Deu no GLOBO:
Maestro e agora presidente da Funarte , Dante Mantovani também é youtuber. No canal Dante Mantovani, com mais de 6 mil inscritos, o novo integrante do governo costuma tirar dúvidas sobre música erudita, mas aproveita para praticar um dos esportes favoritos do YouTube: compartilhar teorias da conspiração . O canal continua no ar, ao contrário dos perfis de Mantovani em outras redes sociais, que foram excluídos na semana passada, diante do anúncio de que ele assumiria a Funarte.
Em um vídeo, por exemplo, o maestro, aluno do ideólogo de direita Olavo de Carvalho , endossa teorias de que agentes comunistas infiltrados na CIA foram responsáveis por distribuir LSD para jovens em Woodstock. O objetivo final, diz ele, seria destruir a família, vista como "base" do capitalismo.
"Existe toda uma infiltração de serviços de inteligência dentro da indústria fonográfica norte-americana que se não levarmos em conta, não vamos entender nada. A União Soviética mandou agentes infiltrados para os Estados Unidos para realizar experimentos com certos discos realizados para crianças. Esses agentes iam, se infiltravam e iam mudando, inserindo certos elementos para fazer engenharia social com crianças. Daí passaram para música para adolescentes", afirma ele, ao citar como exemplo o surgimento de Elvis Presley na década de 1950.
Na sequência, Mantovani menciona Woodstock e diz que os Beatles "colocaram em prática as ideias da Escola de Frankfurt" , que segundo ele, queria destruir a cultura ocidental.
"Woodstock foi aquele festival da década de 60 que juntou um monte de gente, os hippies fazendo uso de drogas, LSD, inclusive existem certos indícios de que a distribuição em larga escala de LSD foi feita pela CIA. Mas como pela CIA? Tinha infiltrados do serviço soviético lá", diz o maestro, para em seguida concluir:
"O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo."
Que o rock pode ser um fator de rebeldia juvenil e, com isso, gerar esgarçamento na família é algo um tanto evidente. Mas essa visão é extremamente exagerada e paranóica. O rock também serve, por seu caráter rebelde, como instrumento contra tiranias. Foi usado no Leste Europeu contra o estado totalitário comunista. É o que explico em Esquerda Caviar:
Essa ambiguidade é bem retratada quando analisamos o impacto do rock nas culturas. Roger Kimball, em The Long March, destaca a importância daquela modalidade musical na revolução cultural da nova esquerda desde os anos 1960, levando vários jovens às drogas, disseminando o ideal libertino, hedonista, liderado por bandas como os Rolling Stones e os Beatles, entre outros.
Já Tom Stoppard mostra o outro lado em sua peça Rock 'N' Roll, dedicada a Václav Havel. Stoppard, concordando com Havel, argumenta que o rock foi um ato de rebeldia contra o regime comunista na Tchecoslováquia. Jovens que não aceitavam ser manipulados pelo regime encontraram na música uma válvula de escape. Ir a um show de rock já poderia ser visto como um ato rebelde.
No Brasil, o rock era visto como submissão "imperialista", pois vinha dos Estados Unidos (pouco importa que o futebol tenha vindo da Inglaterra e se tornado a maior paixão popular). Até passeata contra a guitarra elétrica foi realizada pelos nacionalistas de esquerda, os engajados da MPB. Lobão, em Manifesto do nada na terra do nunca, reconhece o dilema:
Ser roqueiro e ser de esquerda chegou a ser um paradoxo, pelo menos nestas plagas, assim como em Cuba. Contudo, no primeiro mundo era uma conduta antiestablishment, antissistema, um comportamento pacifista de hippie e sandinista, de punk. Na verdade, na América, desde o movimento beatnik e a música folk de protesto, havia um sério engajamento de tendência socialista e antigoverno, principalmente depois do assassinato de John Kennedy, eclodindo em todo o seu esplendor na Guerra do Vietnã.
O rock pode ser protesto legítimo, ou pode ser convite às drogas. Um fato, contudo, é inegável: a rebeldia da juventude tem seu valor, mesmo que alimentada por letras e músicas que estimulem um comportamento irresponsável e imediatista. Dosar esse ímpeto rebelde, em busca de tantas certezas, com o equilíbrio da maturidade é uma arte complicada, não livre de inúmeros riscos.
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Dito isso, confesso ser roqueiro, fui baterista de cabelo longo, adoro Metallica, Dream Theater e Iron Maiden, e sempre defendi o capitalismo liberal, ao contrário do guru de Virgínia, que era comunista e hoje espalha teses conspiratórias para seduzir adeptos de seita. Até quando o governo Bolsonaro vai apostar em indicações de olavetes?
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