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Ah, como gosto de pensador corajoso e sem medo da patrulha do politicamente correto! É o caso de Theodore Dalrymple, uma das mais importantes influências recentes em minha formação intelectual. O psiquiatra britânico, ao contrário de muito “intelectual” da Academia por aí, viu in loco a pobreza gerada pelas ideias erradas da esquerda, principalmente a tal vitimização que faz dos mais pobres.

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Ao eximir o indivíduo de qualquer responsabilidade e transferir a culpa para abstrações como “as elites”, a “burguesia”, o “capitalismo”, a “globalização”, essa esquerda criou um mecanismo intelectual perverso que se retroalimenta da vitimização, preservando muita gente na miséria, refém dessa narrativa coletivista.

Seu livro A vida na sarjeta, lançado no Brasil pela É Realizações, toca nesse assunto de forma direta, sem rodeios. Ele foi resenhado por Ricardo Mioto, na Folha, e merece ser lido na íntegra. Abaixo, alguns trechos dos comentários do jornalista:

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Tal desprezo ao estudo e ao trabalho seria recente, posterior ao Estado de bem-estar social, e causada pelo comodismo, escreve o britânico: “Afinal, sempre haverá comida suficiente, um teto sobre a cabeça e uma televisão para assistir, graças às subvenções do Estado.”

Com o passar dos anos, sem nenhum conhecimento de ciência, arte ou literatura, só restará o tédio, a falta de sentido.

“Na ausência de interesses ou carreira, logo a maternidade parece uma boa escolha; só depois fica claro o quanto é aprisionante, especialmente quando o pai –de modo previsível– desaparece.”

Suas casas são imundas e descuidadas, defende Dalrymple, até porque são dadas sem nenhum encargo pelo Estado.

Como o governo parte do princípio de que o miserável nunca tem responsabilidade por sua miséria, as moradias seriam distribuídas justamente aos mais vagabundos –quem, a duras penas, se dedica a conseguir um emprego e tem sucesso na empreitada perde prioridade com os assistentes sociais, o que só reforça o incentivo à passividade.

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Claro, evitemos generalizações: há muita gente boa tentando sobreviver de forma decente em meio a tanto obstáculo criado pelo estado. A educação pública de péssima qualidade em nada ajuda. Mas essa mentalidade coletivista de vitimização da pobreza é, sem dúvida, o maior inimigo dos pobres. É ela que os coloca em posição reativa, na defensiva, enxergando fantasmas e bodes expiatórios para culparem por suas desgraças.

O discurso de consolo e conforto é covarde e, ao contrário do que parece, prejudica esses indivíduos. Exemplo comum dado por Dalrymple são as “mulheres de malandro”: ele cuidou de várias que se negavam a se implicar em seu destino trágico. Apanhavam, mas voltavam. “Ele vai mudar” ou “ele precisa de mim” eram frases comuns para quem se recusava a mudar e seguir em frente, abandonando aquele estilo de vida.

Culpar sempre os outros é mais fácil do que reconhecer sua parcela de responsabilidade nas más escolhas. Infelizmente, a esquerda é mestre em dissociar as escolhas individuais de seus efeitos, de suas consequências. É puro populismo. Seduz os piores, mas jamais ajuda a transformá-los em pessoas melhores.

Rodrigo Constantino