaza Jato, Glenn Greenwald tem soltado em doses homeopáticas os mais de seis gigabytes de conversas entre assessores de Alexandre de Moraes. A cada dia vem a público uma nova sucuri. É um escândalo inesgotável. Todos atentos já sabiam que o ministro supremo agia à margem das leis, mas agora temos as provas, o corpo de delito, o vídeo do marido em flagrante no motel com a amante traindo a esposa - no caso, a Constituição democrática do Brasil.

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Uma das conversas mais escabrosas que surgiram até agora foi do juiz auxiliar Marco Antonio Vargas com o colega Airton Vieira. Ao saber da negação da Interpol em aceitar o pedido de extradição do jornalista Allan dos Santos, Vargas desabafa: "Dá vontade de mandar uns jagunços pegar esse cara na marra e colocar num avião brasileiro". Isso, não custa lembrar, numa conversa entre juizes auxiliares de Alexandre de Moraes.

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Por muito menos, por conversas privadas num grupo fechado de WhatsApp, grandes empresários foram recebidos pela Polícia Federal e tiveram seus telefones apreendidos, além de terem sido incluídos em inquéritos e sofrido censura - a de Luciano Hang dura até hoje. Eles desabafavam entre si que preferiam até a volta do regime militar em vez da volta do ladrão comunista à cena do crime. Moraes viu "crime" nisso, mas não parece se importar com seus auxiliares diretos usando linguajar de mafioso.

A cada dia vem a público uma nova sucuri. É um escândalo inesgotável

Em português claro, o que o "capanga" de Moraes insinuava era sequestrar um jornalista em solo estrangeiro. No dicionário, eis a definição para jagunço: "Criminoso contratado como segurança, guarda-costas, de uma pessoa influente, poderosa; capanga; pistoleiro ou cangaceiro contratado para matar; assassino". Coisa leve, não?

O desespero que um simples jornalista desarmado e asilado desperta em Alexandre mostra como todo ditador, no fundo, não passa de um covarde. Allan tinha uma empresa de jornalismo que crescia bem e foi destruída por Moraes. Ficou anos longe de sua família, incluindo sua filhinha doente. Não obstante, Moraes não consegue descansar enquanto não jogar Allan dos Santos numa masmorra, trancá-lo na prisão por anos. Allan asilado na Flórida é a lembrança de que Moraes pode muito, mas não pode tudo.

O "pedido" de extradição sempre esbarra num detalhe óbvio: não há qualquer crime cometido pelo jornalista. Xingar ministro não é crime em país livre, obviamente. Moraes gostaria que sua jurisdição fosse planetária. Chegou a colocar Elon Musk num inquérito. Chamou-me de foragido, sendo que moro há uma década nos Estados Unidos, sou um cidadão americano e não há nenhuma sentença condenatória ou ordem de prisão em aberto, vale lembrar. Ele está descontrolado e se sente impotente diante de jornalistas que não consegue alcançar. É a frustração de um tirano com limites.

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Moraes não é juiz exemplar e nunca foi: age como um gângster; não tem assessores, mas jagunços ou capangas dispostos a contratar jagunços; não tem, portanto, aliados ou defensores, mas sim comparsas, cúmplices. Quem quer que ainda saia em defesa de Moraes está dando atestado de total desprezo pelas leis, pela Justiça e pelo Estado de Direito democrático. Como disse o editorial da Gazeta do Povo hoje:

Os autênticos democratas têm o dever, neste momento, de romper a espiral do medo e denunciar o sistema abusivo instalado no STF e no TSE com fins de perseguição política pura e simples.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]