A visão marxista do empreendedor é a de um explorador sanguessuga, que não trabalha e absorve a “mais-valia” dos verdadeiros trabalhadores, ficando rico no processo. Tal visão não corresponde à realidade. A análise de Schumpeter, da “destruição criadora”, é bem mais realista. A de Israel Kirzner, de alguém “alerta” às oportunidades que ainda precisam ser descobertas, é ainda melhor. E foi Ayn Rand quem melhor capturou a essência do verdadeiro empreendedor em sua obra-prima A Revolta de Atlas.
O empreendedor é alguém com uma visão acerca do futuro, que não deixa nenhum obstáculo ficar entre esse sonho e sua realização. É quase sempre um obstinado, um corajoso disposto a arriscar tudo que tem e o que nem tem em seu projeto. Arrisca-se na empreitada de olho também nos lucros, claro, mas principalmente no legado, na conquista, no desafio. O herói de Ayn Rand, Rank Rearden, seria esse típico empreendedor. Na vida real, temos vários, muitos concentrados no Vale do Silício. E um deles é o destaque aqui: Elon Musk.
Na biografia que Ashlee Vance escreveu sobre o homem por trás do PayPal, da Tesla e da SpaceX, surge a imagem de alguém determinado a fazer a diferença, a mudar o mundo para melhor. Colonizar o espaço, ocupar Marte, são propósitos de quem não se satisfaz com pouco, de quem enaltece o espírito aventureiro acima de tudo. Ser reverenciado pelo fundador da Google, Larry Page, não é para qualquer um, e Musk recebe os maiores elogios do amigo, além de muitos milhões para ajudar em seus projetos grandiosos.
Impossível é uma palavra que parece não existir em seu dicionário. Para o autor do livro, Musk é um sonhador bem-intencionado, membro VIP do clube de utópicos da tecnologia. Se seus sonhos megalomaníacos são apenas devaneios ou não, o tempo irá dizer. Mas o que já podemos afirmar é que, até aqui, o visionário entregou o que prometeu. Sua SpaceX, por exemplo, voltou às notícias recentemente ao mostrar grande feito com seu Falcon 9. Foi a primeira vez que um foguete foi ao espaço e retornou em pouso vertical, um feito inédito na história espacial motivado pelo objetivo de reduzir custos e de transformar os foguetes em naves com possibilidade de reutilização.
O setor aeroespacial estava há décadas sem grandes inovações, muito por conta da mentalidade burocrática do estado. Musk chegou para mudar o jogo, para introduzir o foco no lucro, para baratear o envio de satélites e torná-lo acessível a mais gente. Suas empresas produziram grandes impactos no setor aeroespacial, automotivo e energético, tudo com inovações importantes. Seu carro elétrico, o Tesla, revolucionou o mercado, demonstrando ser possível unir beleza, tecnologia e velocidade ao conceito ecologicamente correto.
Nada foi fácil ou trivial. Ao contrário: o livro relata em detalhes os momentos mais delicados em que tudo parecia prestes a ir para o espaço – no sentido figurado. Seu império quase foi à bancarrota na crise de 2008. Após ter ganho milhões com a venda da PayPal, ele apostou tudo nos novos negócios, e os desafios pareciam insuperáveis. Praticamente sem dormir, trabalhando várias horas por dia, incluindo fins de semana, e impondo tal ritmo alucinado a todos que desejavam compartilhar de seus objetivos, Musk deu a volta por cima e provou com seu sucesso sua capacidade de entregar o prometido.
Nem tudo são rosas, claro, e uma personalidade tão marcante deixa desafetos no caminho. Ex-funcionários reclamam do excesso de pressão e da insensibilidade na hora de demissões, e ex-sócios o acusam de outras características negativas. Mas dificilmente se constrói um conglomerado desses sem mortos e feridos no caminho. Nem todos vão concordar com seus métodos, com seu estilo. E obcecado com os resultados, Musk realmente parece colocar certos sentimentos em segundo plano.
Hoje sua fortuna pessoal está avaliada em torno de US$ 10 bilhões. Mas ela é mérito de seus empreendimentos, que agregaram bastante valor aos consumidores. Empresas podem colocar satélites menores no espaço por uma fração do custo anterior à chegada da SpaceX no mercado. Milhares de aficionados podem dirigir seus belos carros elétricos da Tesla, desfrutando de uma tecnologia ímpar, acelerando de 0 a 100 km/h em pouquíssimos segundos e ainda ostentando o selo de ecologicamente corretos. Milhões de casas usam os painéis solares da SolarCity, empresa que possui em parceria com os primos.
Sua riqueza é a recompensa disso tudo, e sem dúvida não é seu maior foco, sua grande meta. Musk continua inspirado e movido por objetivos mais abstratos ou utópicos. Ele quer mesmo colonizar Marte, mandar centenas de pessoas para o espaço, oferecer todo um novo conceito de locomoção. Se um dia o mundo ficar mais parecido com o desenho dos Jetsons, isso terá certamente o dedo de Musk.
Se ele fosse movido apenas pelo dinheiro, poderia ter parado após a venda de sua primeira empresa, a Zip2, que lhe rendeu algo como US$ 30 milhões – e um McLaren na garagem. Mas esse nunca foi seu principal objetivo, e por isso ele é um multibilionário hoje. Claro, a história poderia ser diferente, ele poderia mesmo ter falido, e perdido inclusive os milhões “garantidos”. Mas esse é o xis da questão: os grandes empreendedores possuem uma tolerância ao risco muito maior do que a média, e parecem dispostos a arriscar tudo por uma ideia. Empreendedores que fazem a diferença pensam grande.
Nos Estados Unidos, especialmente no Vale do Silício, Elon Musk virou uma celebridade, e há um culto em torno de sua pessoa, como havia no caso de Steve Jobs, da Apple. Basta ver o evento de lançamento do novo Modelo X, o SUV da Tesla, para verificar que a cada frase ele é ovacionado. A empresa possui uma legião de fãs, de clientes apaixonados. Nos Estados Unidos, um empreendedor como Musk acaba se tornando um verdadeiro herói. Eis a grande diferença para os países com cultura menos capitalista.
Quase todo avanço relevante, quase todo progresso tecnológico que fez a diferença teve por trás empreendedores ousados, confiantes, otimistas, visionários, dispostos a tomar imensa quantidade de risco pessoal para deixar sua marca, seu legado, concretizar seus sonhos. Só mesmo uma mentalidade muito invejosa trataria esses indivíduos como exploradores mesquinhos, não como heróis.
Rodrigo Constantino
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