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Russell Kirk: o peregrino na terra desolada

Kirk com o presidente Reagan (Foto: )
Kirk com o presidente Reagan Kirk com o presidente Reagan

“[Eu] diria que Kirk foi um filósofo atento à vida com os transcendentais do Belo e do Bem, e que essa atenção se materializava tanto na sua escrita quanto no seu olhar sobre o mundo. Kirk pensava de modo elegante, argumentava de forma delicada, defendia o mundo porque ele é belo e bom”.

Se até mesmo Luiz Felipe Pondé, que flerta com frequência no niilismo (mas sem cair nele), reconhece esse poder de enaltecer o mundo belo e bom que tinha Kirk, como escreve na introdução de Russell Kirk: o peregrino da terra desolada, escrito por Alex Catharino, é porque o filósofo americano era mesmo capaz de tornar o mundo mais bonito, apesar dos pesares.

O livro de Catharino é um ótimo resumo introdutório para quem quer conhecer mais a vida e as ideias de Kirk – e creio que todos deveriam querer isso. Seus livros The Conservative Mind A Política da Prudência foram importantes influências recentes em minha formação intelectual. Catharino conseguiu sintetizar muito bem as principais ideias do pensador, assim como sua postura diante da vida, reflexo dessas ideias.

Diante de um mundo cada vez mais barulhento e tolo, a reclusão e o esmero com a estética e a ética de Kirk se fazem necessários, como antídoto à “sociedade do espetáculo”. Kirk foi muito influenciado pelo poeta T.S. Eliot, e buscou em sua vida resgatar aqueles valores permanentes que se esgarçavam bem diante de seus olhos. Inspirou-se muito em Burke também, para tentar criar esse elo entre os que nos antecederam e os que ainda nem nasceram.

O “Mago de Mecosta” lutou contra a desordem crescente do mundo, seguro de que a ordem interior em cada indivíduo era o começo para uma ordem social desejável. A autodisciplina seria fundamental para a liberdade, mensagem importante na era dos apetites. Assim como seu amigo Eliot, Kirk acreditava que somente o Cristianismo poderia impedir o triunfo da barbárie. Catharino resume o ponto:

Nesse sentido, acima de qualquer outra definição, o conservadorismo kirkiano é uma disposição de caráter que nos move a lutar pela restauração e preservação das verdades da natureza humana, da ordem moral e da ordem social, legadas pela tradição, fatores que, necessariamente, levam à rejeição de todos os esquemas racionalistas apresentados pelas diferentes concepções ideológicas.

Seu conservadorismo era contra todas as ideologias, uma negação da própria ideologia, que seria uma substituta da religião. Projetos abstratos utópicos que prometem a criação de um paraíso terreno seriam os principais alvos dos ataques de Kirk. Em seu lugar, ele oferecia a “imaginação moral”, ou “a capacidade distintamente humana de conceber a pessoa como um ser moral”.

Em vez de “derrubar florestas”, o educador deveria “irrigar desertos”, plantar sementes que pudessem produzir bons frutos depois. A literatura teria essa função de transmitir valores éticos, de desenvolver o indivíduo humano, a pessoa. Uma educação liberal, uma “conversa com os mortos”, que poderia preservar o clássico, ensinar as “coisas permanentes”.

“Aprendemos com a literatura a ter aquelas percepções da natureza humana que tornam a vida digna de ser vivida”, escreve Kirk. Não é preciso ser um conservador para entender a relevância de sua mensagem no mundo moderno. Sempre haverá espaço e necessidade para aqueles cavalheiros atemporais. Kirk foi um deles.

Alex Catharino, ao se inspirar no escritor, procura seguir a mesma trilha. E é louvável respirar um ar fresco em meio à asfixia das redes sociais. Afinal, o Belo e o Bom são eternos, não passageiros como os modismos da internet.

Rodrigo Constantino

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